
A cena está armada no meio do mar, a 175 quilômetros da costa do Oiapoque. Uma sonda, seis embarcações, três helicópteros, um avião, duas bases de atendimento a animais — em Belém e no Amapá — e mais de 400 pessoas envolvidas. A Petrobras e o Ibama começam neste domingo (24) a chamada Avaliação Pré-Operacional (APO), um grande simulado de emergência que pode ser o último passo antes da liberação para perfuração no bloco FZA-M-59, na Bacia da Foz do Amazonas.

A APO funciona como um ensaio geral. O exercício testa a capacidade de reação em caso de derramamento de óleo: eficiência dos equipamentos, tempo de resposta, atendimento à fauna, comunicação com autoridades. Cada etapa é observada de perto pelo Ibama. Se tudo correr bem, a estatal poderá receber o aval para iniciar a perfuração no poço batizado de Morpho 1-APS-57.
A Petrobras diz que nunca mobilizou tanto recurso para um teste do tipo. “É a maior estrutura de resposta a ocorrências já preparada pela companhia”, repete a presidente, Magda Chambriard.
Mas, fora das águas profundas, a disputa continua. Ambientalistas acusam a estatal de insistir em um projeto que contraria a lógica da transição energética. A Academia Brasileira de Ciências chegou a recomendar, em nota, que se façam mais estudos antes de qualquer perfuração. Ativistas lembram a proximidade de ecossistemas sensíveis e temem que um acidente tenha consequências irreversíveis.
O outro lado da pressão vem de dentro do governo. O Ministério de Minas e Energia, parte da Esplanada e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendem que a licença saia. O argumento é econômico: a produção futura evitaria que o Brasil tivesse de importar petróleo na próxima década. A conta pesa: só a espera pela autorização, segundo a estatal, custa R$ 4 milhões por dia.
No Congresso, o senador Davi Alcolumbre (União-AP) lidera articulações para acelerar o processo. A estatal insiste que a região, apesar do nome “Foz do Amazonas”, fica a 540 quilômetros da saída do rio.
Enquanto a decisão não sai, o mar virou palco de ensaio. O simulado deve durar entre três e quatro dias, sujeito ao tempo e ao desempenho das equipes.
Se o Ibama aprovar, o próximo movimento será a broca da Petrobras rompendo o fundo do mar, em busca do petróleo que pode redefinir o mapa energético do país — e, talvez, também a sua imagem ambiental.
