
Lúcia Monteiro não faz só queijo. Ela molda lembranças. À frente da marca Vaca Braba, ela comanda uma pequena agroindústria em Anastácio (MS) que virou referência regional em produtos derivados de leite, com destaque para o queijo Nikola, o carro-chefe da casa. A história começou há cinco anos, no meio da pandemia, quando a antiga marca precisou ser abandonada por conta de uma disputa judicial. A Vaca Braba nasceu de uma perda, mas cresceu com força e personalidade.

"Na época, fomos processados por uma empresa francesa que já tinha o nome registrado no Brasil. Perdemos tudo: nome, rede social, clientes", lembra Lúcia. "A vaca zangou. E virou a Vaca Braba."
O nome novo virou símbolo de resistência e autenticidade. Mais que uma mudança de marca, foi um recomeço. "A gente não vende só queijo. A gente vende uma experiência gastronômica cheia de memória afetiva. Uma lembrança da casa da avó, da beira do fogão", resume ela.
Do leite à entrega, tudo feito com as próprias mãos - Filha de pantaneiro legítimo, nascido à beira do rio Taquari, Lúcia cresceu vendo o pai ordenhar vacas e fazer queijo no sítio. A tradição familiar virou negócio de verdade quando ela decidiu profissionalizar a produção. Formada em Biologia, com mestrado em conservação da natureza, ela uniu o conhecimento científico ao amor pelo campo.
O nome novo virou símbolo de resistência e autenticidade
A Vaca Braba hoje produz queijos frescos, meia cura, muçarela em diversas formas como trançado, palito e nozinho, além de doces, como o doce de leite pastoso e o de corte, que ela chama de "rapadoria". A produção ainda é feita com o leite das próprias vacas da família. "Mas quero crescer", confessa. "A ideia é comprar leite dos vizinhos e expandir. Desde que tenham a mesma qualidade."
O maior desafio, segundo ela, é a falta de mão de obra qualificada. "Já tive funcionário que queria bater na vaca com um pau. Mandei embora na hora", conta. "A vaca leiteira é sensível. Tem dia que ela não está de bom humor e não dá leite. Você tem que entender o animal."
Uma marca sem loja, mas com muitos clientes - Sem ponto físico de venda, a Vaca Braba se apoia nas redes sociais para divulgar e vender os produtos. Lúcia faz as entregas pessoalmente em cidades como Anastácio, Aquidauana, Bonito e Campo Grande. "Solto a agenda no Instagram e as pessoas encomendam. Faço tudo com muito carinho", diz. O perfil é o @_vacabraba_.
A Vaca Braba é também a primeira agroindústria de Anastácio a obter o selo de inspeção Sincidema, que permite comercializar em 12 municípios. Agora, a meta é obter o selo Arte e o SISB, o que permitirá vender para todo o Brasil. "Vamos provocar até os mineiros", brinca.
Durante a entrevista no Festival Internacional da Carne, realizado entre os dias 19 e 21 de setembro, Lúcia lançou uma promoção especial: frete grátis para quem mencionasse que viu a entrevista. "É o nosso jeitinho de agradecer e conquistar mais clientes", diz ela, com um sorriso de quem sabe que a Vaca Braba ainda tem muito leite para dar.
