
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) divulgou, nesta quinta-feira, 31, as primeiras análises sobre o decreto presidencial assinado pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no dia 30 de julho, que impõe tarifas extras sobre as exportações brasileiras. A medida, que incide sobre uma parcela significativa das exportações para o mercado americano, representa um aumento de 50% nas tarifas de importação de certos produtos. A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) estima que a sobretaxa afetará 35,9% das exportações brasileiras para os Estados Unidos, o que equivale a aproximadamente US$ 14,5 bilhões, considerando o volume de 2024.

De acordo com o levantamento preliminar, 45% das exportações brasileiras para os EUA (cerca de US$ 18 bilhões) estão isentas dessa sobretaxa, conforme já havia sido indicado por consultorias como o Estadão. Entre os itens que escapam da tarifa estão produtos como aviões, celulose, suco de laranja, petróleo e minério de ferro, totalizando 694 categorias.
Outro dado relevante apresentado pelo Mdic é que 19,5% das exportações brasileiras para os Estados Unidos já estão sujeitas a tarifas específicas, aplicadas a todos os países, correspondendo a US$ 7,9 bilhões em 2024. Essas tarifas estão vinculadas à Seção 232 do Trade Expansion Act, com base na alegada segurança nacional, e não são afetadas pela nova medida anunciada no fim de julho.
Segundo o Mdic, 64,1% das exportações brasileiras para os Estados Unidos continuam concorrendo em condições semelhantes às de outros países no mercado americano. No entanto, a análise da pasta reforça que os números ainda são aproximados, uma vez que a lista completa de itens afetados pela tarifa ainda não foi divulgada por autoridades americanas.
Vale ressaltar que os produtos já em trânsito para os Estados Unidos, ou seja, aqueles embarcados no Brasil até sete dias após a publicação do decreto de Trump, não sofrerão com o acréscimo tarifário. Isso oferece algum alívio para exportadores que já estavam com mercadorias em processo de envio quando a medida foi anunciada.
Apesar das medidas punitivas adotadas pelos Estados Unidos, o governo brasileiro continua as negociações para minimizar os efeitos da tarifa de 50%. Em entrevista no programa Mais Você, da TV Globo, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, afirmou que as negociações com os Estados Unidos estão em andamento, mesmo com as exceções já anunciadas. Ele também indicou que o governo está empenhado em aumentar a lista de produtos isentos da taxa e reduzir o impacto sobre os setores mais afetados.
Alckmin destacou que a conversa direta entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump ainda depende de uma preparação adequada, mas ressaltou que a judicialização do caso por parte de empresas americanas pode ser uma forma de reverter a medida. O questionamento judicial nos Estados Unidos já está sendo encampado por algumas empresas daquele país que acreditam que a sobretaxa prejudica o mercado americano.
O impacto da medida sobre o setor agrícola brasileiro, especialmente em relação aos alimentos, continua sendo um ponto de incerteza. Embora Alckmin tenha afirmado que é difícil prever o aumento nos preços desses produtos no mercado internacional, ele garantiu que haverá uma maior oferta desses itens no mercado interno, caso a tarifa seja mantida.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também reforçou a continuidade das tratativas diplomáticas. Ele comentou que terá uma reunião com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, nos próximos dias. Para Haddad, a situação é melhor do que o esperado, mas ainda distante do ideal. Ele destacou que a equipe econômica está preparando um plano de contingência para lidar com os setores mais impactados, especialmente no curto prazo.
Embora a medida de Trump tenha sido justificada com base em questões políticas e de segurança nacional, é importante notar que os Estados Unidos mantêm um superávit comercial com o Brasil, o que torna a decisão ainda mais complexa. A ação de Trump reflete tensões políticas, em grande parte relacionadas a aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, o que só aumenta a polarização do cenário.
A imposição de tarifas extras pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, com destaque para a sobretaxa de 50%, já tem gerado forte repercussão e incertezas no setor produtivo brasileiro. O governo federal trabalha ativamente para minimizar os impactos, por meio de negociações com autoridades americanas e da articulação de um plano de contingência. No entanto, o futuro das exportações brasileiras para os EUA depende das decisões vindouras, seja por meio de ajustes diplomáticos ou de mudanças judiciais.
