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CULTURA E MÚSICA

Série sobre Secos & Molhados revela bastidores e feridas de uma revolução musical

Produção do Canal Brasil revisita a trajetória da banda 50 anos depois e mostra como divergências ainda ecoam meio século após o sucesso

12 novembro 2025 - 14h55Matheus Mans
Ney Matogrosso e ex-integrantes do Secos & Molhados recriam o som da banda em novas músicas para Primavera nos Dentes.
Ney Matogrosso e ex-integrantes do Secos & Molhados recriam o som da banda em novas músicas para Primavera nos Dentes. - Foto: Santa Rita Filmes/Divulgação

Cinco décadas após o auge, o Secos & Molhados — um dos grupos mais revolucionários da música brasileira — volta ao centro das atenções com a série documental Primavera nos Dentes: A História do Secos & Molhados, exibida pelo Canal Brasil. O projeto revive a trajetória meteórica da banda e revela que, 50 anos depois, algumas feridas ainda não cicatrizaram.

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A ausência das músicas originais na produção é um dos reflexos dessa ruptura. O motivo: João Ricardo, um dos fundadores e principal compositor do grupo, não autorizou o uso das canções. Assim, Ney Matogrosso, Gerson Conrad, Emilio Carrera e Willy Verdaguer voltaram aos estúdios não para regravar clássicos como Sangue Latino ou O Vira, mas para criar novas faixas inspiradas na sonoridade original.

“Sinto muito que tenha sido assim. Por dinheiro, né? Mas foi o que tinha que ser”, disse Ney Matogrosso ao Estadão.

Um novo som, com o mesmo DNA - Impedidos de revisitar os sucessos que venderam mais de um milhão de discos entre 1973 e 1974, os músicos criaram Ouvindo o Silêncio, parceria de Gerson Conrad e Paulo Mendonça. Interpretada por Ney e Gerson, a canção encerra a série e ganhou um videoclipe especial, marcando o reencontro histórico da formação original meio século depois.

Emilio Carrera e Willy Verdaguer assinam a direção musical e os arranjos, recriando a atmosfera provocadora e poética que transformou o grupo em símbolo de resistência artística durante a ditadura militar.

“Secos & Molhados foi importante? Foi. Merece o meu esforço? Sim. Mas não tem sentimentos. Sentimentos ficaram todos pra trás”, disse Ney.

Dirigida e roteirizada por Miguel de Almeida e produzida por Marcelo Braga, a série tem quatro episódios de 60 minutos e mergulha na explosão cultural provocada pelo Secos & Molhados nos anos 1970.

O documentário reúne depoimentos de Ney Matogrosso, Gerson Conrad, Emilio Carrera, Willy Verdaguer, Helena Ignez, Roberto Frejat, Ana Cañas, entre outros, além de imagens raras de arquivo.

A produção revela ainda as origens da estética do grupo — da maquiagem icônica de Ney, inspirada em O Rei da Vela, montagem do Teatro Oficina, ao impacto político e comportamental que a banda exerceu sobre a juventude da época.

Em pouco mais de um ano, o Secos & Molhados vendeu um milhão de discos, superando Roberto Carlos em vendas e lotando ginásios com até 20 mil pessoas, como no Maracanãzinho. Foram 365 shows em 11 meses, tamanha a demanda que a gravadora Continental precisou derreter vinis encalhados para fabricar mais cópias.

As músicas driblavam a censura e exaltavam a liberdade — enquanto nomes como Chico Buarque e Taiguara eram vetados. Mas o sucesso trouxe também desgastes internos e disputas, que culminaram no fim da banda em 1974.

O terceiro episódio da série detalha essa fase de atritos, com depoimentos de Moracy do Val, Cláudio Tovar e Charles Gavin, além de reflexões diretas de Ney e Gerson sobre o rompimento com João Ricardo.

“Não dá pra contar tudo. São 50 anos em duas horas, não é isso? Mas já está resolvido, ultrapassado”, afirmou Ney.

Ney Matogrosso e a nova geração - Hoje, aos 83 anos, Ney Matogrosso vive um momento de renovado reconhecimento. O documentário Homem com H, lançado em 2023 e disponível na Netflix desde 2025, aproximou o artista de um público jovem.

“Eu sempre andei na rua sossegado, agora não é tanto assim. As pessoas falam comigo o tempo todo. Fiquei impressionado”, brinca Ney.

Sobre essa nova fase, ele reflete:

“Melhor que essas coisas aconteçam quando a gente está vivo, pra assistir de camarote essa loucura toda.”

Os episódios de Primavera nos Dentes são exibidos todas as sextas-feiras, às 21h30, no Canal Brasil. Há reprises aos sábados, às 17h, e aos domingos, às 19h. A série, com quatro capítulos, estreou em 31 de outubro.

Mesmo sem poder revisitar canções como Sangue Latino ou Rosa de Hiroshima, a série mantém o espírito rebelde e transformador do Secos & Molhados. Meio século depois, o grupo continua a ecoar como um grito de liberdade artística — e suas histórias, ainda que marcadas por ausências, seguem vivas.

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