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PETROBRAS

Petrobras avalia voltar ao setor de distribuição; mercado vê medida como negativa

Conselho de Administração da companhia deve avaliar se incluirá proposta no Plano de Negócios 2026-2030; para o mercado, estatal deve se concentrar em exploração e produção de petróleo

17 julho 2025 - 20h30Denise Luna e Gabriela Cunha
Proposta de voltar ao setor de distribuição de combustíveis reforça percepção de maior intervenção estatal, segundo analista
Proposta de voltar ao setor de distribuição de combustíveis reforça percepção de maior intervenção estatal, segundo analista - (Foto: Pedro Kirilos/Estadão)

Um possível retorno da Petrobras ao mercado de varejo de combustíveis é visto como negativo tanto do ponto de vista de negócios quanto do de governança, dizem analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast. A avaliação é que a estatal deve concentrar esforços em exploração e produção de petróleo, como faz na Bacia de Santos. Além disso, concorrentes como Ultrapar, Cosan e até mesmo a Vibra já têm presença relevante, dado o tamanho do mercado.

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O Estadão/Broadcast apurou que o Conselho de Administração da companhia deve avaliar se incluirá no Plano de Negócios 2026-2030 a volta da estatal ao setor de distribuição.

Rodrigo Glatt, sócio da GTI Administração de Recursos, destaca que, ainda que a estatal seja um nome "de peso", o desenvolvimento de novos postos seria menos rentável do que os já existentes. "É um business de capital intensivo e de retornos muito mais baixos do que os investimentos que ela tem em exploração de petróleo, que é onde ela devia focar", diz.

Segundo pessoas a par do assunto, a Petrobras cogita voltar ao setor por meio de um projeto greenfield - ou seja, começando do zero, como foi há décadas com a criação da BR Distribuidora. A intenção não seria o controle de preços, mas garantir que não haverá represamento de cortes do valor das refinarias da empresa ao consumidor final.

A BR Distribuidora foi privatizada entre os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro e recebeu o nome de Vibra, mas ficou com direito de usar a marca Petrobras nos postos por um período. O contrato vence em 2029 e não deve ser renovado.

Apesar de a estatal ter reduzido o preço da gasolina em 5,6% no início de junho, os postos de abastecimento praticamente não repassaram a queda, o que trouxe descontentamento ao governo Lula.

"Para montar uma rede como da Ultrapar, da Ipiranga, ou da Cosan, com a Shell, leva-se muito tempo, e o mercado já está ocupado. A saída seria desenvolver novos postos ou comprar redes pequenas de bandeira branca, o que exigiria muito trabalho e levaria tempo para a Petrobras se tornar relevante", complementa Glatt.

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a notícia sinaliza pressão negativa sobre o segmento de distribuição. "Os postos ganham pela variação de preços ao longo do tempo, e os retornos já estão ruins porque a Petrobras não acompanha a cotação internacional. Me parece que, se a estatal assumir postos, será ruim para todo o setor, ao criar distorção difícil de reverter."

A Ativa avalia que, no longo prazo, a medida é potencialmente destrutiva de valor tanto para a estatal, que deveria focar em E&P, quanto para a Vibra. "Ainda que a proposta possa gerar reação positiva de curto prazo nas ações da distribuidora, apoiada em dispositivos de proteção acionária, temos dúvidas quanto à capacidade de execução sob uma nova gestão Petrobras", diz a casa.

Para Cruz, mesmo que a ideia não seja a de controlar preços, o movimento reforça a percepção de maior intervenção estatal. "Acho que o passo seguinte ainda não foi dado porque as contas públicas estão deficitárias, e a Petrobras vem sendo solução, ano após ano, por meio dos dividendos", afirma.

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