
A entidade Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro) entrou com uma ação civil pública na Justiça do Rio de Janeiro contra o Flamengo, acusando o clube de racismo institucionalizado e omissões corporativas no combate à discriminação racial. A ação, registrada em 21 de agosto, pede uma indenização de R$ 100 milhões. O clube foi procurado, mas ainda não se pronunciou.

A ação foi motivada por declarações do diretor da base do Flamengo, Alfredo Almeida, que em julho de 2025 afirmou que "a África tem valências físicas", enquanto "a parte mental está em outras zonas da Europa", em um comentário considerado racista e eugenista. Além disso, a Educafro critica a postura do presidente Luiz Eduardo Baptista, o "Bap", que em março de 2025 considerou "adequado" o discurso do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, que minimizou a questão do racismo nos estádios.
Outras acusações incluem a recusa do Flamengo em assinar um manifesto antirracismo proposto pela Liga do Brasil (Libra) e o histórico de racismo, velado e explícito, na história do clube. A Educafro cita ainda a subvalorização de ídolos como Adílio e Andrade, figuras negras importantes na história do Flamengo.
Frei David, diretor-presidente da Educafro, afirmou que a ação não tem apenas um caráter jurídico, mas também pedagógico. Ele ressaltou que a entidade seguirá com ações similares contra outros clubes, caso se repitam casos de racismo. “A luta contra o racismo no futebol não pode ser apenas simbólica, com faixas e frases. Temos que ir além disso”, disse ele.
A Educafro também baseia sua ação no Decreto nº 10.932/2022, que promulgou a Convenção Interamericana Contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância, que foi incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro com status de emenda constitucional. A Convenção exige a implementação de planos de inclusão por órgãos públicos, empresas privadas e meios de comunicação.
A entidade alega que o Flamengo violou dispositivos constitucionais que promovem a igualdade racial, e que a indenização, se concedida, será administrada pelo Ministério Público e destinada a projetos voltados para a comunidade afro-brasileira. O valor pode ser utilizado para financiar bolsas de futebol, moradia, alimentação e apoio a estudantes de universidades públicas e do Prouni.
