
Saiba Mais
Em nova escalada de sua política comercial, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira, 28, que pretende aplicar tarifas de 15% a 20% sobre produtos importados de países que ainda não tiverem firmado acordos comerciais específicos com os EUA até a próxima sexta-feira.

A declaração foi feita durante entrevista coletiva em Turnberry, na Escócia, ao lado do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer. “Para o mundo, eu diria que ficará em algum lugar na faixa de 15% a 20%... Só quero ser legal”, disse Trump, sem detalhar quais nações seriam afetadas ou se haverá exceções.
O anúncio intensificou o clima de alerta entre os países que ainda não conseguiram concluir negociações bilaterais com os americanos — caso do Brasil, que está no centro da tensão comercial com Washington.
Entre as nações mais expostas à nova diretriz está o Brasil, que já havia sido atingido neste mês por uma tarifa de 50% sobre seus produtos exportados aos Estados Unidos. À época, Trump justificou a medida citando o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que, segundo ele, prejudicam empresas norte-americanas.
Desde então, o governo Lula tem tentado reabrir canais de negociação, mas sem avanços concretos até o momento. A decisão de Trump adiciona pressão ao governo brasileiro, que vê na política comercial americana uma motivação política camuflada de protecionismo.
Tecnicamente, a aplicação da tarifa é questionável, já que os Estados Unidos têm saldo positivo constante na balança comercial com o Brasil. Ou seja, vendem mais ao mercado brasileiro do que compram. Ainda assim, o país sul-americano pode ser um dos mais impactados pela nova taxa-base, caso não consiga fechar um acordo até o prazo final imposto por Trump.
O presidente americano já acertou acordos com países como Japão e os blocos da União Europeia, estabelecendo tarifas médias de 15%. Esses acertos recentes sugerem que a nova taxa-base mencionada por Trump será usada como referência para os demais tratados em negociação.
A ameaça de aplicar até 20% em tarifas amplia a margem de manobra do republicano e pressiona os governos estrangeiros a aceitarem os termos impostos pelos Estados Unidos.
Trump também indicou que ainda está avaliando o futuro das tarifas sobre aço e alumínio — setores tradicionalmente sensíveis nas relações comerciais internacionais. Segundo ele, a ideia é fortalecer a produção doméstica: “Faremos nosso próprio aço e nosso próprio alumínio nos EUA”, afirmou.
O presidente dos EUA ainda mencionou que, em breve, deve anunciar medidas tarifárias para o setor farmacêutico. Apesar disso, descartou aplicar essas tarifas contra o Reino Unido, destacando que o acordo assinado com os britânicos foi “o maior de todos”, sem revelar mais detalhes.
Durante a coletiva ao lado de Keir Starmer, Trump ressaltou que o novo tratado comercial com o Reino Unido marca uma aproximação estratégica entre os dois países. Starmer, por sua vez, elogiou a possibilidade de cooperação no setor de energia, especialmente na produção de pequenos reatores nucleares.
Em relação à China, Trump revelou que representantes dos dois países estão reunidos para negociar novos termos. O republicano expressou desejo de maior abertura do mercado chinês aos produtos norte-americanos, mas não deu detalhes sobre prazos ou condições.
Com o relógio correndo até sexta-feira, o Brasil enfrenta um desafio diplomático e comercial para tentar evitar as novas tarifas. A escalada nas medidas anunciadas por Trump traz risco de encarecimento de produtos brasileiros no mercado americano, o que pode reduzir a competitividade de diversos setores da economia nacional.
Sem um acordo firmado, o Brasil pode ser incluído no pacote de países sujeitos às tarifas de até 20%, o que ampliaria ainda mais o impacto já causado pela taxa de 50% aplicada no início do mês. A postura do governo americano — marcada por decisões rápidas e motivações políticas — aumenta a complexidade da situação.
Enquanto isso, o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços seguem sem posicionamento oficial sobre os desdobramentos da declaração de Trump nesta segunda-feira.
