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INVESTIMENTO

Rota Bioceânica avança e empresários de MS projetam crescimento com novo corredor comercial

Com investimentos bilionários, ponte binacional e logística estratégica, empresários já ampliam negócios e aguardam impacto da nova rota para o Pacífico

17 fevereiro 2025 - 10h50Da Redação
Obras da ponte da Rota Bioceânica em Porto Murtinho
Obras da ponte da Rota Bioceânica em Porto Murtinho - (Foto: Reprodução)

O caminho que ligará o Brasil ao Oceano Pacífico passa por Mato Grosso do Sul. Mais precisamente, começa em Campo Grande e segue por Sidrolândia, Nioaque, Guia Lopes da Laguna e Jardim, até chegar a Porto Murtinho, onde uma ponte binacional sobre o rio Paraguai conectará o estado à cidade de Carmelo Peralta, no Paraguai. A partir dali, a rota segue por rodovias na Argentina e no Chile até os portos de Antofagasta e Iquique, reduzindo o tempo de exportação de produtos brasileiros para a Ásia em até 17 dias.

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A obra da ponte binacional, principal peça desse quebra-cabeça logístico, está 65% concluída. A estrutura terá 1.294 metros de comprimento e 29 metros de altura, com um orçamento de US$ 85 milhões financiados pela Itaipu Binacional. No canteiro de obras, 400 trabalhadores se revezam para garantir que tudo fique pronto até o primeiro semestre de 2026.

Caminho segue de CG a Porto MurtinhoCaminho segue de CG a Porto Murtinho

Com essa movimentação, empresários que vivem ao longo da rota já começam a adaptar seus negócios. Para Israel Pereira Vieira, produtor rural de Sidrolândia, o turismo pode se tornar um novo motor econômico. Ele transformou parte da fazenda São Clemente em um refúgio ecológico. “Acredito que o movimento vai aumentar muito com a rota. Já penso em abrir um restaurante na rodovia e até uma borracharia”, diz ele. Para se preparar, concluiu um curso de 240 horas para atuar como condutor de turismo e passou a oferecer pacotes que incluem café da manhã pantaneiro, trilhas de 5 km e banhos em cachoeiras.

A nova infraestrutura promete transformar Porto Murtinho, cidade que sempre foi considerada um “fim de linha” no mapa do estado, mas que agora se posiciona como porta de entrada para o comércio internacional. O município já recebe investimentos federais para a construção da alça de acesso à ponte, um trajeto de 13 km que inclui um centro aduaneiro e novas vias pavimentadas. O custo da obra é de R$ 472,4 milhões.

Israel Pereira com a esposa na sua fazenda de ecoturismoIsrael Pereira com a esposa na sua fazenda de ecoturismo

Do Pantanal ao Pacífico: a nova fronteira econômica de MS - A Rota Bioceânica já atraiu US$ 1,1 bilhão em investimentos privados nos últimos anos, segundo estimativas do Governo do Estado. Além da agropecuária, setores como logística, turismo e indústria começam a se beneficiar da nova realidade.

O empresário Alberto Galassi DuarteO empresário Alberto Galassi Duarte

O empresário Alberto Galassi Duarte percebeu que o novo corredor abriria espaço para o agronegócio de Mato Grosso do Sul expandir ainda mais suas operações. “Antes, Jardim era apenas um ponto de passagem. Agora, será o centro do escoamento para exportações”, avalia. Galassi fundou uma empresa especializada em nutrição animal e já estuda levar seus produtos para o Paraguai. “A logística da Rota Bioceânica vai baratear custos e permitir que pequenos produtores ampliem seus mercados”, acrescenta.

Zadrick Mendonça, dono da startup Óleoponto, também vê oportunidades. Ele criou uma máquina de reciclagem de óleo de cozinha e já expandiu seu negócio para o Rio de Janeiro. Agora, com a nova rota, pretende aumentar sua operação em Mato Grosso do Sul. “Antes, Jardim estava no fim do caminho. Agora, virou um hub de integração”, afirma.

Zadrick Mendonça, dono da startup ÓleopontoZadrick Mendonça, dono da startup Óleoponto

No setor do turismo, a empresária Annice Diaz já organiza pacotes para brasileiros visitarem cidades do Paraguai e da Argentina e vice-versa. “A ponte binacional será o passaporte que faltava para essa troca de turistas. Já trouxemos grupos paraguaios para Bonito e agora queremos expandir para Dourados, Jardim e Campo Grande”, conta.

Bruna Coelho em sua loja em Porto MurtinhoBruna Coelho em sua loja em Porto Murtinho

Bruna Coelho, dona de uma loja de pijamas personalizados em Porto Murtinho, aposta na expansão do comércio. Sua coleção inspirada no Pantanal já chegou ao Chile, e ela quer montar uma unidade produtiva na fronteira para reduzir custos logísticos. “Muitos empresários do comércio vão se beneficiar. Eu já consegui vender para o Chile, e isso é só o começo”, projeta.

Ponte binacional em Porto MurtinhoPonte binacional em Porto Murtinho

Obras aceleradas e expectativa de impacto imediato - A construção da ponte avança com uma técnica chamada “balanço sucessivo”, que permite erguer segmentos de concreto sobre o rio sem comprometer a navegação. Os viadutos já foram finalizados, e os pilares de sustentação da estrutura ultrapassaram 60% da execução, tanto no lado brasileiro quanto no paraguaio.

A previsão é que, após a conclusão da ponte, o tempo de transporte de mercadorias para a Ásia seja reduzido em até 17 dias, tornando produtos brasileiros mais competitivos no mercado global. O setor industrial estima que os custos de frete poderão cair em 30%, tornando a exportação mais viável para pequenos e médios produtores.

Entrada de Porto MurtinhoEntrada de Porto Murtinho

Para Douglas Oliveira Pereira, gerente de produção da ponte binacional, o impacto da obra vai além da logística. “Essa estrutura representa desenvolvimento, integração e prosperidade para os quatro países envolvidos”, afirma.

Aos poucos, Mato Grosso do Sul se posiciona no cenário internacional como um dos protagonistas do comércio exterior sul-americano. E os empresários locais já se preparam para aproveitar essa nova era de oportunidades.

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