
Num País com 8,6 milhões de desempregados - um contingente equivalente a toda a população da Suíça -, quatro Estados vivem uma realidade diferente, com uma disputa intensa pela mão de obra.

No ano passado, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Santa Catarina encerraram o ano com uma taxa de desocupação abaixo de 4%, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Trimestral, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Enquanto isso, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Amapá continuam com taxas acima de 10%.
Os números positivos de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia podem ser explicados pelo bom desempenho do agronegócio nos últimos anos, o que ajudou a estimular toda a economia local.
"De um modo geral, são Estados com um conjunto de atividades relacionadas ao agronegócio", afirma Ezequiel Resende, coordenador da unidade de economia, estudos e pesquisa da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems).
A força do agronegócio não beneficiou apenas o setor nesses Estados, mas também toda a cadeia ligada a ele - como produção de máquinas. Em 2023, por exemplo, a expectativa é de que o País colha uma safra recorde de grãos, alcançando 298 milhões de toneladas, um crescimento de 13,3% em relação a 2022 (34,9 milhões de toneladas a mais).
Fábrica da Suzano abre milhares de vagas em Mato Grosso do Sul
Em Ribas do Rio Pardo, uma cidade com cerca de 25 mil habitantes, a Suzano tem de recorrer a mão de obra de fora da região para dar conta de levar o seu investimento adiante e garantir o funcionamento da sua futura planta, cuja operação deve começar no segundo semestre do ano que vem.
A demanda da empresa por profissionais se dá em diversas fases: na de obras e montagem, por exemplo. E será necessária no momento em que a planta da companhia passar a operar plenamente. No pico, 10 mil empregos diretos devem ser criados.
“Na fase de montagem, não espero que Ribas do Rio Pardo possa dispor de profissionais especializados num local em que nunca houve uma indústria do nosso porte”, afirma Mauricio Miranda, diretor de Engenharia da Suzano e responsável pelas obras de implantação da nova fábrica. O investimento total da nova unidade é de R$ 19,3 bilhões.
Num Estado em que a disputa por mão de obra é grande - a taxa de desocupação em 2022 foi de apenas 3,3% -, a Suzano começou a treinar profissionais locais para trabalhar na nova planta. Já foram capacitadas 198 pessoas e, desse contingente, 133 estão praticando na unidade de Três Lagoas.
“Se você não qualificar a mão de obra, você não tem de maneira geral”, afirma Miranda. “Tem uma grande base de formação que precisa acontecer.”
Além da produção de celulose, Mato Grosso do Sul tem aproveitado o bom momento do agronegócio.
“São (destaques os) segmentos vinculados à produção de soja, milho, celulose e até de minério de ferro. E esse conjunto de atividades vem apresentando um bom desempenho há algum tempo”, afirma Ezequiel Resende, coordenador da unidade de economia, estudos e pesquisa da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems).
Coordenador da Unidade de Economia, Estudos e Pesquisas da Fiems, Ezequiel Resende
No ano passado, a safra de grãos do Estado foi de 22 milhões de toneladas. Em 2023, de acordo com o IBGE, deve crescer 11,6% e chegar a 24,6 milhões de toneladas.
“Nos últimos anos, há uma carteira de investimentos bilionários no Estado na expansão de várias atividades, como celulose, frigoríficos, processamento de milho, fábricas de etanol”, diz Resende.
Ponderação - Em Rondônia, porém, apesar de o agro movimentar o mercado de trabalho, a baixa taxa de desemprego também está associada à reduzida participação da força de trabalho. Enquanto no Brasil, no ano passado, 62,4% da população em idade de trabalhar estava empregada ou buscava emprego, em Rondônia, esse número era de 60,5%. Essa diferença sugere que, no Estado, há uma busca menor por ocupação, segundo o economista Lucas Assis, da consultoria Tendências.
Já em Santa Catarina, a explicação para o baixo desemprego vai além do campo. Com agronegócios e indústria alimentícia no oeste, indústria metalomecânica e têxtil no norte, turismo e tecnologia no litoral e indústrias cerâmica e de móveis no sul, a diversificação da economia catarinense torna improvável uma explosão no desemprego mesmo quando o País enfrenta crises severas. "Essa diversificação produtiva permite ao Estado não ser abatido de maneira tão forte por crises setoriais", diz o economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Pablo Bittencourt. "Quando tem um problema no agro, tem outro setor respondendo melhor."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
