
As ações das multinacionais francesas Edenred e Pluxee recuaram fortemente nesta quarta-feira (12) na Bolsa de Paris após o governo brasileiro anunciar um novo marco regulatório para o mercado de vales-refeição e alimentação. As medidas visam aumentar a concorrência e reduzir custos no setor, que movimenta mais de R$170 bilhões por ano e atende cerca de 22 milhões de trabalhadores no país.
Pela manhã, os papéis da Edenred dona da marca Ticket caíam 9%, enquanto os da Pluxee, antiga Sodexo Benefícios, recuavam 11%, refletindo a apreensão dos investidores quanto aos impactos financeiros da nova regulamentação.
O que muda com o novo decreto - Assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o decreto estabelece limites para as taxas cobradas dos estabelecimentos (conhecidas como "taxas de desconto") e encurta o prazo de reembolso para os comerciantes. Entre as principais mudanças:
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A taxa máxima que os estabelecimentos podem pagar por transações com cartões de vale-refeição foi limitada a 3,6%, contra até 8% praticados anteriormente.
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O prazo para repasse dos valores aos estabelecimentos será de, no máximo, 15 dias atualmente esse período pode chegar a 30 dias.
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O decreto também coloca em prática a interoperabilidade entre bandeiras, permitindo que cartões de diferentes operadoras sejam aceitos nos mesmos terminais, como já previa uma lei aprovada em 2022.
Empresas alertam para perdas e reagem - A Edenred afirmou ter sido surpreendida pelas medidas e alertou que os termos do decreto diferem substancialmente do que vinha sendo discutido com o governo e com a associação do setor. Segundo a empresa, seu Ebitda orgânico projetado para 2026 poderá cair entre 8% e 12% em relação às estimativas anteriores, que previam um crescimento de 2% a 4%.
Já a Pluxee manifestou preocupação com a sustentabilidade de longo prazo do programa de alimentação do trabalhador. A companhia mencionou riscos maiores de inadimplência, uso indevido dos recursos e desequilíbrio de crédito, especialmente no atendimento a clientes públicos. Ambas as empresas informaram que avaliam medidas jurídicas para mitigar os efeitos do novo marco.
Mercado brasileiro é estratégico para o setor - O Brasil representa uma fatia significativa da receita operacional global das duas empresas. Em 2024, o negócio de vales-refeição e alimentação no país respondeu por cerca de 29,5% da receita da Edenred e por 38,4% da receita da Pluxee. Por isso, qualquer alteração regulatória com impacto direto na operação local tende a repercutir fortemente no desempenho global das companhias.
Objetivo: mais concorrência e menos custos - Segundo o governo federal, o novo marco busca ampliar a concorrência no setor, reduzir as taxas de intermediação cobradas dos estabelecimentos e garantir maior transparência e eficiência no uso dos benefícios concedidos aos trabalhadores. A proposta também é tornar o sistema mais justo para os pequenos comerciantes e ampliar a adesão de novas empresas ao segmento, incluindo fintechs e startups.
Próximos passos - O decreto ainda deverá passar por regulamentações complementares e poderá sofrer ajustes conforme sua implementação. O mercado acompanha com atenção os desdobramentos e os movimentos das principais operadoras do setor, que terão de revisar contratos, readequar sistemas e renegociar com redes credenciadas.

