
A Polícia Federal deflagrou na manhã desta sexta-feira (12) mais uma fase da Operação Sem Desconto, que apura um esquema de fraudes milionárias contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A ação, batizada de Operação Cambota, cumpre 13 mandados de busca e apreensão nos estados de São Paulo e no Distrito Federal, com autorização do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Entre os alvos da ofensiva policial estão Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, apontado como um dos principais operadores do esquema, e Maurício Camisotti, suspeito de ser sócio oculto de uma das associações envolvidas na fraude. Ambos foram presos.
A reportagem ainda não conseguiu contato com as defesas dos investigados.
Segundo a investigação da Polícia Federal, pessoas físicas e empresas ligadas ao lobista Antonio Carlos Camilo Antunes teriam recebido R$ 48,1 milhões de entidades acusadas de promover descontos indevidos em benefícios previdenciários de aposentados. Outros R$ 5,4 milhões teriam sido repassados a empresas relacionadas ao mesmo grupo, totalizando R$ 53,5 milhões em desvios.
O "Careca do INSS" é citado no inquérito como pagador de propinas a servidores públicos. A PF identificou que, somente em repasses ilegais a funcionários do INSS, o lobista teria desembolsado ao menos R$ 9,3 milhões.
No inquérito, ele é descrito como alguém “profundamente envolvido no esquema de descontos ilegais” e que exercia papel central como operador das vantagens indevidas.
Maurício Camisotti, também detido nesta fase da operação, é investigado como sócio oculto da Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), considerada a terceira maior beneficiária da fraude. Ele é suspeito de operar um esquema de lavagem de dinheiro por meio da entidade.
De acordo com a Polícia Federal, a Ambec figura entre as associações que cobravam valores indevidos diretamente dos benefícios de aposentados, sem autorização ou transparência, violando normas do sistema previdenciário.
A operação desta sexta-feira também teve como alvo o escritório Nelson Willians Advogados, um dos maiores do país. O inquérito aponta que o escritório teria recebido recursos de entidades e empresas envolvidas no esquema. A sede da banca foi alvo de mandado de busca e apreensão.
Ainda não há confirmação oficial sobre o envolvimento direto de advogados no caso, mas a PF apura se o escritório foi usado como meio para transações financeiras que possam configurar lavagem de dinheiro ou ocultação de patrimônio.
A Operação Sem Desconto teve sua primeira fase deflagrada em abril e mira um esquema sofisticado de fraudes no INSS, que inclui a cooptação de servidores, entidades de fachada e o uso de intermediários para legalizar valores desviados. O foco é o uso indevido de convênios entre o INSS e associações de aposentados, que permitiriam a cobrança de valores diretamente nos benefícios dos segurados.
A nova fase reforça o avanço das investigações sobre organizações criminosas estruturadas e especializadas em fraudes contra o sistema previdenciário, que movimentam cifras milionárias sob o manto da legalidade institucional.
