
Dois jogadores do elenco profissional do São Paulo utilizaram Mounjaro, popularmente conhecido como "caneta emagrecedora", ao longo da temporada 2025. O clube confirmou o uso, mas tratou a repercussão como “leviana” e negou qualquer ligação entre os tratamentos e o elevado número de lesões registradas durante o ano.
Segundo nota oficial, os medicamentos foram prescritos individualmente, com acompanhamento médico e dentro das normas vigentes. “Foram realizados tratamentos médicos individualizados, indicados de forma pontual após avaliações clínicas criteriosas em apenas dois atletas”, declarou o clube. O São Paulo classificou como “desonesta” a tentativa de associar os casos ao alto número de jogadores no departamento médico.
A temporada terminou com número recorde de desfalques por lesão, levando a uma reestruturação no setor médico. Internamente, o clube reconhece que o departamento ficou defasado e agora busca inovação e modernização.
O que dizem os especialistas?
Embora o Mounjaro (tirzepatida) seja aprovado pela Anvisa para controle glicêmico e, mais recentemente, para emagrecimento, seu uso em atletas de alto rendimento requer cuidado extremo.
“O problema não é o remédio em si, mas como ele é usado. Sem controle adequado de proteína, reposição nutricional e treinamento, pode haver perda de massa magra e aumento do risco de lesão muscular”, alerta a endocrinologista e nutróloga Marcela Perigrino, da Laiffe Clinic.
A médica destaca que a perda muscular rápida pode comprometer força, estabilidade e recuperação física. O nutrólogo Murillo Monteiro, da Beneficência Portuguesa, reforça que a adaptação metabólica pode ocorrer, especialmente em quem já tem baixo percentual de gordura, como atletas.
“O corpo pode preservar gordura e usar músculo como fonte de energia, afetando o desempenho e aumentando o risco de lesões musculotendíneas”, explica Monteiro.
“Conseguimos preservar massa muscular”, diz nutrólogo do clube
O responsável pelas prescrições no São Paulo, Eduardo Rauen, afirmou que o uso dos medicamentos foi bem-sucedido: os atletas apresentaram perda de gordura, melhora da massa magra e não tiveram efeitos colaterais relevantes. Ele defende que o tratamento seguiu todos os protocolos e teve foco na saúde dos jogadores.
“Os dados mostram que os atletas conseguiram perder peso corporal, diminuir o percentual de gordura e melhorar a massa muscular”, afirmou Rauen ao UOL.
Canetas emagrecedoras: como funcionam?
Originalmente voltadas para o tratamento de diabetes tipo 2, as canetas como Mounjaro aumentam a saciedade e reduzem o apetite, desacelerando a digestão. O uso para emagrecimento só foi aprovado no Brasil em junho de 2025, restrito a pacientes com IMC acima de 27 kg/m² e comorbidades relacionadas ao peso.
A OMS reconhece os benefícios desses medicamentos no combate à obesidade, mas alerta: devem ser combinados com mudanças de estilo de vida — o que, para atletas, inclui treinamento de força, controle nutricional rigoroso e acompanhamento médico especializado.

