
Na manhã de uma segunda-feira comum para a maioria, Yeltsin Jacques, acompanhado de seu guia fiel, Guilherme Ademilson dos Santos, pisou na pista de Paris com a confiança de quem já venceu desafios maiores. Correndo na classe T11, para atletas com deficiência visual, Yeltsin não apenas garantiu seu lugar na final dos 1.500 metros, mas fez isso com estilo: 4 minutos, 3 segundos e 22 centésimos – sua melhor marca na temporada.

Para quem não conhece Yeltsin, ele é o tipo de atleta que transforma cada prova em uma narrativa épica. Nascido em Mato Grosso do Sul, ele surgiu no cenário internacional como um daqueles talentos que aparecem de tempos em tempos, capaz de desafiar as probabilidades. Em Tóquio 2020, ele não apenas ganhou o ouro nos 1.500 metros, mas também mostrou que, mesmo com as adversidades, há uma beleza particular na forma como ele compete: uma corrida pela linha de chegada que é tanto física quanto emocional.
Uma corrida pela consagração - Mas o que realmente está em jogo em Paris? Para Yeltsin, esta final dos 1.500 metros é mais do que uma corrida pelo ouro. É a oportunidade de reafirmar o que ele mostrou ao mundo em Tóquio e em tantos outros pódios: que o esporte pode transcender suas próprias fronteiras. A presença de Yeltsin em Paris é um lembrete de que a luta pela excelência não é apenas sobre vencer, mas sobre enfrentar desafios que vão além da pista.
Yeltsin corre com Guilherme ao seu lado, um guia que não é apenas um parceiro de corrida, mas um elo crucial em sua performance. Juntos, eles formam uma unidade que precisa estar em perfeita sintonia para que cada passo seja dado com precisão. A margem de erro é mínima, e qualquer desacerto pode custar o ouro. Hoje, eles cruzaram a linha de chegada com três segundos de vantagem sobre o segundo colocado, o etíope Yitayal Silesh Yigzaw. É uma vitória significativa, mas o verdadeiro teste está reservado para amanhã, na final.
O peso do passado e o brilho do futuro - No entanto, Yeltsin não está sozinho na busca por glória em Paris. Outros atletas brasileiros também têm brilhado. Na mesma segunda-feira, Claudiney Batista dos Santos venceu o lançamento de disco, e Elizabeth Rodrigues Gomes conquistou a prata no arremesso de peso feminino. Esses triunfos colocam o Brasil em uma posição respeitável no quadro de medalhas, reforçando o espírito de equipe que permeia os Jogos.
Para Yeltsin, o momento é agora. Com uma trajetória que já inclui duas medalhas de ouro em Tóquio, três ouros em Jogos Parapan-Americanos e outras conquistas em Mundiais, ele sabe que cada vitória é também uma luta para manter-se no topo. O bronze nos 5.000 metros, conquistado na última sexta-feira, foi apenas uma parte do seu caminho em Paris. Agora, tudo converge para a final dos 1.500 metros, onde ele tentará mais uma vez subir ao degrau mais alto do pódio.
Amanhã, tudo ou nada - Às 4h da manhã, horário de Mato Grosso do Sul, a final dos 1.500 metros acontecerá. O mundo assistirá, mas para Yeltsin, é só mais uma corrida – embora carregue o peso de uma carreira inteira. A transmissão será feita pelo canal oficial dos Jogos Paralímpicos no YouTube, e aqueles que se levantarem cedo para assistir terão o privilégio de ver um atleta que não corre apenas com as pernas, mas com o coração.
