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RIO PARAGUAI

Seca afeta navegação e Porto Murtinho deixará de exportar US$ 66,5 milhões de agosto a novembro

Devido à baixa navegabilidade, a movimentação nos terminais portuários do município já recuou 22,02% de janeiro a julho deste ano na comparação com o mesmo período de 2020

25 agosto 2021 - 16h55Da Redação
Além dos embarques de soja, também foram escoados pelos terminais portuários de Porto Murtinho produtos como sementes e frutos oleaginosos
Além dos embarques de soja, também foram escoados pelos terminais portuários de Porto Murtinho produtos como sementes e frutos oleaginosos - Fotos: Gentilmente cedida por Toninho Ruiz)

Sem chuva há mais de dois meses, o nível do Rio Paraguai, na região do município de Porto Murtinho (MS), está em 1,54 metro de profundidade, ou seja, a menor já registrada para a região nos últimos sete anos, de acordo com relatório do Centro de Hidrografia e Navegação do Oeste da Marinha do Brasil, que mantém o monitoramento em vários pontos do rio entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Essa baixa histórica no nível das águas do Rio Paraguai, que está muito aquém da cota de permanência em tempos de estiagem, que é de 1,84 metro, tem como reflexo imediato a impossibilidade da navegação no rio e, consequentemente, a paralisação dos portos de Porto Murtinho, o que acarretará, de agosto a novembro deste ano, um prejuízo de US$ 66,52 milhões nas exportações pelo terminal portuário do município, já que, mensalmente, são exportados por mês US$ 16,63 milhões.

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De acordo com os dados da Carta de Conjuntura do Setor Externo, elaborada pela Semagro (Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar), a movimentação nos terminais portuários de Porto Murtinho já recuaram 22,02% de janeiro a julho de 2021 em relação ao mesmo período do ano passado. Nos sete primeiros meses de 2021, os portos do município embarcaram 218 toneladas de soja com destino à exportação, que representa US$ 90,77 milhões, enquanto no mesmo período do ano anterior foram 362 toneladas, representando US$ 116,41 milhões. Agora, com a paralisação das operações dos portos de Murtinho, a projeção é que a navegabilidade retorne em novembro, mas isso vai depender das chuvas esperadas a partir de outubro na região, quando se encerra o período da vazante.

O receio é que o volume não seja suficiente para garantir a navegabilidade no rio, que forma com o Paraná uma das principais vias fluviais da América do Sul, usada no escoamento de grãos tanto da produção brasileira quanto dos vizinhos Paraguai e Argentina, onde a seca também já compromete as exportações. No início deste mês de agosto, o secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar, Jaime Verruck, informou que o ciclo de seca deste ano é incomum, já que a estiagem só interromperia a navegação em outubro e, para tentar amenizar o problema, o Governo do Estado já pediu ao Ministério de Infraestrutura a dragagem em três pontos considerados críticos do Rio Paraguai que foram identificados pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).

O receio é que o volume não seja suficiente para garantir a navegabilidade no rio, que forma com o Paraná uma das principais vias fluviais da América do Sul - (Crédito: Foto gentilmente cedida por Toninho Ruiz)

No ano passado, o volume das exportações sul-mato-grossenses pela zona portuária de Porto Murtinho cresceu 57,83% no acumulado de janeiro a dezembro de 2020 em relação ao mesmo período de 2019 em função da entrada em atividade do terminal FV Cereais e do incremento nas estruturas da APPM (Agência Portuária de Porto Murtinho). Pelos portos do município, foram escoadas 384 mil toneladas ao longo de 2020, basicamente da safra de grãos do Estado, enquanto em 2019 foram 233 mil toneladas. A participação dos terminais portuários da cidade no escoamento das exportações de Mato Grosso do Sul passou de 1,49% no ano passado para 2,12% em 2020, sendo que a movimentação total de exportações na zona portuária também aumentou de 268 mil toneladas em 2019 para 396 mil toneladas em 2020.

