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TARIFAÇO

Setor de saúde teme impacto de possível retaliação brasileira ao tarifaço dos EUA

Brasil importa bilhões em medicamentos e produtos médicos dos Estados Unidos; guerra comercial pode elevar preços em até 30%

29 julho 2025 - 21h00Agência Brasil
Setor de saúde teme impacto de possível retaliação brasileira ao tarifaço dos EUA
Setor de saúde teme impacto de possível retaliação brasileira ao tarifaço dos EUA - (Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil)

Uma possível reação do Brasil ao novo pacote de tarifas anunciado pelos Estados Unidos levanta preocupação no setor de saúde. Embora medicamentos e produtos farmacêuticos não estejam, a princípio, entre os itens atingidos pelo tarifaço proposto por Donald Trump, uma eventual retaliação brasileira pode encarecer insumos médicos essenciais, incluindo remédios para câncer e doenças raras.

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Atualmente, os medicamentos ocupam o topo da lista de produtos importados do Brasil junto aos Estados Unidos. Apenas no primeiro semestre deste ano, o país comprou cerca de US$ 4,3 bilhões em medicamentos de alto custo e itens farmacêuticos uma alta de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. Os EUA e a Alemanha respondem por aproximadamente 15% dessas importações, enquanto a União Europeia lidera com 60% do total.

Produtos usados em cirurgias, reagentes para diagnóstico, instrumentos médicos e aparelhos hospitalares também compõem boa parte das importações brasileiras. Em 2023, esse mercado movimentou quase US$ 10 bilhões no Brasil, sendo os Estados Unidos um dos principais fornecedores.

Paulo Fraccaro, CEO da Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (Abimo), alerta que a adoção de medidas de reciprocidade por parte do Brasil poderia gerar um aumento significativo no custo desses produtos. "Se nós adotarmos a reciprocidade, esses produtos chegarão mais caros nas prateleiras, na ordem de 30%, e o Brasil vai ter que procurar alternativas", afirma.

Entre os possíveis substitutos estão países como China, Índia e Turquia, mas a mudança de fornecedores pode exigir tempo de adaptação e não garante o mesmo padrão de qualidade ou agilidade logística.

Grande parte dos medicamentos de uso comum, como os genéricos, é produzida internamente no Brasil. No entanto, cerca de 95% dos insumos usados na fabricação vêm da China. Isso significa que, mesmo com produção nacional, o país continua fortemente dependente do mercado internacional para manter o abastecimento regular.

Medicamentos com patentes geralmente destinados ao tratamento de doenças raras ou com maior complexidade tecnológica também são majoritariamente importados. Nesse segmento, os Estados Unidos figuram entre os principais fornecedores.

Para Norberto Prestes, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), o atual cenário reforça a urgência de se investir em autonomia tecnológica e científica no setor farmacêutico.

"Temos a capacidade, temos pesquisadores brilhantes, que acabam indo para o exterior. Nós deveríamos reter esses talentos aqui e desenvolver nosso sistema para aumentar a nossa soberania nesse quesito", defende Prestes.

Segundo ele, investir em pesquisa, inovação e produção local é o único caminho para reduzir a vulnerabilidade do Brasil em momentos de tensões comerciais globais.

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