
As tensões entre os clubes que compõem a Libra, liga que organiza a negociação coletiva dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, voltaram a crescer após declarações do presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o Bap. Em entrevista ao portal UOL nesta quarta-feira (15), o dirigente acusou o bloco de favorecer o Palmeiras e questionou a condução do modelo de divisão de receitas acertado com a TV Globo.

Segundo Bap, o Flamengo jamais teria concordado com a criação da Libra se soubesse que o grupo seria, em suas palavras, "todo verde" e "palmeirense". Ele criticou a influência do clube paulista dentro da liga e apontou o advogado André Sica como exemplo de suposta proximidade com o Palmeiras.
“A Libra é verde. A Libra é toda verde. A Libra é palmeirense. O André Sica é advogado do Palmeiras. Virou advogado de outros clubes. Ele advoga para outros clubes que estão na Libra”, afirmou. Procurado, Sica negou a afirmação e disse trabalhar com mais de 30 clubes no Brasil, além de afirmar que sua família nunca teve vínculo com o clube paulista.
A entrevista também foi marcada por críticas à presidente do Palmeiras, Leila Pereira, que recentemente ironizou o Flamengo, chamando os dirigentes rubro-negros de “terraflanistas” e cogitando a possibilidade de o clube carioca disputar competições de forma independente.
Bap rebateu as declarações e as classificou como “infantis”. Ele afirmou que o Flamengo nunca cogitou sair da Libra e que segue comprometido com a ideia de uma liga forte, mas com regras de distribuição mais equilibradas.
“O Flamengo quer ficar na Libra. Nunca discutiu sair. Muito antes dos outros, o Flamengo defendeu a Lei do Mandante, que trouxe recursos importantes para os clubes”, disse o dirigente.
O ponto mais sensível da disputa está na forma como os valores dos direitos de transmissão são repartidos. Em 2024, a Libra assinou contrato com a TV Globo até 2029, com valor anual de R$ 1,17 bilhão, além de receitas do Premiere. A divisão foi definida da seguinte forma: 40% igualmente entre os clubes da Série A, 30% por performance no campeonato e 30% por audiência.
O Flamengo se opõe ao modelo, alegando que a fatia baseada em audiência não reflete o verdadeiro potencial de geração de receita do clube. Em uma entrevista anterior à FlaTV, Bap chegou a afirmar que não aceitaria receber apenas “três vezes mais” que equipes menores.
O desacordo chegou ao Judiciário. O Flamengo conseguiu na Justiça o bloqueio de um repasse de R$ 77 milhões destinado aos clubes da Libra, referente ao Campeonato Brasileiro de 2025. O valor seria a segunda parcela paga pela Globo aos clubes. A primeira, de R$ 76,6 milhões, foi feita em julho deste ano. Ainda restam mais duas parcelas.
O Palmeiras estuda ingressar com ação judicial para ter acesso aos recursos e acusa o Flamengo de tentar desequilibrar o acordo coletivo. Nos bastidores, já se discute a possibilidade de excluir o clube carioca da Libra, em razão das disputas públicas e jurídicas.
Além da disputa técnica, as relações entre os presidentes também se deterioraram. Bap afirmou que a relação com Leila Pereira era boa até recentemente, mas que se tornou difícil quando surgiram divergências. “Ela é ótima quando você concorda com tudo que ela quer”, ironizou.
Sobre o São Paulo, outro clube que se opôs ao Flamengo nas negociações, Bap disse ter uma relação pessoal cordial com o presidente Julio Casares, mas reconheceu que houve "estresses pontuais".
Clubes que integram a Libra atualmente
O bloco da Libra é formado por Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Santos, Atlético-MG, Grêmio, Bahia, Red Bull Bragantino, Vitória, Guarani, Brusque, Sampaio Corrêa, Paysandu, Remo, ABC e Volta Redonda.
Com o crescimento das divergências e o clima de instabilidade, o futuro da Libra permanece incerto. A manutenção da unidade entre os clubes dependerá de novos acordos que equilibrem interesses comerciais e esportivos em um ambiente de negociações cada vez mais complexo.
