
O Brasil se aproxima de uma das decisões mais delicadas para sua economia neste ano. A partir de 1º de agosto, entrará em vigor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, a mais alta entre os países afetados pela medida anunciada pelo presidente americano Donald Trump.

Apesar dos esforços do governo brasileiro para negociar uma saída, não há sinal de que a medida será revertida ou adiada. Donald Trump e seu secretário de Comércio, Howard Lutnick, reafirmaram que a tarifa será aplicada no prazo, sem exceções.
O vice-presidente Geraldo Alckmin tem liderado as tratativas com os EUA, mas, segundo o presidente Lula, as tentativas têm sido ignoradas: “Todo dia ele liga para alguém, e ninguém quer conversar com ele”, disse.
Enquanto o Brasil segue sem acordo, países como Reino Unido, Japão, Vietnã, Indonésia, Filipinas e a União Europeia conseguiram negociar reduções ou isenções nas tarifas. Para o Brasil, no entanto, as tensões políticas complicam o cenário: Trump condicionou publicamente a reversão da medida ao encerramento dos processos judiciais contra Jair Bolsonaro, a quem considera vítima de perseguição, reforçando o tom ideológico da decisão.
Os impactos econômicos da tarifa de 50% já começaram a aparecer. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima perdas de R$ 52 bilhões nas exportações e 110 mil empregos a menos no curto prazo. A Fiemg projeta consequências ainda mais graves: retração de até R$ 175 bilhões no PIB, redução de 1,3 milhão de postos de trabalho, e queda de até R$ 24 bilhões na renda das famílias.
Em um cenário de retaliação, com o Brasil impondo tarifa equivalente sobre os produtos americanos, a perda no PIB poderia atingir R$ 259 bilhões e quase 2 milhões de empregos.
Os principais setores afetados incluem:
- Petróleo, ferro, aço, carne, café, celulose, frutas e pescados.
- Produtores de ferro-gusa, como a SDS Siderúrgica, já tiveram embarques suspensos.
- Exportadores de manga e uva do Vale do São Francisco preveem perdas de até US$ 3 milhões.
- Empresas de pescado fresco, como a Produmar, avaliam parar completamente suas frotas em agosto.
Diversas empresas brasileiras têm buscado apoio de importadores americanos para pressionar o governo dos EUA a rever a medida. A CitrusBR, que reúne os maiores exportadores de suco de laranja, lembra que quase 60% do suco consumido nos EUA vem do Brasil.
No setor do café, o Cecafé articula com a National Coffee Association (NCA) nos EUA, que já iniciou conversas com autoridades locais para que o produto brasileiro fique fora da lista de tarifas.
Na mineração, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) também se mobiliza. O setor exporta 3,5% para os EUA e teme efeitos severos sobre a cadeia produtiva.
Diante do agravamento da crise, o governo federal finalizou um plano de contingência, que será avaliado por Lula. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o plano inclui medidas de apoio às empresas afetadas e segue as normas internacionais.
“Todo o cardápio possível e imaginável vai ser apresentado a Lula para decisão”, afirmou Haddad.
