
Quase quatro anos após o anúncio oficial, a série It: Bem-vindos a Derry finalmente estreia neste domingo (26), na HBO Max, prometendo expandir o universo criado por Stephen King e aprofundar a mitologia em torno de Pennywise, a entidade que se alimenta do medo. Ambientada em 1962, a produção se passa 27 anos antes dos eventos do filme de 2017, e aposta em um clima sombrio, personagens densos e uma conexão direta com temas sociais ainda bastante atuais.
A série é desenvolvida pelos irmãos Andy e Barbara Muschietti, responsáveis pela direção e produção dos dois filmes da franquia, e agora se juntam aos roteiristas e showrunners Jason Fuchs e Brad Caleb Kane para contar a origem do mal em Derry, cidade fictícia do Maine. Com oito episódios confirmados, a primeira temporada traz o retorno de Bill Skarsgård como Pennywise, embora sua presença, segundo os criadores, seja construída de forma gradual.
Uma cidade marcada por tragédias - A história começa com um evento trágico: o incêndio do Black Spot, clube noturno frequentado pela comunidade negra da cidade, que deixa dezenas de mortos em circunstâncias misteriosas. O episódio marca um ponto de virada em Derry, coincidentemente acompanhado por uma onda de desaparecimentos de crianças — exatamente o padrão de atuação da entidade cósmica que habita o lugar.
“O maior risco criativo foi mostrar logo de cara que ninguém está seguro”, afirmou Brad Caleb Kane em entrevista ao Estadão. “E também aprofundar a mitologia de Pennywise. Há um risco ao desmistificar algo que é simplesmente místico.”
Bill Skarsgård volta ao papel que o eternizou no terror contemporâneo, mas o palhaço dançante que aterroriza os sonhos de uma geração não aparece nos primeiros episódios como o público espera. A entidade está presente desde o início, mas de maneira mais sutil — seu poder já influencia os eventos e assombra os personagens.
“Temos muitos sustos, mas queríamos construir um mundo e personagens”, explica Kane. “Queremos que o público seja conduzido em uma jornada com histórias que gerem empatia episódio após episódio.”
Segundo Jason Fuchs, o plano era gerar tensão e antecipação. “Andy encontrou uma forma brilhante, visualmente e em tema, de apresentar nossa versão de Pennywise no contexto da série. A espera vale a pena.”
O projeto da série já está planejado para três temporadas, todas voltadas ao passado: a segunda será ambientada em 1935, e a terceira, em 1908, sempre explorando eventos mencionados nos interlúdios do livro original. Assim, a série pretende conectar pontas soltas, aprofundar lendas locais e revelar mais sobre a verdadeira natureza do mal em Derry.
Cada temporada será autônoma, com começo, meio e fim, mas todas interligadas. “Queremos executar cada uma em alto nível, mas também deixar pistas para os próximos anos”, detalha Fuchs.
Referências e conexões com o universo King - Diferente dos filmes, a série mergulha fundo no macroverso de Stephen King. Fuchs e Kane, assumidamente fãs do autor, garantem que há conexões com outras obras — incluindo A Torre Negra, uma das sagas mais ambiciosas de King. Pistas e termos usados na Língua Superior dos livros, como o “thankee sai”, aparecem discretamente.
“Os fãs mais atentos vão captar. Fizemos questão de semear essas referências, respeitando a mitologia e dando espaço para que cresça dentro da série”, comenta Fuchs.
Mais do que um enredo sobrenatural, “Bem-vindos a Derry” busca conexão com os dramas sociais do presente. Ao ambientar a trama em 1962, os criadores aproveitam para explorar o racismo estrutural e as tensões sociais da época, refletindo temas ainda relevantes.
“Estamos contando uma história sobre o medo como ferramenta de divisão, controle e manipulação”, explica Caleb Kane. “Derry é um microcosmo dos EUA. E Pennywise, uma metáfora para as forças que exploram essas vulnerabilidades.”
O personagem principal é um oficial negro da Força Aérea que se muda com a família para a cidade — o que já desencadeia olhares tortos e preconceito velado, enquanto o terror sobrenatural se aproxima.
It: Bem-vindos a Derry não economiza nos sustos, mas oferece mais do que sustos baratos. A proposta da série é contar uma história com profundidade, abordando medos pessoais, traumas coletivos e cicatrizes sociais — sem esquecer o horror essencial da obra de King.
A estreia neste domingo marca não apenas a expansão de um universo cinematográfico, mas também um novo fôlego para narrativas de terror com densidade, que refletem as inquietações do mundo real.
