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PARALIMPÍADAS DE PARIS

Atleta sul-mato-grossense Gabriela Mendonça fica em 6º nos 100 metros em Paris 2024

Em Paris, a brasileira Gabriela Mendonça termina em 6º lugar nos 100 metros da classe T13 e reflete sobre uma vida de reviravoltas, persistência e sonhos que agora apontam para Los Angeles 2028.

3 setembro 2024 - 18h15Ricardo Eugenio
Gabriela Mendonça em ação durante a semifinal dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024
Gabriela Mendonça em ação durante a semifinal dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024 - (Foto: Silvio Avila/CPB)

O Stade Charléty, em Paris, estava lotado na noite desta terça-feira (03.9). As luzes acesas, refletindo nos olhos de milhares de espectadores, davam um brilho especial à pista de atletismo. Ali, em meio ao rugido da torcida, Gabriela Mendonça, 26 anos, aguardava o tiro que daria início aos 100 metros mais importantes de sua vida. Não era apenas uma corrida; era uma chance de reivindicar tudo o que a vida lhe havia negado, ou pelo menos, adiado.

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Gabriela, uma jovem sul-mato-grossense de Campo Grande, nasceu com uma deficiência visual que a inseriu na classe T13 do atletismo paralímpico, reservada para atletas com baixa visão. Aos 13 anos, ela começou a treinar com Daniel Sena, um técnico com um olhar aguçado para o potencial bruto. Desde então, a relação entre os dois se moldou pela confiança mútua e por uma palavra que Gabriela carrega consigo como uma espécie de mantra: resiliência.

Sua vida no esporte, porém, esteve longe de ser uma linha reta. Após alguns anos treinando em Campo Grande, Gabriela decidiu se mudar para São Paulo, em busca de melhores condições para desenvolver sua carreira. A cidade grande prometia mais estrutura, mais competições e, claro, mais pressão. Em 2021, após percalços e um período de incerteza, ela voltou a Campo Grande, retomando os treinos com o velho conhecido Daniel Sena. O retorno foi marcado por uma fase de redescoberta, tanto de suas habilidades quanto de suas aspirações.

Nos bastidores dos Jogos Paralímpicos de Paris, Gabriela era a personificação do sonho brasileiro, mesmo que não favorito. Ela estava ali, entre as melhores do mundo, pronta para enfrentar o cronômetro e suas próprias expectativas. A prova dos 100 metros não durou mais do que 12,67 segundos. Pouco tempo depois de cruzar a linha de chegada, os resultados no telão confirmavam: Gabriela era a sexta colocada.

Foto da chegada da prova dos 100 metros dos Jogos Paralímpicos de Paris na classe T13 feminino (Foto: Divulgação/COI)
Chegada da prova dos 100 metros, classe T13 feminina, nos Jogos Paralímpicos de Paris (Foto: Divulgação/COI)

Para muitos, poderia parecer apenas mais uma colocação sem brilho. Para ela, no entanto, significava o reencontro com a elite do atletismo paralímpico, a consagração de um esforço que começou do zero. “Estou muito feliz de ver onde cheguei. É muito gratificante”, confessou à equipe do SporTV, ainda ofegante. Sua voz, misturada ao som ambiente do estádio, carregava um misto de alívio e esperança.

A medalha de ouro foi para a atleta do Azerbaijão, Valiyeva Lamiya, que quebrou o recorde mundial ao cruzar a linha de chegada em 11s76. Rayane Soares da Silva, também brasileira, fez 11s78, um recorde sul-americano, e ficou com a prata. Gabriela assistiu à colega subir ao pódio com uma satisfação silenciosa, fruto de uma solidariedade que só os atletas, com suas vitórias e derrotas íntimas, conseguem entender. “Ver uma brasileira na final na casa dos 11 segundos é muito emocionante. Eu fico feliz”, afirmou, como quem divide um pedaço do próprio sonho.

Para Daniel Sena, o técnico que a acompanhou desde os primeiros passos, o resultado de Gabriela em Paris é mais do que uma colocação em um ranking. É uma vitória pessoal, um marco na carreira da atleta que, aos 36 anos, ainda parece ter muito a oferecer. “Essa participação foi uma injeção de esperança e vitória na vida dela”, disse ele para reportagem. A felicidade pela conquista da sexta posição era genuína, refletindo a simplicidade de quem conhece de perto o caminho das pedras.

Os planos agora são ambiciosos: Gabriela já pensa em Los Angeles 2028. “Vamos seguir trabalhando para estar em Los Angeles”, disse, como quem aponta o olhar para um horizonte ainda distante, mas certamente ao seu alcance. Até lá, são mais quatro anos de treino, sacrifícios e, acima de tudo, resiliência. Gabriela Mendonça ainda tem muito chão pela frente, e se depender de sua determinação, o tiro de largada para o próximo desafio já foi dado.

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