
A temporada de 2025 deixou um recado duro para o São Paulo: o elenco passou o ano inteiro lidando com desfalques e nunca esteve completo à disposição da comissão técnica. O clube registrou 49 problemas clínicos, viu titulares importantes perderem dezenas de jogos por lesão e, ao fim do ano, decidiu mexer fundo na estrutura da área de saúde e desempenho no CT da Barra Funda.
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A leitura interna foi clara: não se tratava apenas de azar. A combinação de muitas lesões, cirurgias e jogadores fundamentais fora de combate pressionou a diretoria a rever métodos, rotinas e profissionais. O resultado é uma reformulação que atinge o departamento médico, a fisiologia, a fisioterapia, a ciência do esporte, a preparação física e até áreas de apoio, com uma lista extensa de demissões e de novas contratações.
Ano com elenco desfalcado do início ao fim - Em 2025, o São Paulo conviveu com problemas físicos rodada após rodada. Em vários momentos, a equipe entrou em campo com mais de dez desfalques por questões médicas. Tanto Luis Zubeldía quanto Hernán Crespo, técnicos do Tricolor no ano, tiveram de se virar com alternativas, improvisos e um elenco constantemente remendado.
Os 49 casos clínicos registrados superaram em dois o número da temporada anterior. O clube ainda ficou longe do recorde recente da sua própria série histórica, mas a sensação dentro do CT foi de que a situação saiu do controle. Além disso, foram nove cirurgias para tratar lesões, um número alto para um único ano.
Mais do que o volume de ocorrências, a gravidade de alguns casos aumentou a pressão por mudanças. Lucas Moura, por exemplo, precisou ser operado três vezes no joelho em 2025, o que o afastou de boa parte dos compromissos do time.
Os casos de Calleri, Lucas Moura e Oscar viraram símbolo da temporada de lesões do São Paulo. Em abril, Calleri rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo e não voltou mais a campo no ano. Ao todo, o centroavante ficou fora de 45 partidas por causa da contusão, deixando uma lacuna evidente no ataque.
Lucas Moura, um dos nomes mais experientes do elenco, também sofreu com o departamento médico. Entre problemas no joelho e cirurgias, acumulou 34 jogos de ausência ao longo da temporada, pesando nas opções da comissão técnica.
Já Oscar teve um 2025 marcado por idas e vindas ao departamento médico. O meia disputou só 21 partidas, somando 1.639 minutos em campo. Sofreu três lesões na coxa, uma fratura na região lombar e uma lesão muscular na panturrilha esquerda, o que o transformou em um dos atletas que mais frequentaram o REFFIS.
Outros jogadores importantes também perderam um número elevado de jogos por contusão, como Ryan Francisco (30), Young (23), André Silva (20), Wendell (16), Luan Vinícius (15), Pablo Maia (14), Luiz Gustavo (13), Dinenno e Leandro (11 cada), além de Ferreira, Henrique, Igor Vinícius e Marcos Antônio (10 cada). A soma dessas ausências mexeu diretamente no desempenho da equipe ao longo das competições.
Oscar, que disputou 21 jogos pelo São Paulo em 2025, deve se aposentar por questões médicas. (Foto: Rubens Chiri/SPFC)Mal súbito e aposentadoria de Oscar marcam reta final - O episódio mais delicado da temporada envolveu justamente Oscar, já na preparação para 2026. Em novembro, durante exames de rotina no CT da Barra Funda, o meia sofreu um mal súbito e precisou ser levado de ambulância ao Hospital Israelita Albert Einstein, onde ficou internado na UTI.
Ele foi diagnosticado com síncope vasovagal, uma condição caracterizada por desmaios causados pela queda da pressão arterial e dos batimentos cardíacos. O problema não está ligado diretamente à prática esportiva e, por isso, não entrou na contagem das 49 lesões do clube em 2025. Ainda assim, foi o ponto final de uma temporada já limitada e de uma carreira vitoriosa: no dia 12 de dezembro, Oscar anunciou a aposentadoria.
Demissões abrem caminho para mudança estrutural - A sucessão de lesões, cirurgias e desfalques levou a diretoria a tomar medidas mais duras. Ainda em 2025, o São Paulo iniciou um processo de reformulação interna, que começou pela saída de profissionais da área de saúde e de apoio ao futebol.
Foram demitidos o fisiologista Luis Fernando de Barros e o preparador físico Adriano Titton, além de funcionários dos setores de segurança, massagem e rouparia. O recado foi o de que o clube não trataria o problema físico apenas como fatalidade, mas como um alerta para rever processos, métodos de trabalho e a própria composição das equipes nos bastidores.
