
A poucos dias do início das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos, o governo de Donald Trump anunciou neste domingo (27) um acordo com a União Europeia que reduz a taxação sobre produtos do bloco europeu para 15%. O Brasil, no entanto, continua na mira de uma tarifa de 50% sobre suas exportações, sem previsão de um entendimento com Washington.

O pacto entre os EUA e a União Europeia foi firmado após reunião entre Trump e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. A decisão faz parte da estratégia do governo norte-americano de renegociar tarifas comerciais com seus principais parceiros para reduzir o déficit comercial do país. Segundo o presidente americano, o acordo com os europeus envolve investimentos de US$ 600 bilhões nos Estados Unidos e um plano de US$ 750 bilhões voltado ao setor energético europeu.

Outros países conseguiram negociar
Além da União Europeia, outros países também conseguiram chegar a acordos bilaterais com os EUA nos últimos dias, reduzindo tarifas antes mais severas.
— Japão: a alíquota, que era de 25%, caiu para 15%. Em troca, o Japão abrirá mercado para produtos agrícolas e automotivos dos EUA, além de investir US$ 550 bilhões em território americano.
— Indonésia: firmou acordo que elimina 99% das tarifas sobre produtos americanos e reduz de 32% para 19% a taxação dos itens indonésios. O país também se comprometeu a comprar US$ 15 bilhões em produtos dos EUA.
— Filipinas: terá suas exportações taxadas em 19%. Em contrapartida, produtos norte-americanos entrarão no país asiático com isenção total de tarifas. Houve também reforço no acordo de cooperação militar.
— Vietnã: a tarifa para produtos do país caiu de 46% para 20%. Para itens de origem estrangeira exportados via Vietnã, a taxa será de 40%. Em troca, o país asiático abrirá seus mercados aos produtos dos EUA.
— Reino Unido: desde maio, conta com tarifa-base de 10% e isenção total para o setor aeroespacial. Em contrapartida, o Reino Unido reduziu de 5,1% para 1,8% a tarifa média sobre produtos americanos.
— China: os dois países mantêm uma trégua de 90 dias. Durante esse período, os EUA reduziram a tarifa de 145% para 30%, enquanto os chineses impuseram uma alíquota provisória de 10%.
Brasil ainda tenta evitar tarifa máxima

Apesar dos esforços diplomáticos, o Brasil ainda não conseguiu fechar um acordo com os EUA. Segundo o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, conversas estão em curso com o secretário de Comércio americano, Howard Lutnick. A proposta brasileira prevê ampliar a relação comercial bilateral nos próximos cinco anos, dobrando o fluxo de negócios entre os países.
O empresariado brasileiro teme retaliações caso o Brasil adote sobretaxas como resposta. A expectativa inicial era conseguir pelo menos um adiamento do início das tarifas, previsto para 1º de agosto, mas essa alternativa perdeu força após Trump afirmar neste domingo que não pretende abrir novas rodadas de negociação com países que ainda não chegaram a um acordo.
Negociações em andamento
Outros países seguem em busca de acordos antes do prazo final:
— Índia: negocia para reduzir a tarifa proposta para menos de 20%, em troca da abertura de mercado agrícola para os americanos.
— Coreia do Sul: prepara um pacote que inclui cooperação naval e a redução da tarifa atual de 25%.
— Argentina: tenta garantir isenção para 80% do comércio bilateral, especialmente no setor siderúrgico.
— Malásia: busca reduzir as tarifas para abaixo de 20%.
— Taiwan: uma delegação está em Washington negociando termos semelhantes.
— Bangladesh: tenta conter uma tarifa de 35% oferecendo um pacote que inclui a compra de 25 aviões da Boeing.
Pressão sobre o Brasil aumenta
Com o prazo se aproximando, o Brasil corre contra o tempo para evitar a alíquota mais alta entre todos os parceiros comerciais dos EUA. Um dos principais riscos apontados por analistas é a possibilidade de o país entrar em uma rota de isolamento comercial, caso não consiga se inserir nesse novo tabuleiro de acordos bilaterais montado por Trump.
Além disso, a pressão interna sobre o governo brasileiro deve aumentar, com setores da indústria, do agronegócio e do comércio preocupados com os impactos que a taxação pode trazer sobre exportações sensíveis, especialmente no aço, alumínio e alimentos.
