
Um levantamento global realizado pela Ipsos, divulgado nesta quarta-feira (3), mostra que a percepção de desigualdade no Brasil atinge níveis alarmantes. Oito em cada dez brasileiros (79%) acreditam que a economia nacional é estruturada para beneficiar os ricos e poderosos. E a crítica ao desequilíbrio social é ainda mais ampla: 84% dos entrevistados consideram que a má distribuição de renda é prejudicial à sociedade.
A pesquisa Ipsos Global Trends ouviu cerca de 1.000 brasileiros e analisou dados de 43 países. A média global dos que veem a economia como ferramenta para favorecer os mais ricos é de 71%, enquanto 78% condenam a concentração de renda. No Brasil, os números superam a média em ambos os quesitos.
Riqueza cresce, desigualdade também - Segundo o relatório da Ipsos, a concentração de riqueza cresceu três vezes mais rápido em 2023 do que no ano anterior. A projeção é que o mundo possa testemunhar o surgimento do primeiro trilionário em breve.
“O contraste entre a pobreza injusta e a riqueza das elites globais está mais acentuado. Esse estresse social fragilizou estruturas tradicionais e estimulou o surgimento de novas ideologias e lealdades”, afirmou Marcos Calliari, CEO da Ipsos no Brasil.
A insatisfação dos brasileiros também recai sobre o setor privado. Para 85% dos entrevistados, as empresas não devem pensar apenas em lucro, mas contribuir com a sociedade. A exigência por responsabilidade social é ainda mais forte entre jovens de 16 a 24 anos (88%) e pessoas entre 55 e 74 anos (89%).
Conflitos familiares e tensões políticas crescem - Outro dado que chama atenção é o avanço dos conflitos dentro das famílias. Mais de seis em cada dez brasileiros (61%) relataram brigas familiares por divergências de valores — um aumento de três pontos em relação ao ano passado e bem acima da média global, que é de 47%.
O Brasil aparece como o quarto país com mais relatos desse tipo de tensão, atrás apenas de Emirados Árabes (69%), Índia (65%) e África do Sul (62%). As discussões são mais comuns entre homens (63%), pessoas entre 35 e 44 anos (67%), de baixa renda (70%) e com menor escolaridade (71%).
O estudo também apontou uma mudança na percepção dos brasileiros sobre imigração. Para 73% dos entrevistados, há imigrantes demais no Brasil — um aumento de seis pontos em relação ao ano anterior. Essa visão é mais forte entre mulheres (76%), pessoas de 35 a 44 anos (81%) e indivíduos com baixa renda (75%) ou escolaridade (84%).
Apesar da percepção de excesso, a maioria dos brasileiros (61%) acredita que a imigração traz impactos positivos à sociedade, índice bem acima da média global, de 45%. O CEO da Ipsos aponta que parte da população ainda associa o termo “imigrante” às antigas levas migratórias dos séculos XIX e XX, o que pode distorcer a visão sobre os fluxos migratórios atuais.
Globalização ainda é bem vista no Brasil - A pesquisa também revela que, apesar da instabilidade econômica global causada por guerras, desastres naturais e disputas comerciais, os brasileiros mantêm uma visão positiva da globalização. No país, 75% dos entrevistados acreditam que ela traz benefícios acima da média global de 64%.

