
O Brasil alcançou em 2024 os menores índices de pobreza e extrema pobreza desde o início das séries históricas, segundo estudo divulgado nesta terça-feira (25) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A nota técnica mostra que, em três décadas, a renda domiciliar per capita cresceu 69,2%, enquanto a parcela da população em situação de pobreza extrema caiu de 25% em 1995 para 4,8%. A pobreza geral recuou de 61,2% para 26,8% no mesmo período.
O avanço é atribuído a dois fatores principais: o aquecimento do mercado de trabalho e a expansão — com maior eficácia — de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
O levantamento, intitulado “Pobreza e desigualdade no Brasil no curto e no longo prazo”, analisou dados de 1995 a 2024 a partir de pesquisas domiciliares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele aponta que os maiores avanços ocorreram em dois períodos: entre 2003 e 2014, e na recuperação pós-pandemia, entre 2021 e 2024.
Desigualdade também atinge menor patamar da série - O estudo revela que o Coeficiente de Gini — indicador que mede a desigualdade de renda — recuou de 61,5 em 1995 para 50,4 em 2024, uma queda de quase 18%. Quanto mais próximo de 100, maior a concentração de renda; quanto mais perto de 0, mais igualitária é a distribuição. Entre 2021 e 2024, o índice caiu 3,9 pontos, sendo 49% dessa melhora atribuída ao mercado de trabalho e 44% às transferências de renda.
“A combinação recente de crescimento econômico e menor desigualdade produziu progresso considerável contra a pobreza”, destacam os pesquisadores Pedro Ferreira de Souza e Marcos Hecksher, autores do estudo.
O levantamento usou as linhas de pobreza e extrema pobreza definidas pelo Banco Mundial. Considera-se em extrema pobreza quem vive com menos de US$ 3 por dia — o equivalente a R$ 267 por mês, em valores de 2024 pela Paridade de Poder de Compra (PPC). A linha de pobreza considera renda inferior a US$ 8,30 por dia, ou R$ 738 mensais.
Segundo o estudo, as transferências sociais, especialmente o Bolsa Família e o BPC, foram essenciais na redução da desigualdade e da pobreza. No entanto, os pesquisadores alertam para a desaceleração desse efeito em 2023 e 2024, período marcado pelo fim do ciclo de expansão desses programas. Isso fez com que o papel das transferências perdesse fôlego, ao passo que os benefícios previdenciários e o mercado de trabalho passaram a ter mais peso.
Mercado de trabalho sustentou melhora nos últimos anos - O crescimento da renda média foi impulsionado pela recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que voltou a crescer acima da média global em 2022, 2023 e 2024 algo que não ocorria desde 2013. Com isso, a renda per capita subiu de R$ 1.191 em 1995 para R$ 2.015 em 2024.
No biênio mais recente (2023-2024), metade da redução da desigualdade foi atribuída ao mercado de trabalho, enquanto apenas 16% vieram das transferências assistenciais. Os benefícios previdenciários, por sua vez, responderam por 22% da queda no Gini.
Apesar dos avanços, o Ipea alerta que a melhora nos indicadores sociais pode perder ritmo nos próximos anos, caso o mercado de trabalho não mantenha o desempenho positivo. Com o fim do ciclo de expansão das transferências assistenciais, o crescimento da renda dependerá cada vez mais da dinâmica do emprego.
Os pesquisadores também apontam limitações nas fontes de dados utilizadas. As pesquisas domiciliares tendem a subestimar tanto os benefícios sociais quanto os rendimentos dos mais ricos, o que pode distorcer parcialmente os indicadores.
“O aprimoramento das estatísticas sobre a distribuição de renda é um desafio premente, não só para o Brasil, mas também para outros países”, concluem os autores.


