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ECONOMIA

Tarifaço sobre a carne bovina é problema maior para os EUA do que para o Brasil, diz especialista

EUA compram 4,5% da produção nacional por ano e teriam dificuldade de encontrar rapidamente outro fornecedor desse volume com preço tão baixo como o do produto brasileiro

16 julho 2025 - 16h40
EUA compram 4,5% da produção anual de carne bovina brasileira
EUA compram 4,5% da produção anual de carne bovina brasileira - Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Em meio às turbulências que o tarifaço de Donald Trump tem provocado no mercado de carne bovina brasileira, com aumento da cautela por parte de pecuaristas e frigoríficos e até um ligeira queda nos preços da arroba do boi gordo, Guilherme Jank, economista e analista da Datagro, considera o problema muito mais difícil de ser resolvido pelos Estados Unidos do que pelo Brasil. “O Brasil é mais importante para os EUA na carne bovina do que os EUA para o Brasil”, afirmou o economista.

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Na terça-feira, 15, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, disse, após reunião do setor agropecuário no âmbito do comitê interministerial do governo que discute a reação do Executivo ao tarifaço dos EUA, que a sobretaxa de 50% sobre a carne bovina brasileira torna inviável a exportação para o mercado americano.

Perosa destacou que cerca de 30 mil toneladas de mercadoria com destino aos EUA estavam paradas em portos e até em alto-mar.

Os EUA são o segundo maior comprador da proteína brasileira, atrás apenas da China. Neste ano, o país comprou 4,5% da produção brasileira. Isso representa 400 mil toneladas por ano, disse Jank. Os 95,5% restantes da produção de carne bovina têm mercado.

No entanto, esses 4,5% representam um pequeno excesso de oferta no curto prazo, que afeta as operações, os mercados futuros. “Isso é natural”, observou o economista. Num primeiro momento, essa sobreoferta assusta e tem reflexos em preços e nas expectativas.

Dependência brasileira

Jank ressaltou que o mundo depende da carne do Brasil. “Mesmo que o Brasil não consiga exportar para os EUA, os americanos terão de comprar carne de outros países e os outros países têm limitação de oferta.” O resultado desse movimento de realocação é que será aberto espaço para o Brasil em outros mercados.

México, por exemplo, lembrou o analista, não era um mercado relevante até um ano e meio atrás para o Brasil. Mas, no primeiro semestre deste ano, foi o quarto maior comprador de carne bovina brasileira.

Também o país se tornou o segundo mercado entre os 20 principais que mais aumentaram as compras do Brasil no período. Há um consenso entre os analistas, disse Jank, de que outros mercados teriam interesse em absorver parte do que o Brasil exporta aos EUA. “Isso tende a aliviar um pouco o choque inicial da medida.”

Dificuldade de novos fornecedores

Outro ponto levantado por Jank que reforça que o tarifaço sobre a carne bovina brasileira é uma problema maior para os EUA do que para o Brasil diz respeito a dificuldade que os americanos terão para encontrar rapidamente um fornecedor de grandes volumes e com preços competitivos.

O Brasil respondeu neste ano por 5,4% de toda a carne bovina consumida pelos americanos entre janeiro a maio. São 710 mil toneladas por ano. Isso equivale a 90% das exportações anuais de carne bovina da Argentina e a um terço da exportação anual da Austrália. “Será difícil ter essa carne de outros lugares do mundo, seja em volume, seja em preço. Em volume podem até conseguir, mas vão pagar muito caro por isso.”

O preço da carne brasileira destinada à exportação, em média, de US$ 5,45 por quilo, é um dos mais baixos do mundo, observou o analista.

Na Argentina, essa média é de US$ 5,6, no Paraguai, US$ 5,8; no Uruguai acima de US$ 6,6, no México e Canadá varia entre US$ 8 e US$ 9, na Austrália supera US$ 7 e nos EUA, oscila entre US$ 11 e US$ 12 por quilo. “Nenhum outro mercado tem capacidade de competir nas mesmas condições do Brasil.”

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