
Em fim de temporada e cercado de críticas, Anthony Joshua volta ao ringue nesta sexta-feira, em Miami, para enfrentar o youtuber norte-americano Jake Paul em um combate de oito rounds de três minutos. A luta, com luvas de dez onças e limite combinado de 245 libras (111,1 kg), será transmitida pela Netflix a partir das 22h (horário de Brasília).
Joshua, campeão olímpico e duas vezes detentor do título mundial dos pesos pesados, pesou 243,4 libras (110,4 kg), enquanto Jake Paul acusou 216,6 libras (98,2 kg), bem abaixo do rival.
Os valores oficiais das bolsas não foram divulgados, mas a imprensa britânica, como o Daily Mail, fala em pelo menos US$ 92 milhões (cerca de R$ 508 milhões) para cada lutador. Em novembro, o próprio Paul chegou a afirmar, em postagem no X, que o montante poderia chegar a US$ 267 milhões.
Apesar do apelo comercial, o duelo é tratado por parte da imprensa especializada como desnecessário, desigual e até perigoso. A diferença de nível técnico e de experiência é apontada como motivo de preocupação, e poucos acreditam que o influenciador tenha reais chances contra o britânico. O atual campeão mundial Oleksandr Usyk, por exemplo, admitiu temer que o americano possa “morrer” no ringue.
Conhecido mais pelo entretenimento do que pela carreira no boxe, Jake Paul, de 28 anos, soma 12 vitórias (sete por nocaute) e apenas uma derrota, mas com um cartel pouco respeitado pelos puristas da modalidade. Seus principais triunfos foram sobre ex-estrelas do MMA já aposentadas, como Anderson Silva, Tyron Woodley e Nate Diaz. Ele também enfrentou Tommy Fury e Julio Cesar Chávez Jr., únicos boxeadores profissionais de ofício com quem dividiu o ringue, com uma derrota e uma vitória nesse recorte.
Em novembro de 2023, Paul venceu Mike Tyson, aos 58 anos, em um combate de oito rounds de dois minutos decidido nas papeletas, resultado que lhe deu enorme exposição, mas pouca credibilidade esportiva.
Mesmo assim, o youtuber fala alto antes de encarar Joshua. “Vou com tudo. Vou dar um espetáculo para os fãs. Vou para a guerra. Quero os melhores e mais fortes golpes de Joshua. Não quero desculpas. Vamos nos matar um ao outro. Depois desta luta, estarei pronto para disputar o título mundial”, afirmou.
Do outro lado, Joshua tenta se recolocar no topo da divisão depois de uma fase irregular. Medalhista de ouro em Londres-2012, o britânico, de 36 anos, tem 28 vitórias (25 nocautes) e quatro derrotas. Ele vem de nocaute sofrido para o também britânico Daniel Dubois, em setembro do ano passado, e tem um acordo ainda não assinado para enfrentar Tyson Fury em setembro do ano que vem, na Arábia Saudita, desde que ambos vençam as lutas intermediárias.
Em março do ano passado, Joshua já havia encarado outro nome vindo do MMA, o nigeriano Francis Ngannou, a quem nocauteou ainda no segundo assalto. Agora, repete a fórmula contra um adversário de fora da elite do boxe, o que motivou críticas de torcedores e analistas.
Joshua, porém, afirma que enxerga o combate como uma espécie de missão. “Parece que estou sendo chamado para salvar os pugilistas, os puristas do boxe. As pessoas não gostam do fato de eu estar lutando contra o Jake. Se isso me preocupa ou não, é outra questão. Se olharmos para as pessoas que não me querem aqui, mas querem que eu acabe com o Jake Paul, eu entendo. É por isso que tenho que carregar o boxe nas costas com esta luta.”
Tyson Fury não perdeu a chance de provocar o rival. O campeão britânico lembrou que Paul já foi derrotado por seu irmão Tommy e atacou Joshua em declaração dura: disse que o adversário está no “fim da carreira”, o chamou de “perdedor sem classe” e afirmou que mal pode esperar para ver o youtuber nocauteá-lo.
Fury e Joshua têm o primeiro trimestre de 2026 reservado para voltarem ao ringue, em lutas separadas. Se ambos vencerem seus compromissos, a previsão é que finalmente se enfrentem em setembro, na Arábia Saudita. Até lá, Joshua terá de lidar com o julgamento da crítica e com o risco esportivo — ainda que considerado pequeno — de encarar um rival que muitos veem como intruso em um dos palcos mais perigosos do esporte.

