
A quarta e penúltima Data Fifa de 2025 paralisou, mais uma vez, as principais competições de clubes ao redor do mundo. Na Europa, o intervalo serve para as disputas das Eliminatórias da Copa do Mundo. Já em outros continentes, como a América do Sul, as seleções aproveitam o momento para a realização de amistosos — caso da Seleção Brasileira.

Os campeonatos das seis principais ligas europeias — Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha, França e Portugal — chegaram ao fim no último domingo (5) e só voltam a ter jogos oficiais a partir dos dias 17 e 18. Em Portugal, o retorno está previsto apenas para o dia 24.
Durante esse período, as comissões técnicas dos clubes costumam liberar os elencos por dois a cinco dias, dependendo da agenda de jogos. Apesar de bem-vinda por muitos atletas e profissionais da saúde esportiva, a pausa também gera críticas, especialmente entre torcedores de times em má fase ou eliminados de torneios importantes.
No entanto, especialistas destacam que o descanso não representa apenas folga. Ele é considerado essencial para manter a performance ao longo da temporada — tanto do ponto de vista físico quanto mental.
“Mesmo nos dias de folga, seguimos uma rotina de treinos leves, controle de sono e alimentação. É um momento importante para recuperar as energias, mas também para voltar melhor preparado para a sequência da temporada”, afirma o zagueiro Vitor Reis, ex-Palmeiras e Manchester City, atualmente no Girona, da Espanha.
De acordo com André Cunha, CEO da Volt Sports Science, a Data Fifa pode ser um dos períodos mais desafiadores para os atletas convocados por suas seleções. “Normalmente juntam-se viagens longas, mudanças de fuso horário, sistemas táticos diferentes, variações de carga de treino e a pressão de representar o país. Isso eleva o risco de lesões”, afirma.
Para minimizar os impactos, Cunha defende o básico: boa alimentação, sono adequado e foco na recuperação. Por outro lado, ele também vê no período uma "janela de oportunidades" para quem não foi convocado. “É uma chance para descanso físico e mental, intervenções terapêuticas e reequilíbrio da carga, especialmente para quem vem com alto volume de jogos ou dores persistentes.”
O fisioterapeuta Natanael Sousa, especialista pela Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva e da Atividade Física (Sonafe Brasil), concorda. Segundo ele, o intervalo pode ajudar a reduzir a sobrecarga e prevenir lesões. “O ideal é uma análise individualizada, entendendo o momento de cada atleta para otimizar a pausa e trabalhar pontos específicos de recuperação ou aprimoramento físico.”
Ele ainda destaca que a pausa pode beneficiar o desempenho coletivo. “Se for feito um bom controle de carga, diminuindo o estresse físico de quem está sobrecarregado e ajustando o preparo de quem precisa de mais intensidade, o resultado é sentido na performance do time.”
Para o Dr. Rodrigo Zogaib, coordenador médico do Santos, o intervalo da Data Fifa cria um cenário atípico, mas extremamente benéfico. “Conseguimos organizar um interciclo menor dentro de um ciclo maior. Isso nos permite equilibrar treino e descanso de forma mais eficiente, algo difícil nos períodos com jogos semanais”, explica.
Essa pausa estruturada é vista também como estratégica fora do campo. Claudio Fiorito, presidente da P&P Sport Management Brasil, lembra que o momento é ideal para ajustes de carreira. “É a hora de revisar questões físicas, mentais e até contratuais. Não é só descanso, é uma etapa decisiva na preparação do atleta para o restante da temporada.”
Embora os torcedores muitas vezes enxerguem a Data Fifa apenas como um intervalo sem jogos de seus clubes, os bastidores mostram uma fase de trabalho silencioso, mas estratégico. Para os atletas, é o momento de cuidar do corpo, da mente e das dores — físicas ou emocionais — que o calendário impõe.
No cenário atual de alta competitividade e intensidade física, entender o valor dessas pausas pode ser a chave para uma temporada mais equilibrada, com menos lesões e mais performance.
