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ECONOMIA E JUSTIÇA

Troca de relatoria no STF pode favorecer governo em ação bilionária sobre tributos

Ministra Cármen Lúcia pediu redistribuição de ação da AGU que busca reverter impactos da "tese do século"

15 outubro 2025 - 17h00Lavínia Kaucz
Ministra Cármen Lúcia pede redistribuição de ação sobre tributos no STF; governo tenta reverter derrota bilionária.
Ministra Cármen Lúcia pede redistribuição de ação sobre tributos no STF; governo tenta reverter derrota bilionária. - Foto: WILTON JUNIOR

A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), solicitou a redistribuição de uma ação que pode definir o futuro de milhares de processos tributários com impacto estimado em R$ 117,6 bilhões para os cofres públicos. A magistrada foi inicialmente sorteada como relatora do caso, movido pela Advocacia-Geral da União (AGU), mas pediu que o processo seja transferido para o ministro Kássio Nunes Marques.

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O pedido, publicado na terça-feira (14), aponta como justificativa a conexão direta entre essa nova ação da AGU e outro processo que já está sob relatoria de Nunes Marques: uma ação da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que discute a incidência de tributos federais sobre subvenções fiscais.

Tentativa de reverter derrotas da União - A iniciativa do governo federal, por meio da AGU, tenta frear o avanço de processos judiciais que seguem a lógica da chamada “tese do século”. Em 2017, o STF decidiu excluir o ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins, determinando a devolução de valores pagos indevidamente por empresas. A decisão causou um rombo bilionário na arrecadação federal e ainda hoje é criticada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Cármen Lúcia foi justamente a relatora daquela ação e votou contra a União. A derrota do governo, na época, se deu por 6 votos a 4. Agora, a AGU tenta reverter o cenário jurídico desfavorável por meio de uma nova ação protocolada em setembro. A ideia é convencer a Corte a validar a prática de “tributo sobre tributo” e, com isso, barrar outras ações semelhantes à tese de 2017.

A redistribuição do processo ainda depende da análise do ministro Edson Fachin, responsável por validar ou não o pedido de Cármen. Nos bastidores, a movimentação é vista como uma oportunidade para o governo mudar o rumo da jurisprudência, principalmente após alterações na composição do STF.

Diferentemente de Cármen Lúcia, cuja posição sobre o tema já é conhecida e contrária aos interesses da União, o ministro Kássio Nunes Marques não participou do julgamento da “tese do século”. À época, quem ocupava a cadeira era o ministro Celso de Mello, que votou pela exclusão do ICMS da base de cálculo.

Integrantes da área jurídica do governo avaliam que, se o julgamento ocorresse hoje, o resultado poderia ser diferente. Com novos ministros indicados nos últimos anos, há uma percepção de maior sensibilidade da Corte aos impactos fiscais das decisões tributárias.

Na ação apresentada pela AGU, o governo lista três temas tributários específicos que estão pendentes de julgamento no STF e que, juntos, representam um potencial prejuízo de R$ 117,6 bilhões. Embora os detalhes sobre esses temas não tenham sido divulgados oficialmente, eles seguem a lógica da “tese do século” ao contestar a inclusão de tributos na base de cálculo de outros.

O objetivo da ação é interromper essa “reprodução em série” de entendimentos favoráveis aos contribuintes e criar um marco legal que assegure a arrecadação federal em meio à fragilidade fiscal enfrentada pelo país.

Estratégia jurídica e impacto político - A movimentação da AGU também tem um componente político. A equipe econômica liderada por Fernando Haddad vem buscando formas de aumentar a arrecadação sem elevar alíquotas, o que inclui reverter decisões judiciais que reduziram a base de tributos.

Caso o processo seja de fato redistribuído e tenha um julgamento favorável ao governo, poderá representar um novo entendimento do STF sobre a constitucionalidade da incidência de tributos em cascata — algo historicamente criticado, mas que tem peso relevante na arrecadação.

A redistribuição da ação será um teste para o novo perfil do Supremo, mais alinhado ao Executivo em algumas agendas econômicas. A decisão de Fachin sobre o pedido de Cármen Lúcia é aguardada com expectativa por todos os envolvidos.

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