
O Conselho Deliberativo do Corinthians se reúne nesta segunda-feira (25) para definir quem comandará o clube até o fim de 2026, após a destituição de Augusto Melo. A votação será restrita a aproximadamente 300 conselheiros — entre eleitos e vitalícios — e marcará o início de um novo ciclo em um dos períodos mais conturbados da história recente do clube.

Três candidatos concorrem ao chamado mandato-tampão: o atual presidente interino Osmar Stábile, o conselheiro vitalício e figura tradicional da política do clube Roque Citadini, e André Castro, nome que surpreendeu ao prometer um fundo de US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões) para reestruturar o Corinthians.
Diferente do que ocorre em eleições regulares, o pleito desta segunda-feira não contará com a participação dos sócios do clube. Apenas os membros do Conselho Deliberativo eleitos em 2023 e os conselheiros vitalícios têm direito a voto. Para se candidatar, é preciso estar em segundo mandato como conselheiro ou ser vitalício.
Osmar Stábile busca a continuidade no comando
Favorito entre os conselheiros, Osmar Stábile assumiu a presidência interinamente em maio, após o afastamento de Augusto Melo. Empresário do setor metalúrgico, ele foi eleito vice na mesma chapa de Melo, mas rompeu com o ex-presidente ao denunciar o distanciamento da cúpula na tomada de decisões.
Desde que assumiu o cargo, Stábile optou por atuar nos bastidores. Defende que a gestão precisa ser retomada com disciplina e foco financeiro, reforçando que não há espaço para promessas irreais. "Estamos organizando o clube de baixo para cima. O Corinthians é uma caixa d’água com vários furos, e estamos tampando esses furos", afirmou em entrevista coletiva no fim de julho.
Ele conta com o apoio de conselheiros influentes como Fran Papaiordanou, Paulo Garcia, Antonio Rachid e Miguel Marques. No campo financeiro, tenta negociar R$ 60 milhões em adiantamento com a Liga Forte União para aliviar o caixa. Ainda assim, não conseguiu evitar o transfer ban imposto pela Fifa por uma dívida de R$ 33 milhões com o Santos Laguna pela compra do zagueiro Félix Torres.
André Castro e a promessa bilionária
Com pouco histórico político dentro do clube, André Castro ganhou notoriedade ao apresentar uma proposta ousada: um fundo de até US$ 1 bilhão para abater dívidas e investir no futebol. Ele apresentou uma carta de intenção assinada pelo GSP Banco de Fomento Mercantil Ltda., que demonstrou interesse em formalizar a parceria caso ele vença a eleição.
Sócio do clube desde 1996 e assessor da Alta Vista Investimentos, Castro afirma que o projeto teria como prioridade quitar a dívida da Neo Química Arena e viabilizar o uso comercial do nome do estádio e do CT Joaquim Grava. Segundo ele, cerca de R$ 400 milhões seriam suficientes para resolver a maior parte do passivo com a Caixa Econômica Federal.
Apesar da promessa, a proposta gerou desconfiança entre parte dos conselheiros. Até então visto como "azarão", Castro tenta conquistar votos de membros independentes e de vitalícios mais abertos a novos modelos de gestão. Ele também se posiciona contra a implantação de uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) no clube.
"Temos força e patrimônio. Não precisamos abrir mão da nossa identidade", defende. Para ele, o presidente do Corinthians deve comandar tanto o futebol quanto o clube social.
Citadini volta à cena após aposentadoria
Figura tradicional da política alvinegra, Roque Citadini retorna à disputa presidencial após se aposentar do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), onde era presidente. Sua candidatura ganhou força com o apoio da ala ligada a Andrés Sanchez, que não lançou candidato próprio.
Vice-presidente do clube no início dos anos 2000, Citadini é um nome conhecido no ambiente político do Corinthians. Em entrevista ao Estadão, afirmou que a atual situação do clube é "insustentável" e criticou a gestão interina de Stábile. "Se as ações irão falar por ele, nada será dito", disparou, em referência ao silêncio do presidente interino durante o período eleitoral.
Com um perfil conservador, Citadini também se opõe ao modelo de SAF e defende maior participação da torcida nas próximas eleições. Ele propõe que membros do Fiel Torcedor tenham direito a voto para a presidência. Caso não seja eleito, disse que encerrará sua trajetória política no clube, sem voltar a atuar como conselheiro.
O pleito desta segunda-feira é resultado direto da crise institucional enfrentada pelo Corinthians em 2025. Augusto Melo, eleito em 2023, foi afastado após denúncias que culminaram em seu impeachment. Ele responde por crimes como associação criminosa, lavagem de dinheiro e furto qualificado.
A nova gestão — seja ela comandada por Stábile, Castro ou Citadini — terá o desafio imediato de lidar com um clube que vive problemas financeiros, tem dificuldades para registrar jogadores e precisa resgatar a confiança da torcida e da comunidade corintiana.
Apesar de discursos distintos, os três candidatos rejeitam a ideia de transformar o Corinthians em SAF. A disputa agora gira em torno de qual proposta terá mais respaldo dos conselheiros para colocar o clube de volta nos trilhos.
