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SEGURANÇA NO ESPORTE

Chuva e segurança: F1 busca soluções para melhorar a visibilidade e evitar riscos em pistas molhadas

A demora no início do GP da Bélgica reacende o debate sobre a cautela excessiva da FIA e a dificuldade de resolver o problema da cortina de água nos circuitos molhados.

1 agosto 2025 - 10h35Rodrigo Sampaio
GP da Bélgica de F1 foi marcado por chuva e corrida teve início atrasado.
GP da Bélgica de F1 foi marcado por chuva e corrida teve início atrasado. - (Foto: Geert Vanden Wijngaert/AP)

O Grande Prêmio da Bélgica de Fórmula 1 no último domingo, 30 de julho, ficou marcado por um atraso devido à forte chuva, gerando críticas de pilotos e espectadores sobre o excesso de cautela por parte da Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Max Verstappen, tetracampeão mundial e líder da Red Bull, foi um dos mais vocais, afirmando que os fãs da categoria já não veriam mais "corridas clássicas". No entanto, por trás da decisão da FIA de adiar a largada está um fator crucial: a segurança dos pilotos, principalmente devido à baixa visibilidade causada pelo spray da chuva.

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Em um primeiro momento, pode-se pensar que o risco em uma pista molhada está no potencial dos carros derraparem devido à falta de aderência. Contudo, o verdadeiro problema está na visibilidade limitada, uma consequência do spray levantado pelos pneus ao canalizar a água da pista.

Desde 2022, a Fórmula 1 reintroduziu o princípio aerodinâmico do efeito solo, que já era utilizado nos anos 70. Esse design permite que os carros “grudem” no chão em altas velocidades, criando uma força descendente significativa. O objetivo é aumentar as ultrapassagens, canalizando o fluxo de ar de forma a reduzir a turbulência e permitindo que os carros sigam mais de perto uns aos outros.

No entanto, em condições de chuva, essa configuração de design acaba criando um novo desafio: o carro canaliza a água para fora por trás com grande força, formando uma "cortina" de água que dificulta a visibilidade dos pilotos que vêm logo atrás. O efeito é tão forte que impede que os competidores vejam o que está à sua frente, aumentando o risco de acidentes.

Os pneus de chuva de 18 polegadas, que são utilizados atualmente, são capazes de deslocar mais de 85 litros de água por segundo a 300 km/h, mas o aumento de sua largura e diâmetro desde 2017 também intensificou o problema do spray. Com 405mm de largura, comparado aos 325mm anteriores, a maior área de contato com a pista gera uma maior quantidade de água levantada, resultando em uma visibilidade reduzida muito mais significativa do que em tempos passados.

O GP da Inglaterra deste ano exemplificou a gravidade dessa situação. Durante a prova, o jovem piloto Isack Hadjar, da Racing Bulls, teve seu desempenho comprometido pela cortina de água, resultando em uma colisão com o carro de Kimi Antonelli, da Mercedes.

Além da visibilidade prejudicada, outro perigo significativo em pistas molhadas é a aquaplanagem. Quando a água na pista acumula mais rápido do que os pneus conseguem drenar, os carros podem "flutuar" sobre uma camada de água, perdendo completamente o contato com o solo e dificultando o controle do veículo. Essa situação é particularmente perigosa, uma vez que os carros de F1 não possuem sistemas de assistência como ABS ou controle de tração, que são comuns em carros de passeio.

Apesar das críticas de pilotos como Max Verstappen sobre a demora e a excessiva cautela da FIA, a entidade não deve mudar sua postura e continuará priorizando a segurança dos pilotos. George Russell, da Mercedes, foi enfático ao afirmar que seria "estupidez" dirigir a mais de 320 km/h com baixa visibilidade em circuitos como o de Spa-Francorchamps, na Bélgica, um dos mais desafiadores da F1, que já registrou acidentes fatais.

Charles Leclerc, da Ferrari, também defendeu a postura da FIA, destacando a importância de se respeitar a segurança dos pilotos. “Em uma pista como essa, com o que aconteceu historicamente, você não pode esquecer. Por essa razão, prefiro estar seguro do que começar muito cedo”, disse o monegasco após o GP.

A FIA tem buscado soluções para diminuir o volume de spray e melhorar a visibilidade dos pilotos durante as corridas em condições de pista molhada. Em 2023 e 2024, a entidade testou protetores de rodas nos carros, com o objetivo de reduzir o spray. No entanto, os resultados foram "muito abaixo do esperado", não mostrando diferença significativa. A conclusão da FIA foi de que a maior parte da cortina de água se origina do assoalho do carro, sendo expelida pelo difusor traseiro, o que impossibilita uma solução rápida.

A entidade descartou a possibilidade de cobrir o difusor, pois isso afetaria drasticamente a aerodinâmica dos carros e reduziria a estabilidade nas curvas. Por ora, a melhor solução encontrada para minimizar o problema é a redução do efeito solo e a adoção de pneus mais estreitos.

A F1 já planeja mudanças no design dos carros para 2026, com a expectativa de que a chuva deixe de ser um problema tão significativo. As modificações incluem a redução do tamanho dos difusores e a diminuição do efeito solo, o que deve resultar em uma redução considerável do spray gerado pelos carros. Além disso, os pneus mais estreitos também devem ajudar a controlar a quantidade de água levantada, melhorando a visibilidade e segurança.

Apesar dessas mudanças, os carros de F1 continuarão gerando força descendente, e, portanto, medidas de precaução como a condução sob o safety car e eventuais atrasos no início das provas em condições de chuva devem continuar a ser adotadas.

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