
A WePink, marca de cosméticos fundada pela influenciadora digital Virginia Fonseca, está no centro de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), que acusa a empresa de adotar práticas abusivas contra consumidores em todo o país. O processo foi ajuizado com pedido de tutela de urgência nesta quinta-feira (9), com base em mais de 94 mil reclamações registradas no site Reclame Aqui nos últimos 12 meses, além de 340 denúncias formais no Procon Goiás entre 2024 e 2025.

Segundo a ação, a WePink teria descumprido diversos direitos básicos do consumidor, incluindo atraso na entrega de produtos, resistência na devolução de valores pagos, atendimento ineficiente, exclusão sistemática de críticas nas redes sociais e até a entrega de itens com defeito. O MP alega ainda que a empresa comercializou produtos que sequer estavam disponíveis em estoque, o que pode configurar má-fé e publicidade enganosa.
O promotor de Justiça Élvio Vicente da Silva, autor da ação, sustenta que os próprios sócios da empresa admitiram, publicamente, a falha no cumprimento das obrigações com os clientes. Em uma transmissão ao vivo nas redes sociais, Thiago Stabile, um dos sócios da WePink, reconheceu que a empresa vendeu produtos sem ter condições logísticas de entrega.
"A gente saltou de 200 mil faturamentos por mês para 400 mil faturamentos por mês. De fato, tivemos um problema de abastecimento, porque a gente cresceu muito rápido", disse Stabile, em um vídeo amplamente compartilhado por consumidores.
Seis práticas abusivas identificadas
Na ação, o Ministério Público aponta seis práticas consideradas abusivas por parte da WePink:
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Falta de entrega: milhares de consumidores afirmam que pagaram por produtos que nunca chegaram, mesmo após meses de espera;
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Descumprimento de prazos: atrasos generalizados, com registros de entregas que ultrapassaram sete meses;
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Dificuldade de reembolso: relatos de resistência na devolução dos valores pagos por produtos não entregues;
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Atendimento deficiente: sistema automatizado, que responde por 30% das interações, não soluciona os problemas dos clientes;
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Exclusão de críticas: remoção de comentários negativos em redes sociais, dificultando o acesso a informações reais sobre os produtos;
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Produtos com defeito: envio de cosméticos estragados ou diferentes dos anunciados.
Pedidos do MP na Justiça
Diante do cenário, o MP-GO solicita à Justiça medidas urgentes para proteger os consumidores. Entre os principais pedidos estão:
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Entrega imediata de todos os produtos já pagos;
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Suspensão das lives promocionais da WePink até que todas as pendências sejam resolvidas;
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Criação de um canal efetivo de atendimento humano, com resposta inicial em até 24 horas;
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Implementação de um sistema de cancelamento e reembolso mais ágil, com devolução dos valores em até sete dias úteis;
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Aplicação de multa diária de R$ 1 mil por descumprimento de qualquer uma das ordens judiciais.
Além disso, o MP pede indenização de R$ 5 milhões por danos morais coletivos, com valor revertido ao Fundo Estadual de Defesa do Consumidor (FEDC). Também solicita uma condenação genérica que permita aos consumidores lesados ingressarem com pedidos de reparação individual por danos morais.
A ação também mira diretamente os responsáveis pela empresa, incluindo Virginia Fonseca, que participa ativamente das campanhas de marketing da marca nas redes sociais. Segundo o promotor Élvio Vicente, os sócios devem ser responsabilizados pessoalmente, já que tinham pleno conhecimento das falhas operacionais e, ainda assim, optaram por manter a estratégia de vendas em larga escala.
"Não se trata de um simples problema de logística ou demanda inesperada, mas de um modelo de negócio que se baseia na exploração da vulnerabilidade do consumidor, especialmente com o uso de ‘ofertas-relâmpago’ para induzir compras impulsivas", afirmou o promotor.
Até o momento, nem a WePink nem Virginia Fonseca se pronunciaram oficialmente sobre a ação. A reportagem do Estadão tentou contato com a assessoria de imprensa da influenciadora e da empresa, mas não obteve resposta.
