
O caminho que ligará o Brasil ao Oceano Pacífico passa por Mato Grosso do Sul. Mais precisamente, começa em Campo Grande e segue por Sidrolândia, Nioaque, Guia Lopes da Laguna e Jardim, até chegar a Porto Murtinho, onde uma ponte binacional sobre o rio Paraguai conectará o estado à cidade de Carmelo Peralta, no Paraguai. A partir dali, a rota segue por rodovias na Argentina e no Chile até os portos de Antofagasta e Iquique, reduzindo o tempo de exportação de produtos brasileiros para a Ásia em até 17 dias.

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A obra da ponte binacional, principal peça desse quebra-cabeça logístico, está 65% concluída. A estrutura terá 1.294 metros de comprimento e 29 metros de altura, com um orçamento de US$ 85 milhões financiados pela Itaipu Binacional. No canteiro de obras, 400 trabalhadores se revezam para garantir que tudo fique pronto até o primeiro semestre de 2026.

Com essa movimentação, empresários que vivem ao longo da rota já começam a adaptar seus negócios. Para Israel Pereira Vieira, produtor rural de Sidrolândia, o turismo pode se tornar um novo motor econômico. Ele transformou parte da fazenda São Clemente em um refúgio ecológico. “Acredito que o movimento vai aumentar muito com a rota. Já penso em abrir um restaurante na rodovia e até uma borracharia”, diz ele. Para se preparar, concluiu um curso de 240 horas para atuar como condutor de turismo e passou a oferecer pacotes que incluem café da manhã pantaneiro, trilhas de 5 km e banhos em cachoeiras.
A nova infraestrutura promete transformar Porto Murtinho, cidade que sempre foi considerada um “fim de linha” no mapa do estado, mas que agora se posiciona como porta de entrada para o comércio internacional. O município já recebe investimentos federais para a construção da alça de acesso à ponte, um trajeto de 13 km que inclui um centro aduaneiro e novas vias pavimentadas. O custo da obra é de R$ 472,4 milhões.

Do Pantanal ao Pacífico: a nova fronteira econômica de MS - A Rota Bioceânica já atraiu US$ 1,1 bilhão em investimentos privados nos últimos anos, segundo estimativas do Governo do Estado. Além da agropecuária, setores como logística, turismo e indústria começam a se beneficiar da nova realidade.

O empresário Alberto Galassi Duarte percebeu que o novo corredor abriria espaço para o agronegócio de Mato Grosso do Sul expandir ainda mais suas operações. “Antes, Jardim era apenas um ponto de passagem. Agora, será o centro do escoamento para exportações”, avalia. Galassi fundou uma empresa especializada em nutrição animal e já estuda levar seus produtos para o Paraguai. “A logística da Rota Bioceânica vai baratear custos e permitir que pequenos produtores ampliem seus mercados”, acrescenta.
Zadrick Mendonça, dono da startup Óleoponto, também vê oportunidades. Ele criou uma máquina de reciclagem de óleo de cozinha e já expandiu seu negócio para o Rio de Janeiro. Agora, com a nova rota, pretende aumentar sua operação em Mato Grosso do Sul. “Antes, Jardim estava no fim do caminho. Agora, virou um hub de integração”, afirma.

No setor do turismo, a empresária Annice Diaz já organiza pacotes para brasileiros visitarem cidades do Paraguai e da Argentina e vice-versa. “A ponte binacional será o passaporte que faltava para essa troca de turistas. Já trouxemos grupos paraguaios para Bonito e agora queremos expandir para Dourados, Jardim e Campo Grande”, conta.

Bruna Coelho, dona de uma loja de pijamas personalizados em Porto Murtinho, aposta na expansão do comércio. Sua coleção inspirada no Pantanal já chegou ao Chile, e ela quer montar uma unidade produtiva na fronteira para reduzir custos logísticos. “Muitos empresários do comércio vão se beneficiar. Eu já consegui vender para o Chile, e isso é só o começo”, projeta.

Obras aceleradas e expectativa de impacto imediato - A construção da ponte avança com uma técnica chamada “balanço sucessivo”, que permite erguer segmentos de concreto sobre o rio sem comprometer a navegação. Os viadutos já foram finalizados, e os pilares de sustentação da estrutura ultrapassaram 60% da execução, tanto no lado brasileiro quanto no paraguaio.
A previsão é que, após a conclusão da ponte, o tempo de transporte de mercadorias para a Ásia seja reduzido em até 17 dias, tornando produtos brasileiros mais competitivos no mercado global. O setor industrial estima que os custos de frete poderão cair em 30%, tornando a exportação mais viável para pequenos e médios produtores.

Para Douglas Oliveira Pereira, gerente de produção da ponte binacional, o impacto da obra vai além da logística. “Essa estrutura representa desenvolvimento, integração e prosperidade para os quatro países envolvidos”, afirma.
Aos poucos, Mato Grosso do Sul se posiciona no cenário internacional como um dos protagonistas do comércio exterior sul-americano. E os empresários locais já se preparam para aproveitar essa nova era de oportunidades.