Além dos embarques de soja, também foram escoados pelos terminais portuários de Porto Murtinho produtos como sementes e frutos oleaginosos, grãos, sementes e frutos diversos, plantas industriais ou medicinais, palhas e forragens, ferro fundido, ferro e aço, sal, enxofre, terras e pedras, gesso, cal e cimento. O destino principal dessas mercadorias foi a Argentina, em seguida a Bolívia e, por fim, o Paraguai, sendo que, além de produtos sul-mato-grossenses, também foram escoadas mercadorias de Minas Gerais, Distrito Federal e São Paulo. Infelizmente, devido à seca, todos esses números devem despencar.

De acordo com os dados da Carta de Conjuntura do Setor Externo, elaborada pela Semagro, a movimentação nos terminais portuários de Porto Murtinho já recuaram 22,02% de janeiro a julho de 2021 em relação ao mesmo período do ano passado - (Crédito: Foto gentilmente cedida por Toninho Ruiz)

Em entrevista à reportagem ao Grupo Feitosa de Comunicação, o prefeito de Porto Murtinho, Nelson Cintra, reforça que o Rio Paraguai está secando. "Nós estamos com 1,50 metro de profundidade, sendo que o normal seria 6,50 metros. No ano passado, a profundidade também ficou muito baixa, surgindo muitos bancos de areia, prejudicando até a utilização de bancos pequenos. Realmente, estamos vivendo um período muito crítico, a natureza está se rebelando contra o homem, pois, primeiro foram as geadas, agora é a seca", lamentou.

O prefeito de Porto Murtinho, Nelson Cintra - (Foto: Reprodução)

Incêndios

Além de prejudicar a navegabilidade e, consequentemente, as exportações, a seca no Rio Paraguai também está afetando o combate aos incêndios na região de Porto Murtinho, onde a estiagem já está entre as piores da série histórica, que data de 1937. "O nosso município está sendo destruído pelas queimadas, mas estamos trabalhando muito com o Corpo de Bombeiros, que conta com a ajuda dos produtos rurais. Os pecuaristas estão cedendo máquinas e peões para ajudar no combate ao fogo, porém, mesmo com todo esse esforço, estamos perdendo o controle do fogo. O Rio Paraguai secando, os açudes das propriedades rurais também estão secando e o gado está passando sede, obrigando os proprietários a irem busca água em outras regiões", alertou Nelson Cintra.

O prefeito de Porto Murtinho reforça que o município vive um momento muito crítico. "É triste, mas vamos torcer e orar a Deus para que isso seja contornado. Esses incêndios estão ameaçando as propriedades rurais e há uma grande possibilidade de chegar perto da cidade", pontuou, informando que o trabalho do Corpo de Bombeiros em Porto Murtinho é árduo e incessante, com equipes divididas em turnos, trabalhando até no período noturno, para evitar que o fogo se propague ainda mais e coloque vidas em risco.

Além de prejudicar a navegabilidade e, consequentemente, as exportações, a seca no Rio Paraguai também está afetando o combate aos incêndios na região de Porto Murtinho (Crédito: Foto gentilmente cedida por Toninho Ruiz)

Animais silvestres, domésticos e humanos são prioridade e, por isso, o foco do trabalho no município pantaneiro é o de evitar que as chamas se aproximem da área urbana e de sede de fazendas. Nelson Cintra revela que o Corpo de Bombeiros tem mantido equipe noturna, pois esse é o melhor horário para o combate direto ao fogo, já que a temperatura fica mais baixa e há um aumento da umidade do ar, além da redução do vento. De norte a sul de Porto Murtinho, o trabalho tenta conter os incêndios florestais, que tem como aliados também, o tipo de vegetação de predomina na região, os carandás, que são árvores com altura significativa e esses incêndios em carandazais faz com que o controle seja à distância, não mais direto.

No caso, o controle a distância se faz com a criação de aceiros, montados pelos bombeiros com ajuda de equipes da Prefeitura e outros voluntários da região. Os principais focos no município se concentram na região sudoeste, já chegando perto do Rio Apa. Mesmo assim, as demais áreas, como a norte, sul e meio-oeste também necessitam de atenção das equipes devido à grande quantidade de focos. De acordo com o Corpo de Bombeiros, nesse tipo de atividade de combate aos incêndios florestais é que tudo não acontece de um dia para o outro.

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