
A crise interna no Corinthians ganhou mais um capítulo grave. Uma auditoria contratada pelo clube revelou que a má gestão e a falta de controle no estoque de materiais esportivos levaram a episódios constrangedores, como a ausência de camisas suficientes para o time principal em uma partida oficial. O relatório ainda aponta desvios de uniformes e comércio ilegal de produtos Nike dentro da própria instituição.
O caso mais emblemático ocorreu em 13 de setembro, quando o Corinthians enfrentou o Fluminense no Maracanã. O time paulista venceu por 1 a 0, mas precisou usar seu uniforme reserva, na cor preta, porque não havia peças suficientes do uniforme principal, branco, para todos os jogadores.
De acordo com a auditoria, a decisão de utilizar os uniformes reservas partiu de um pedido de urgência feito pelo gerente administrativo Rafael Salomão à Nike, que não conseguiu atender a demanda por causa do prazo logístico. A solução foi negociar com a diretoria do Fluminense, que autorizou o uso dos uniformes reservas por ambas as equipes.
O episódio foi descrito como consequência direta da "ausência de critérios técnicos e de planejamento" na solicitação e controle dos materiais fornecidos pela Nike. O documento aponta que, em janeiro de 2025, o Corinthians fez um pedido “excessivo”, com aproximadamente 20 mil itens, mas ainda assim enfrentou escassez de materiais essenciais, como as camisas principais de jogo.
A auditoria, determinada pelo presidente Osmar Stábile, identificou um quadro de desorganização e possíveis desvios, inclusive com indícios de comércio irregular de materiais do clube. Um dos alvos das investigações é o vice-presidente Armando Mendonça, citado como responsável pela administração dos estoques da Nike e apontado como principal suspeito de retiradas indevidas.
Segundo o relatório, Mendonça aparece vinculado à retirada irregular de 131 itens, sem justificativas documentais. Além disso, um funcionário do clube foi flagrado vendendo camisas oficiais do Corinthians por Pix de R$ 300,00. A transação foi comprovada após uma compra controlada realizada pelos auditores em outubro de 2025. O funcionário confessou o ato.
Mendonça negou qualquer responsabilidade direta sobre a distribuição dos materiais e afirmou, em nota, que não é e nunca foi sua função definir políticas internas de alocação de uniformes. Ele atribuiu o descontrole à gestão anterior, do ex-presidente Augusto Melo, afirmando que apenas buscava colaborar para melhorar o sistema de retirada com transparência.
"Minha função é a de analisar os pedidos extras e autorizá-los de acordo com as necessidades, juntamente com o departamento administrativo", declarou.
O relatório, com 94 páginas, foi encaminhado pela presidência do clube ao presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior, que já o repassou à Comissão de Justiça para análise e elaboração de parecer. A expectativa é que os envolvidos sejam convocados para prestar esclarecimentos.
O escândalo chegou também ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP). O promotor Cássio Roberto Conserino, que investiga o uso indevido de cartões corporativos por ex-dirigentes do clube, solicitou a abertura de inquérito na Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade) para apurar os desvios de materiais esportivos.
As investigações poderão levar a responsabilizações criminais e administrativas, além de medidas internas no clube, incluindo suspensões e eventuais expulsões de conselheiros ou dirigentes envolvidos, conforme as apurações avancem.

