
Campo Grande ouviu na noite desta sextafeira (19) algo que, há alguns anos, parecia improvável: um Operário mirando o futuro com ambição calculada, estrutura e propósito. No “Happy Hour do Galo”, evento em que se misturaram conversa leve, entrevistas e clima de expectativa, o clube apresentou seu elenco, a comissão técnica e colocou em circulação uma ideia que tenta ressignificar seu lugar no futebol brasileiro. A palavra de ordem agora é outra: sustentabilidade.
O Operário Futebol Clube, fundado em 21 de agosto de 1938 por trabalhadores da construção civil em Campo Grande, viveu décadas de glórias, dificuldades e reviravoltas. Foi protagonista no cenário regional com 14 títulos sulmatogrossenses, ídolo de uma torcida que viu o Galo conquistar vitórias e, por vezes, enfrentar severos tropeços. Em 2025, essa história ganhou um novo capítulo com a transformação em Sociedade Anônima de Futebol (SAF), aprovada por unanimidade pelo Conselho Deliberativo. Era o momento de combinar tradição com gestão profissional.

No centro do auditório, cercado por dirigentes, conselheiros e jornalistas esportivos, o presidente Eduardo Maluf falou sem pressa, com convicção e sem soluções prontas, mas com um roteiro claro de prioridades. “Estamos construindo uma base financeira sustentável, firmando parcerias sólidas, atraindo patrocinadores e oferecendo grandes experiências aos nossos torcedores”, disse ele, olhando para o futuro. Esse futuro, segundo ele, está ancorado em mais do que contratos, está ancorado na confiança.
O presidente do Operário SAF, Eduardo Maluf, conversa com convidados durante o “Happy Hour do Galo”, evento que reuniu dirigentes, atletas e torcedores.
Quando tradição encontra profissionalização - O Operário, agora como SAF, mostrou um elenco de 24 atletas que combina experiência e ambição: nomes como Jonas, conhecido por passagens por Flamengo e Bahia; Lucas Covolan, que retorna ao futebol brasileiro após mais de 10 anos na Inglaterra e na Espanha; e Matheus Galdezani, meia com história nas Séries A e B. Todos eles não foram apresentados apenas como peças em um tabuleiro, mas como protagonistas de um projeto que vê na profissionalização da gestão um passo essencial para competir fora do Estado.

No comando técnico está Paulo Massaro, com passagem por equipes como CRACGO e ConfiançaSE. Foi ele quem ouviu Jonas dizer, com apreço e realismo, o que o levou a aceitar o projeto: “O que me interessou aqui foi ver que é um projeto grandioso. O Operário é um clube grande, estava adormecido, e agora vamos reorganizar o clube para alcançar nossos objetivos em 2026”. A ambição de Jonas não é retórica: ela se traduz na vontade de disputar a Série D, buscar o acesso à Série C, lutar por títulos no Estadual e evoluir nas copas nacionais.
Covolan, por sua vez, abriu mão de uma carreira consolidada no exterior para estar ali. “Nunca planejei retornar, mas o projeto do Operário me chamou atenção. Desde a primeira conversa me senti acolhido”, afirmou ele, destacando a sensação de propósito que encontrou no clube recémtransformado.
Painel institucional exibe patrocinadores, parceiros e o slogan “Garra, Amor & Tradição”, reforçando o reposicionamento de marca do Operário na era SAF.
Torcida incluída no plano de voo - O que liga muitas histórias de clubes ao imaginário coletivo é, acima de tudo, sua torcida. Foi pensando nisso que o Operário lançou o programa de SócioTorcedor “Galo da Massa”. São três planos pensados para diferentes perfis de torcedores, cada um com benefícios que constroem uma relação mais direta entre o clube e seu público:
- Garra (R$ 19,90): meiaentrada nos jogos, clube de vantagens e 10% de desconto em produtos oficiais.
- Amor (R$ 49,90): acesso livre aos jogos em casa, participação em coletivas, sorteio de camisas e 15% de desconto em produtos.
- Tradição (R$ 89,90): acesso livre aos jogos com direito a acompanhante, participação em coletivas e treinos agendados, além de 20% de desconto em itens do clube.
É fácil perceber que, mais do que planos de assinatura, tratase de uma tentativa de reaproximar o torcedor e fazer dele parte de um projeto maior, que não cabe só nos gramados.

Entre o passado e o futuro - A história do Operário é rica em episódios que ultrapassam as quatro linhas. Em 1977, sob o comando de Carlos Castilho, o clube chegou ao terceiro lugar no Campeonato Brasileiro, um feito que ecoa na memória dos torcedores, assim como conquistas internacionais, como a President’s Cup da Coreia do Sul em 1982. Ainda assim, os anos 2000 e 2010 trouxeram desafios financeiros e quedas de desempenho que exigiram uma nova abordagem.
Com a chegada do modelo SAF e a experiência empresarial de Maluf, o clube busca transcender a visão tradicional de time regional e se posicionar como um projeto sustentável e profissionalizado. A temporada de 2026 trará desafios grandes, com disputas no Campeonato SulMatoGrossense, Copa do Brasil, Copa Verde e Série D do Brasileiro. A expectativa é de um calendário intenso, exigente e repleto de oportunidades.
Enquanto isso, outra questão que ronda o cotidiano do futebol em Campo Grande é a situação do Estádio Morenão. Fechado desde abril de 2022, o tradicional palco de clássicos e grandes encontros esportivos aguarda uma revitalização que já se estende por anos. A expectativa é que um acordo entre o Governo do Estado e a UFMS seja finalizado até o início de 2026, potencialmente permitindo sua reabertura em um futuro próximo, o que ampliaria as possibilidades de público e atrairia mais investimentos ao futebol local.

