
Na teoria, era a grande volta: Neymar, o filho da Vila, recuperado de lesão, voltava a vestir a camisa do Santos. Na prática, a noite terminou com o que já virou rotina: frustração. O Santos foi eliminado da Copa do Brasil, nesta quinta-feira (23), ao perder nos pênaltis para o CRB, em Maceió, depois de um empate sem gols no tempo normal.

O resultado expôs mais uma vez o que os torcedores têm sentido na pele: o problema do Santos não é falta de ídolo, é falta de time. E nem mesmo o talento isolado de Neymar, entrando no segundo tempo, foi suficiente para mudar o destino de um clube que parece perdido entre o passado glorioso e um presente irregular.
O brilho do craque e a sombra do coletivo - Neymar entrou aos 21 minutos do segundo tempo e, com pouco tempo, conseguiu criar boas jogadas. Fez um lindo passe para Thaciano, tentou um chute perigoso e obrigou o goleiro Matheus Albino a trabalhar duro. Mas o futebol é jogo coletivo, e o Santos se comportou como um time sem engrenagem.
Enquanto Neymar tentava criar, os companheiros falhavam nas finalizações e o meio-campo não fluía. O goleiro Gabriel Brazão até brilhou — salvou a equipe várias vezes —, mas o resto do time parecia travado, sem alma, sem variações. O Santos teve posse, mas não teve presença.
A ausência de soluções táticas - Desde o apito inicial, o Santos mostrou uma iniciativa tímida. Explorava o lado esquerdo com Souza, mas faltava repertório. O time trocava passes sem objetividade, enquanto o CRB se fechava bem e esperava a chance certa. A grande verdade é que o Santos pareceu mal treinado, previsível, sem criatividade — características que não se apagam com a entrada de um único jogador, mesmo que ele se chame Neymar.
No segundo tempo, o CRB dominou os primeiros minutos. O alagoano Matheus Albino foi o nome do jogo, defendendo tudo o que foi possível e impossível. Mesmo nos pênaltis, brilhou de novo: defendeu a cobrança de Zé Ivaldo e ajudou a garantir a vaga para o CRB.
O peso da camisa e o vazio da tática - O Santos vive hoje um paradoxo cruel: tem a camisa pesada, uma história rica, ídolos eternos — mas dentro de campo, está desconectado do seu passado. A eliminação para o CRB, time que jogou com mais organização e concentração, não é um acidente: é reflexo de um clube que ainda não encontrou rumo.
Neymar fez sua parte, tentou mudar o jogo, converteu seu pênalti. Mas voltou a um time que precisa mais do que o brilho de uma estrela. Precisa de projeto, estrutura, mentalidade vencedora. Hoje, não basta ser “o Santos de Neymar”. É preciso ser o Santos que joga futebol coletivo de verdade.
O caminho para a reconstrução - A eliminação na terceira fase da Copa do Brasil dói. Mas pode servir de alerta. O Santos precisa olhar para dentro: a comissão técnica, a diretoria, o modelo de jogo. Recomeçar é doloroso, mas necessário.
E Neymar? Pode ser inspiração. Mas, sozinho, não é solução.
FICHA TÉCNICA:
CRB 0 (5) X 0 (4)SANTOS
CRB - Matheus Albino; Weverton, Henri, Luis Segovia e Matheus Ribeiro; Meritão, Gegê (Lucas Kallyel) e Danielzinho (Fernando Henrique); Thiaguinho (Rafinha), Douglas Baggio (Vinícius Nunes) e Breno Herculano (Mikael). Técnico: Eduardo Barroca.
SANTOS - Gabriel Brazão; Léo Godoy, Zé Ivaldo, Luan Peres e Souza (João Basso); Tomás Rincón, Zé Rafael (Gabriel Bontempo) e Rollheiser (Neymar); Barreal (Thaciano), Guilherme e Deivid Washington (Tiquinho Soares). Técnico: Cléber Xavier.
CARTÕES AMARELOS - Souza, Lucas Kallyel e Zé Ivaldo.
ÁRBITRO - Ramon Abatti Abel (SC).
RENDA E PÚBLICO - não disponíveis.
LOCAL - Estádio Rei Pelé, em Maceió (AL).
