
O Brasil vem recebendo menos investimento estrangeiro do que o necessário para cobrir o déficit em conta corrente, cenário que deve persistir até o fim de 2025 e pode se prolongar diante das tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos. A medida eleva a incerteza e pode afetar o fluxo de capitais para o país.

Dados do Banco Central mostram que, em 12 meses até junho, o déficit em conta corrente atingiu US$ 73,135 bilhões (3,42% do PIB), enquanto o Investimento Direto no País (IDP) somou US$ 70,476 bilhões (3,14% do PIB).
O economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal, vê o aumento como sinal de superaquecimento da economia. “Um saldo deficitário próximo de 4% do PIB não é típico de uma economia crescendo perto do potencial. Nesse caso, o normal seria cerca de 2%”, afirma.
Segundo Lucas Farina, da Genial Investimentos, a alta nas importações pela demanda interna e o avanço dos déficits nas contas de serviços e rendas explicam parte do resultado. A economista Luíza Pinese, da XP, lembra que o déficit em serviços vem batendo recordes, influenciado por compras de streaming e outros serviços digitais.
O IDP historicamente cobria o déficit, mas a tendência mudou em 2025. Os EUA são origem de cerca de 25% do capital estrangeiro líquido no Brasil e, segundo Farina, um prolongamento das tensões comerciais pode aprofundar a queda.
Projeções e riscos - A XP elevou sua projeção para o déficit em conta corrente em 2025 de US$ 65,7 bilhões (2,9% do PIB) para US$ 73,5 bilhões (3,2% do PIB), cortando em US$ 2 bilhões a previsão para exportações e aumentando a de importações. O IDP foi mantido em US$ 70 bilhões (3,1% do PIB).
Leal prevê desaceleração da atividade, com déficit de US$ 80 bilhões (3,5% do PIB) e IDP de US$ 78 bilhões (3,4% do PIB). Já a Capital Economics projeta cenário mais pessimista, com déficit chegando a 4% do PIB e possível redução na confiança dos investidores.
Em junho, o déficit mensal foi de US$ 5,131 bilhões, o maior para o mês desde 2014. Ajustado e anualizado, o saldo negativo chega a US$ 80 bilhões (3,6% do PIB), ante 1,5% a 2% no início de 2024. Para o economista Liam Peach, da consultoria, a deterioração rápida do saldo e a dependência de fluxos mais voláteis são preocupantes.
Farina alerta que, se o IDP cair mais, a pressão de alta no câmbio pode acelerar, impactando a inflação e atrasando cortes na Selic, hoje em 15%. A Genial projeta déficit de US$ 68 bilhões (3,08% do PIB) e IDP de US$ 66 bilhões (2,98% do PIB) em 2025, sem considerar uma escalada nas tensões comerciais com os EUA.
