
Equipamentos do Projeto Sucuriu, da multinacional chilena Arauco, desembarcaram no Porto de Paranaguá, no Paraná, e deram início a uma operação logística que deve durar até 120 dias pelas rodovias brasileiras até Inocência, no leste de Mato Grosso do Sul.
As cargas vieram da China e passaram 52 dias em transporte marítimo. A partir do porto, seguem por cerca de mil quilômetros até o canteiro de obras da futura fábrica de celulose, que está sendo construída a 331 quilômetros de Campo Grande. O desembarque marca uma das etapas mais delicadas do cronograma do projeto.
Entre os equipamentos descarregados estão os separadores de topo de digestor, considerados alguns dos itens mais complexos da obra. Cada peça pesa cerca de 62 toneladas, tem 6,6 metros de altura, o equivalente a um prédio de dois andares, e aproximadamente 10 metros de comprimento, tamanho semelhante ao de um ônibus.
A operação no Porto de Paranaguá exigiu planejamento detalhado e coordenação entre diferentes equipes. Por se tratarem de cargas superdimensionadas, cada movimento precisou ser cuidadosamente calculado, desde o içamento até o posicionamento para o transporte terrestre.
Segundo o gerente de operações logísticas do terminal de contêineres de Paranaguá, Fábio Henrique Matos, as peças exigem soluções específicas. Ele explica que cada equipamento precisa de um desenho dedicado para o içamento, já que excede medidas de largura, comprimento, altura e peso. De acordo com ele, a experiência da equipe foi decisiva para garantir uma operação segura e adequada às necessidades do projeto.

Equipamento superdimensionado do Projeto Sucuriu é içado no Porto de Paranaguá após travessia marítima vinda da China.
O transporte faz parte de uma cadeia logística global que combina diferentes modais. Além do trajeto marítimo e rodoviário, algumas etapas podem envolver também o uso de ferrovias. Cada fase depende de autorizações especiais, definição de rotas e apoio de órgãos públicos, como a Polícia Rodoviária Federal e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
A logística do Projeto Sucuriu é coordenada pela empresa finlandesa Valmet, responsável pelo fornecimento de tecnologia, automação e equipamentos industriais. Trata-se de uma das maiores operações desse tipo já realizadas no país. Ao longo de toda a obra, a movimentação pode envolver mais de 60 mil carretas.
Somente na fase inicial do projeto, mais de 4 mil veículos já circulam pelas estradas brasileiras. A previsão é que esse número chegue a 12 mil até junho do próximo ano, à medida que novos equipamentos continuem chegando ao país.
Grande parte dos componentes usados na construção da fábrica é importada. Ao todo, equipamentos vêm de 18 países, entre eles China, Alemanha, Finlândia, Índia e Japão. Antes de chegar a Mato Grosso do Sul, cada carga enfrenta longos trajetos marítimos e, depois, deslocamentos terrestres complexos.

Operação logística mobiliza guindastes, carretas especiais e equipes técnicas no desembarque das peças gigantes no Paraná.
O gerente de projetos da linha de fibras da Valmet, Thiago Brandalize, explica que os equipamentos têm alta tecnologia e exigem manuseio preciso. Ele destaca que os separadores de topo são componentes essenciais do digestor no processo de produção de celulose e que o transporte seguro garante a qualidade da entrega ao cliente final.
No trecho rodoviário, os desafios aumentam. As cargas passam por rodovias estaduais e federais, cruzam áreas urbanas e pontos sensíveis da infraestrutura. Em alguns casos, são necessárias escoltas especiais, velocidade reduzida e até intervenções pontuais, como reforço de pontes ou retirada temporária de sinalização.
Um dos equipamentos que mais chama a atenção é o Balão da Caldeira. Ele tem 28 metros de comprimento, seção de 3 por 3 metros e pesa mais de 500 toneladas. Em determinados trechos, esse tipo de carga trafega a apenas 20 quilômetros por hora, sempre acompanhado por escoltas.
As rotas marítimas do projeto estão divididas entre dois portos principais. O Porto de Santos, em São Paulo, recebe equipamentos de dimensões ainda maiores, como o Balão da Caldeira. Já o Porto de Paranaguá concentra a maior parte das cargas especializadas destinadas ao empreendimento.
Mais do que uma operação logística, o Projeto Sucuriu é visto como um marco industrial. Com investimento superior a R$ 25 bilhões, a unidade será, quando concluída, a maior fábrica de celulose em linha única do mundo. A capacidade produtiva prevista é de 3,5 milhões de toneladas por ano, com início de operação estimado para o fim de 2027.
Durante a fase de construção, o projeto deve gerar mais de 14 mil empregos. Na etapa operacional, a expectativa é de cerca de 6 mil postos de trabalho diretos e indiretos. Com cronogramas mensais que podem chegar a até 400 cargas entre janeiro e maio do próximo ano, a logística do Projeto Sucuriu seguirá testando os limites técnicos enquanto avança pelo interior do país.

