
O primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, anunciou nesta sexta-feira (5) o adiamento da exigência para que as montadoras atinjam metas mínimas de vendas de veículos elétricos (EVs) a partir de 2026. A decisão ocorre em meio às dificuldades enfrentadas pelo setor automotivo canadense diante das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos sob a liderança do presidente Donald Trump.

A meta havia sido estabelecida durante o governo do ex-primeiro-ministro Justin Trudeau, que previa que, até 2026, ao menos 20% dos veículos de passageiros vendidos no país fossem de emissão zero. Com a mudança na política comercial norte-americana, o atual governo canadense optou por suspender temporariamente a imposição da meta ambiental.
"Temos um setor automotivo que, devido à mudança maciça na política comercial dos EUA, está sob enorme pressão. Reconhecemos isso", afirmou Carney. “O mandato para EVs se soma aos problemas de liquidez e aos desafios financeiros desses produtores. Eles já têm preocupações suficientes, então estamos tirando isso da pauta.”
Impacto direto das tarifas comerciais
As novas tarifas aplicadas pelos Estados Unidos afetaram diretamente a cadeia produtiva automotiva canadense, gerando instabilidade e agravando a situação financeira das montadoras. Com o mercado cada vez mais volátil, o governo canadense optou por priorizar a sobrevivência do setor industrial e a preservação de empregos.
Além de suspender a meta de eletrificação da frota, Carney anunciou uma série de medidas emergenciais para apoiar trabalhadores e empresas atingidos pelas disrupções comerciais. Entre elas está a flexibilização do acesso ao seguro-desemprego, com benefícios estendidos para trabalhadores impactados pelas paralisações ou cortes nas plantas industriais.
“Não podemos mais contar com nosso parceiro comercial mais importante como antes”, afirmou o premiê, referindo-se ao histórico de integração econômica entre Canadá e Estados Unidos, agora tensionado pelas ações protecionistas da Casa Branca.
Resposta chinesa agrava cenário comercial
A tensão no comércio internacional também se intensificou com a retaliação da China à tarifa de 100% imposta pelo Canadá sobre veículos elétricos chineses. Em resposta, o governo chinês aplicou uma tarifa de 75,8% sobre a importação da canola canadense, uma das principais commodities agrícolas do país.
Para mitigar os impactos da medida, o governo canadense anunciou um novo incentivo à produção no valor de 370 milhões de dólares canadenses (equivalente a US$ 268 milhões), destinado a apoiar os produtores de canola afetados pela perda de competitividade no mercado chinês.
Mudança de rota em meio à incerteza geopolítica
A reversão temporária de metas ambientais sinaliza um realinhamento estratégico do governo canadense diante da crescente instabilidade comercial internacional. Embora Carney reafirme o compromisso com a transição energética, ele admite que o momento exige “respostas práticas” para proteger a indústria e os empregos.
Analistas apontam que a suspensão da meta de vendas de EVs pode gerar atraso na agenda climática do Canadá, mas destacam que o governo parece determinado a evitar um colapso industrial em meio ao acirramento das disputas comerciais globais.
