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Tebet diz que sobretaxa dos EUA é 'reação política' e aponta influência da família Bolsonaro

Ministra do Planejamento vê motivação ideológica na tarifa de 50% imposta por Trump e afirma que governo brasileiro busca evitar escalada de conflito

29 julho 2025 - 17h05Renan Monteiro e Lavínia Kaucz
A ministra disse que o Brasil tem o que oferecer aos EUA, mas 'as portas estão fechadas'
A ministra disse que o Brasil tem o que oferecer aos EUA, mas 'as portas estão fechadas' - Foto: Lula Marques/Agência Brasil

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou nesta terça-feira, 29, que o pacote de medidas em elaboração pelo governo federal para responder à tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos às exportações brasileiras deve ser encarado como uma “reação”, e não como uma “retaliação”. Segundo ela, o movimento liderado pelo presidente norte-americano Donald Trump carrega forte motivação política, influenciada por aliados da família Bolsonaro.

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“Não é o Brasil que saiu da mesa de negociação. O governo Lula sequer conseguiu se sentar. Trump não quer conversar com o Brasil, e isso tem uma motivação ideológica muito clara”, disse a ministra em entrevista à GloboNews.

A sobretaxa anunciada por Trump deve entrar em vigor na próxima sexta-feira, 1º de agosto, e atinge uma série de produtos brasileiros, em especial os ligados à indústria de base e ao agronegócio. Dentro do governo Lula, o tom tem sido de cautela para evitar uma guerra comercial com os EUA, como revelou o Estadão/Broadcast.

Influência bolsonarista e ataque ao STF

Para Tebet, o anúncio da tarifa tem como pano de fundo não apenas interesses econômicos, mas também um objetivo político de desgaste ao Judiciário brasileiro, sobretudo ao Supremo Tribunal Federal (STF). “Acredito que a medida foi direcionada ao ministro Alexandre de Moraes, mais do que ao presidente Lula. Trump uniu a fome com a vontade de comer: aproveitou o fator econômico para atingir um aliado do bolsonarismo.”

Ela afirmou que Trump está sendo “induzido ao erro” por mentiras difundidas por Eduardo Bolsonaro, que desde março vive nos Estados Unidos e tem feito articulações junto a setores da extrema-direita americana. “As mentiras da família Bolsonaro chegaram ao Trump e influenciaram essa postura. É uma questão ideológica e estratégica.”

Lula disposto a dialogar, mas ambiente é hostil

Segundo Tebet, o presidente Lula está disposto a conversar diretamente com Donald Trump, mas há preocupação sobre a ausência de um ambiente propício para o diálogo. “O presidente não tem problema em pegar o telefone e ligar. Mas é preciso que haja um ponto de partida mínimo, para que o ‘pós-telefonema’ não seja ainda pior do que a situação atual.”

Para a ministra, o governo americano ainda não explicitou exatamente o que deseja do Brasil, o que torna difícil qualquer avanço. “O que os EUA querem? O que ainda não têm do Brasil? Há algo que o Brasil já poderia ter oferecido e não ofereceu? Esse ponto de partida precisa ser construído.”

Apostas em minerais críticos e transferência de tecnologia

Um dos caminhos possíveis de aproximação entre os dois países está na área de minerais estratégicos. Tebet mencionou a possibilidade de acordos em torno de terras raras e minerais críticos — recursos de grande interesse para a indústria americana.

“Nós temos o que os EUA querem: terras raras, minerais estratégicos e oportunidades de investimento. Mas não vamos abrir mão das nossas regras ambientais e da nossa soberania. Minerar na Amazônia, por exemplo, está fora de questão”, afirmou.

O governo estuda lançar ainda neste ano uma política nacional para atração de investimentos em minerais críticos, tema que deverá ganhar destaque na COP-30, que será realizada em Belém (PA), em 2025.

Pacote tem foco em apoio e defesa comercial

Sobre o pacote de medidas preparado para enfrentar os impactos da tarifa americana, Tebet explicou que ele tem “menos viés fiscal do que se imagina” e inclui linhas de crédito, estímulos à exportação e possíveis ações antidumping. “Nosso objetivo não é retaliar, mas proteger os setores mais atingidos, como o aço e a agroindústria.”

A ministra avaliou que o governo tem capacidade de sustentar medidas de apoio por até dois anos, caso a tarifa seja mantida. “Estamos falando de um esforço pontual, mas que não compromete o equilíbrio fiscal. A ideia é garantir que os setores mais expostos consigam se adaptar e buscar novos mercados.”

Tebet também deixou claro que o governo aguarda até o último momento por algum recuo dos EUA. “Vamos esperar até o dia 1º de agosto. Pode haver redução nas alíquotas para determinados setores ou até uma postergação da entrada em vigor. Ainda não está tudo definido.”

Democracia e soberania não estão em jogo

Durante a entrevista, a ministra fez questão de reforçar que, embora esteja aberto ao diálogo, o governo brasileiro não aceitará colocar em risco valores fundamentais. “Democracia e soberania são inegociáveis. Essas bandeiras não vão para a mesa de negociação.”

Ela destacou que, apesar das dificuldades impostas pela postura do governo Trump, o Brasil tem acumulado protagonismo em pautas globais, como sustentabilidade, inclusão e equilíbrio comercial. “O mundo olha para o Brasil com respeito. Estamos construindo relações sólidas com União Europeia, China, países da América Latina. Não somos uma economia isolada.”

Big techs e regulação digital

Tebet também comentou brevemente a atuação do governo e do STF em relação às plataformas digitais e à disseminação de desinformação. “A regulação da apologia ao crime nas redes sociais é inegociável. O STF foi equilibrado, e o governo segue firme nessa pauta. Isso não tem a ver com censura, mas com responsabilidade.”

Tebet: 'Brasil tem o que os EUA querem, mas portas estão fechadas'

Para a ministra, a postura da Casa Branca reflete uma decisão deliberada de isolar o Brasil por motivações políticas. “As portas estão fechadas. O Brasil tem muito a oferecer, mas não será tratado como subalterno. Nossa resposta será técnica, estratégica e sem abrir mão dos nossos valores.”

Ela encerrou dizendo que o presidente Lula “sai fortalecido ao defender a soberania nacional”. “Não estamos de joelhos. Estamos com responsabilidade e estratégia, trabalhando por um Brasil respeitado e com protagonismo internacional.”

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