
O ex-presidente do Corinthians, Duílio Monteiro Alves, se pronunciou publicamente após a revelação de supostos gastos pessoais pagos com recursos do clube durante sua gestão. Em um período de apenas 36 dias, foram registradas 176 compras com valores que somam R$ 86.524,62, cobrindo itens como alimentos, bebidas alcoólicas, medicamentos para disfunção erétil, ração animal, flores, bijuterias e até cachorro de pelúcia.

Duílio contestou veementemente as informações em entrevista ao jornalista André Hernan. Ele alegou que não há nenhuma comprovação de que as despesas foram feitas ou autorizadas por ele. “Existe uma confusão muito grande, muita gente dizendo que foram gastos feitos por mim. É bom deixar claro que não existe nenhuma nota, nenhuma assinatura, nenhuma aprovação e compras no meu nome", afirmou o ex-dirigente.
Segundo ele, a planilha que embasa as denúncias seria apócrifa e não corresponde aos controles internos do clube. "Existe uma planilha que eu desconheço de onde surgiu. Não é um controle interno do clube e existe também algumas coisas que a gente já conseguiu, no dia de hoje com essa correria toda, verificar que não são verdadeiras", completou.
O conteúdo da planilha traz uma lista variada de itens, que vão desde compras em supermercados até produtos pouco usuais em uma prestação de contas institucional. Entre eles, aparecem cerveja, picanha, sorvetes, frutas, legumes, água sanitária, detergentes, pizzas, doces, isqueiros, amaciante, além de gastos com flores, bijuterias e medicamentos íntimos.
A diversidade dos produtos aumentou a repercussão do caso entre os torcedores e gerou mais desconfiança em relação à gestão de Duílio, que deixou a presidência no fim de 2023. A planilha com os gastos teria sido acessada e publicada após análise do atual corpo administrativo e de membros do Conselho Deliberativo.
Para o ex-presidente, o momento da divulgação não é coincidência. Segundo ele, há uma tentativa de desviar o foco do processo de impeachment que tramita contra o atual presidente, Augusto Melo. “Nós temos, infelizmente, um impeachment para acontecer e ser confirmado pelos sócios do Corinthians, por casos muito graves", afirmou.
Duílio classificou a denúncia como uma "cortina de fumaça". “Está muito claro que nesse momento isso é uma grande cortina de fumaça porque não tem nenhum fundamento”, reforçou.
Embora tenha reconhecido que qualquer irregularidade precisa ser combatida, independentemente do valor, o ex-dirigente alega que os gastos atribuídos à sua gestão estão sendo usados como instrumento político. “Se existe coisa errada, existe coisa errada com R$ 1, com R$ 100, com R$ 1 mil, com R$ 1 milhão. Coisa errada tem que ser combatida.”
Durante a entrevista, Duílio também aproveitou para fazer um desabafo sobre a pressão que diz estar sofrendo desde que deixou o cargo. “Eu estou cansado, faz um ano e meio que eu estou apanhando: já fui acusado de colocar câmeras escondidas na presidência, fiz BO, fiz ofício, nada foi provado e nada foi encontrado. O inquérito foi encerrado.”
Ele ainda rebateu outras acusações que surgiram nos bastidores do clube. “Já fui acusado de ter comprado 15 carros de luxo blindados pelo clube, de andar com o Fiat Toro que as meninas ganharam no Brasileirão.”
Duílio não é o único ex-presidente do Corinthians com despesas sob suspeita. O Conselho Deliberativo do clube também dará andamento à investigação sobre gastos do ex-mandatário Andrés Sanchez, que usou o cartão corporativo do clube em uma viagem particular à cidade de Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte, entre os dias 28 de dezembro de 2020 e 2 de janeiro de 2021.
Segundo a apuração, Andrés utilizou R$ 9.416 em gastos diversos. Ao ser questionado pelo jornal Estadão, afirmou que confundiu os cartões e já ressarciu o clube em R$ 15 mil. A situação será analisada pelo Conselho, que deve apurar se houve má fé ou apenas erro administrativo.
As polêmicas envolvendo ex-presidentes acontecem em um momento delicado para o Corinthians, que enfrenta uma crise política sem precedentes. O processo de impeachment contra o atual presidente Augusto Melo, iniciado por denúncias de irregularidades administrativas, mobiliza torcedores, conselheiros e a mídia.
Com a revelação dos supostos gastos da gestão anterior, o ambiente interno do clube se acirra ainda mais, revelando disputas políticas intensas nos bastidores do Parque São Jorge.
Enquanto isso, a pressão sobre a transparência e a governança do clube cresce, com sócios e torcedores exigindo respostas concretas e medidas efetivas contra qualquer prática que possa comprometer a integridade institucional da equipe alvinegra.
