
Entrou em vigor nesta quarta-feira (6), a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos. A medida, imposta pelo ex-presidente Donald Trump, afeta diretamente as exportações nacionais e pode impactar diversos setores da economia brasileira, especialmente os voltados ao mercado americano.

A nova regra tarifária exclui apenas 694 itens, que permanecem sujeitos à alíquota de 10% já praticada. Todos os demais produtos (incluindo carnes, café, máquinas industriais e pescados) passam a pagar o novo valor, o mais alto entre os países atingidos pela decisão. Na quinta-feira (7), outras nações também entrarão na lista, como Japão, Coreia do Sul e países da União Europeia, mas com taxas menores do que as aplicadas ao Brasil.
Como ficam os porcentuais por parceiro comercial (alguns, como o Brasil, terão, além do % abaixo, tarifas adicionais)
Segundo o próprio Trump, o motivo não está ligado à balança comercial que, no caso brasileiro, é favorável aos EUA desde 2009. Somente no primeiro semestre de 2025, os americanos acumularam um superávit de US$ 1,674 bilhão nas trocas com o Brasil.
A motivação, segundo o ex-presidente americano, é política. Trump critica o que chama de “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro, que atualmente está em prisão domiciliar por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), sob acusação de tentativa de golpe. A tarifa seria, portanto, uma espécie de resposta à crise política brasileira.
Apesar do impacto direto nas exportações, especialistas apontam que o efeito do tarifaço sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil será moderado. O UBS BB calcula uma queda de até 0,6 ponto percentual no crescimento, enquanto o Goldman Sachs projeta 0,25 ponto. O motivo é que 74% das exportações brasileiras para os EUA podem ser redirecionadas a outros mercados, especialmente no caso das commodities.
No entanto, para empresas que produzem exclusivamente para o mercado americano, o cenário é dramático. É o caso da Depinus, em Curiúva (PR), que exporta 90% da sua produção de painéis e molduras de madeira para os EUA. Com a entrada em vigor das tarifas, a empresa demitiu 23 dos seus 50 funcionários.
“Estamos mantendo parte da equipe para tentar atender mercados alternativos, como França e Caribe. Mas, se as tarifas não forem revistas em até 20 dias, a situação pode se agravar ainda mais”, explicou o proprietário Paulo Bot.
O governo federal já estuda um plano de contingência para mitigar os efeitos das tarifas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as medidas incluem crédito subsidiado, compras governamentais e prorrogação de impostos, sem comprometer o equilíbrio fiscal.
As ações, segundo Haddad, estão orçadas e com impacto controlado. O objetivo é evitar que o auxílio se transforme em despesa permanente, como ocorreu com programas emergenciais durante a pandemia da Covid-19.
Além disso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC), mesmo reconhecendo que Trump não considera a entidade relevante. Lula classificou o tarifaço como um “ataque injusto” ao Brasil.
Representantes do setor produtivo pressionam o governo por respostas concretas. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) entregou ao vice-presidente Geraldo Alckmin uma lista com oito propostas. Entre elas estão:
- Criação de linha de crédito via BNDES, com juros de 1% a 4%
- Ampliação do prazo para liquidação de contratos de câmbio de 750 para 1.500 dias
- Retomada do Programa de Proteção ao Emprego (PPE), que permite redução de jornada e salário
- Adiamento de tributos federais por 120 dias
Essas medidas visam principalmente pequenas e médias empresas, que têm menos capacidade de absorver o impacto da perda de mercado nos EUA.
No fim da semana passada, Trump sinalizou que estaria disposto a conversar com Lula, afirmando que o presidente brasileiro poderia “ligar quando quisesse”. No entanto, o contato ainda não ocorreu.
Nesta terça-feira (5), Lula afirmou que não pretende conversar com o ex-presidente americano sobre o tarifaço, mas disse que poderá convidá-lo para a Conferência do Clima (COP), ironizando a falta de interesse de Trump em questões ambientais.
“Não vou ligar para conversar porque ele não quer falar”, declarou Lula. “Mas vou convidá-lo para a COP, para saber o que ele pensa sobre mudanças climáticas.”
A tendência é que o impacto das tarifas comece a ser sentido de forma mais intensa a partir das próximas semanas, principalmente nas regiões onde as exportações para os EUA são mais representativas.
Caso o governo consiga implementar rapidamente medidas de apoio e diversificação de mercados, os danos podem ser amenizados. No entanto, para alguns setores, o desafio será reorganizar toda a cadeia de produção e logística em pouco tempo, algo que exige planejamento, crédito e apoio institucional.