Com as saídas definidas, o Tricolor partiu para o segundo passo: reforçar o SuperCT e o REFFIS Plus com novos nomes, com forte formação acadêmica e experiência em medicina esportiva, recuperação e desempenho.
Novos médicos para o departamento de futebol - Para o departamento médico, o São Paulo acertou as contratações dos doutores Hilton Lutfi e Bruno Schiefer. Lutfi é especialista em medicina esportiva e integra sociedades de ortopedia e traumatologia no Brasil e nos Estados Unidos, o que reforça a ligação com práticas atualizadas de tratamento e prevenção de lesões em atletas.
Schiefer também atua como ortopedista e traumatologista, é ligado à sociedade brasileira da especialidade e faz parte de uma associação científica internacional dedicada ao estudo e à padronização da terapia por ondas de choque extracorpóreas na medicina, além de integrar a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Joelho. A ideia é somar conhecimento técnico e experiência prática para tentar reduzir o número de vetos clínicos daqui para frente.
Reforço na fisiologia, fisioterapia e ciência do esporte - A reformulação da área de saúde não parou nos médicos. Na fisiologia, o clube fechou com Rafael Grazioli, mestre e doutor em Ciências do Movimento Humano, que recentemente foi chamado para integrar a comissão técnica da Seleção Brasileira sub-15 e sub-17. O perfil indica um profissional acostumado a lidar com alta exigência física e calendário intenso.
Na fisioterapia, três novos nomes chegam ao setor de recuperação do elenco principal: Leandro Carvalho, doutor em Ciências da Reabilitação; Gilvan Arruda, mestre em Ciências da Saúde Aplicada ao Esporte e à Atividade Física; e João Ribeiro, pós-graduado em fisioterapia esportiva. O grupo terá a missão de atuar na reabilitação e também na prevenção, em diálogo permanente com a preparação física e a fisiologia.
O São Paulo também passa a contar com o cientista do esporte Danilo Prado, pós-doutorado e doutor pela Faculdade de Medicina da USP, com mestrado em Endocrinologia e especialização em condicionamento físico voltado à prevenção cardiológica. A presença de um profissional com esse perfil reforça a aposta em monitoramento de dados, controle de cargas de treino e acompanhamento individualizado dos atletas.
Preparação física sob novo comando - Diretamente ligada ao dia a dia do elenco, a preparação física também passa por mudanças importantes. Ricardo Ferreira foi contratado para coordenar o setor. Ele é doutor em Ciências do Movimento Humano e Reabilitação e mestre em Engenharia Biomédica, combinação que o coloca no centro da ponte entre ciência, laboratório e campo.
Ao lado dele trabalhará o preparador físico Pedro Salles, que já conhece o ambiente do clube por ter atuado nas comissões técnicas das categorias sub-17 e sub-20. Em 2025, o sub-20 do São Paulo conquistou a Copa São Paulo de Futebol Júnior e a Copa do Brasil da categoria, resultados que ajudam a credenciar o trabalho feito na base e agora levado ao elenco principal.
Estrutura de apoio também é reforçada - A comissão técnica também ganha novos nomes em funções específicas, mas importantes na rotina de um clube de alto rendimento. Formada em podologia e com mais de 13 anos de experiência clínica, Gabriela Barboza passa a integrar o staff são-paulino, ajudando no cuidado com os pés dos atletas, ponto crucial para prevenir dores e sobrecargas.
Na área de massagem, o comando será de Thyago Souza, formado em enfermagem e com mais de dez anos de experiência no futebol. Ele assume a coordenação do setor, que contará ainda com o massagista Francisco Gregorio. Esses profissionais são parte do dia a dia dos jogadores na preparação para treinos e jogos e na recuperação pós-partida.
Objetivo é ter mais time em campo em 2026 - Depois de uma temporada em que o departamento médico ganhou destaque indesejado, o São Paulo tenta transformar o problema em ponto de virada. A contratação de novos médicos, fisiologistas, fisioterapeutas, cientistas do esporte e preparadores físicos é a resposta do clube a um 2025 de 49 lesões, nove cirurgias e muitos desfalques.
A meta é simples na teoria e complexa na prática: ter mais jogadores aptos, por mais tempo, ao longo da temporada. A partir de 2026, a atuação desse novo grupo de profissionais será observada de perto por diretoria, comissão técnica e, principalmente, pela torcida, que espera ver o Tricolor menos dependente do departamento médico e mais protagonista dentro de campo.

