
Imagine a cidade de Buenos Aires pulsando, fervendo como se uma onda elétrica passasse por cada uma de suas esquinas. É assim que ela vai estar no dia 30 de novembro de 2024, quando a final da Copa Libertadores será disputada no Estádio Monumental de Núñez, o gigante do River Plate. Pela primeira vez desde que o torneio adotou a regra de final em jogo único, em 2019, a Argentina será o palco dessa decisão que, para os portenhos, é mais do que um jogo de futebol: é um drama, uma novela que mistura tango, política e muita paixão.

O anúncio da Conmebol, feito numa sexta-feira de outubro, parece simples à primeira vista: a Libertadores de 2024 vai ser decidida em Buenos Aires. Mas, embaixo dessa superfície, há toda uma história, uma dança de escolhas e negociações que dizem muito sobre o futebol sul-americano e o contexto atual do esporte. Buenos Aires, com suas glórias esportivas e estádios históricos, não recebia uma decisão de Libertadores desde 2018. Naquela ocasião, o duelo entre os arquirrivais Boca Juniors e River Plate, originalmente marcado para o próprio Monumental, acabou sendo transferido para Madri, na Espanha, devido a incidentes de violência. Esse episódio ficou como uma ferida aberta, não só para o futebol argentino, mas para toda a América do Sul.
A decisão deste ano tem um significado ainda maior: foi o Monumental que venceu a disputa para ser o palco da final, deixando para trás outros estádios históricos, como o Libertadores de América, do Independiente, e o Estádio Único Diego Armando Maradona, em La Plata. A escolha foi feita com base em um fator crucial: o estádio do River Plate foi completamente reformado. Hoje, ele é chamado de Más Monumental, graças a um contrato de naming rights com a rede de supermercados Chango Más.
Se você nunca ouviu falar de naming rights, eis uma rápida explicação: grandes empresas pagam uma quantia significativa de dinheiro para dar seu nome a um espaço famoso. A Chango Más, que vai desembolsar o equivalente a R$ 102 milhões ao longo de sete anos, garantiu que o estádio agora seja chamado de Más Monumental, o que é, no mínimo, curioso. Afinal, Buenos Aires é uma cidade que leva o futebol a sério, e para muitos torcedores, o Monumental será sempre o Monumental, com ou sem novo nome.
O gigante renovado - Se nomes podem mudar, uma coisa que chama atenção é o novo fôlego do estádio. Com a reforma, o Monumental passou de 72 mil para uma capacidade de 84.567 torcedores, tornando-se o maior estádio da Argentina. Mas, além de espaço para mais gente, o que as reformas trouxeram foi uma infraestrutura de primeiro nível, algo que vai muito além de poltronas confortáveis. A modernização inclui acessos mais organizados, uma remodelagem completa da estrutura interna e externa, e tudo isso com o objetivo de oferecer ao público um padrão mais alto de experiência, coisa que não se via com frequência em estádios sul-americanos.
A Conmebol, ao confirmar o Monumental como sede, fez questão de destacar que a escolha levou em consideração a "modernidade do estádio após as obras, sua relevância histórica e a grande capacidade de público". Ou seja, o estádio não foi escolhido apenas por ser bonito ou por caber mais gente. Ele foi escolhido porque é um símbolo de como o futebol na Argentina está mudando, ou pelo menos tentando mudar, para se equiparar aos padrões dos maiores eventos esportivos do mundo.
O fator Marcelo Gallardo - E tem mais: é possível que o River Plate jogue a final da Libertadores em casa, no seu próprio estádio. Para isso, o time de Marcelo Gallardo, que já se tornou uma espécie de ícone no clube, precisa vencer o Atlético-MG na semifinal. Se isso acontecer, o River terá a chance de decidir o título na sua própria casa, uma situação que traz lembranças da edição de 2023, quando o Fluminense jogou e venceu no Maracanã, em frente à sua torcida.
Agora, se Gallardo chegar à final, o jogo será muito mais do que uma disputa entre dois times: será uma batalha épica entre o River Plate e quem quer que esteja do outro lado. E o que está em jogo não é só o título da Libertadores, mas também a consagração de um estádio, de uma cidade e, quem sabe, até de um país. A última vez que a Argentina sediou uma final de Libertadores foi em 2018, mas aquele foi um momento de tensão e vergonha, quando o confronto entre Boca Juniors e River Plate acabou sendo disputado em Madri. Quatro anos depois, Buenos Aires está pronta para, finalmente, dar à sua paixão nacional o palco que ela merece.
Modernidade e tradição em choque - Se por um lado o Más Monumental é o novo símbolo de modernidade no futebol argentino, por outro, o contraste com a velha Buenos Aires se faz presente. O estádio, agora repaginado e "vendido" a uma grande marca, representa a nova era do futebol, onde o dinheiro flui com contratos publicitários, acordos de patrocínio e reformas milionárias. Mas, para a maioria dos torcedores que caminharão até Núñez no dia 30 de novembro, o que estará em jogo é algo muito mais visceral: o amor por seu time, o sonho de levantar a taça da Libertadores, e o orgulho de ser parte dessa história.
A decisão da Conmebol em levar a final para Buenos Aires parece então uma escolha simbólica: o Monumental renovado recebe o maior torneio do continente, enquanto o River Plate, possivelmente, terá a chance de transformar a história em uma celebração ainda maior. Mas a verdade é que, independentemente de quem chegue à final, Buenos Aires estará em festa. O futebol argentino, com todo o seu drama e intensidade, voltou a ser o centro das atenções da América do Sul.
