
O que começou com uma pergunta infantil se transformou em um documentário que promete jogar luz sobre a presença e os desafios das mulheres no futebol brasileiro. De Virada – Bastidores e desafios do futebol, produção independente dirigida pela jornalista Fernanda Menegotto, estreia no dia 7 de outubro na plataforma HBO Max. O filme acompanha três mulheres que ocupam posições de liderança em um esporte historicamente dominado por homens: a dirigente Roberta Fernandes, a árbitra Edina Alves e a jogadora Tamires.

A inspiração para o documentário surgiu em casa, quando a filha de Fernanda, de 9 anos, questionou por que “não havia meninas mandando no futebol”. A resposta veio do irmão mais novo: “A tia Roberta manda no Fluminense.” Ele se referia a Roberta Fernandes, que foi a primeira CEO de um clube de futebol no Brasil, à frente do tricolor carioca entre 2014 e 2017.
O comentário da criança levou Fernanda a investigar mais sobre a trajetória de Roberta, que acabou sendo o ponto de partida para descobrir outras mulheres que também comandam nos bastidores do esporte. “Tem grandes mulheres nesse mercado. Chegamos à conclusão de que era muito importante contar essa história”, afirma a diretora.
Três trajetórias de liderança
Roberta Fernandes está no Fluminense desde 2005, quando ingressou como advogada assistente. Depois foi diretora jurídica e chegou ao posto máximo da administração entre 2014 e 2017. “Quero que meus filhos sejam agentes dessa transformação. Quero que as meninas olhem pra mim e vejam que é possível sim uma mulher estar num cargo de direção do futebol”, disse Roberta durante o lançamento do filme em São Paulo.
A árbitra Edina Alves é a segunda protagonista do documentário. Ela foi a primeira mulher a apitar uma partida do Campeonato Brasileiro masculino e a brasileira com o maior número de jogos em Copas do Mundo. Já Tamires, capitã do Corinthians e referência na seleção brasileira, completa o trio. Cada uma delas tem sua história contada ao longo dos 71 minutos da produção, com foco nos desafios enfrentados em um ambiente ainda marcado por resistência e preconceito.
Inspiração para novas gerações
“Esse projeto nasceu de um papo dentro de casa e evoluiu para se tornar um formato para tentar mudar a cultura do esporte”, explicou Fernanda. A diretora destaca que o objetivo é mostrar que há figuras femininas por trás dos grandes acontecimentos do futebol. “É um espaço prioritariamente ocupado por homens, mas vemos que as mulheres vieram para mudar esse jogo.”
O documentário é uma coprodução da FMM e Elo Studios, com apoio da Transforma e patrocínio da Amstel. A marca, inclusive, realizou uma ação provocativa nas redes sociais antes do lançamento do filme, perguntando aos usuários qual lenda do futebol sul-americano vinha primeiro à mente. Das 993 respostas recebidas, apenas nove mencionaram mulheres — uma estatística que reforça a necessidade de visibilidade para as figuras femininas no esporte.
Ambiente hostil, mas em transformação
Segundo Sabrina Nudeliman, CEO da Elo Studios, o documentário também serve como uma resposta à exclusão histórica das mulheres nos bastidores do futebol. “Diria que nos três casos elas enfrentaram esses preconceitos e lutaram muito. Esse documentário serve de inspiração para todas as mulheres, não só jogadoras”, destaca.
A produção expõe não apenas os marcos profissionais das três protagonistas, mas também os olhares desconfiados, os questionamentos e situações desconfortáveis vividas por elas no exercício de suas funções.
“Quando a gente deixa a mulher ocupar outros espaços estamos dando liberdade para que os homens ocupem outros espaços, trazendo liberdade maior para todos”, conclui Sabrina.
