
O Mercosul deu mais um passo na direção de ampliar seus laços comerciais com países desenvolvidos. Em cerimônia realizada na última terça-feira (16), no Rio de Janeiro, foi assinado o acordo de livre comércio entre o bloco sul-americano e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), formada por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein.

Embora esses países representem hoje menos de 1% das exportações brasileiras, o acordo é considerado estrategicamente simbólico e politicamente relevante. Ele ocorre em um momento em que o Brasil precisa diversificar seus parceiros comerciais, pressionado pelas novas barreiras tarifárias impostas pelos Estados Unidos, que afetam principalmente a indústria de bens industrializados.
Impacto político e econômico
A avaliação de analistas e entidades do setor produtivo é unânime: o impacto comercial imediato deve ser modesto, mas o simbolismo da parceria é significativo. O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, foi direto:
"É um acordo mais político do que comercial. Vale mais por mostrar que o Mercosul pode negociar com países ricos do que pelas exportações em si."
Segundo dados do governo brasileiro, o acordo poderá gerar R$ 3,34 bilhões em exportações adicionais até 2044 e um acréscimo de R$ 2,69 bilhões no PIB. Em 2024, o Brasil exportou US$ 3,1 bilhões para os quatro países do bloco, sendo 38% disso em alumina calcinada.
Oportunidades e entraves
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) identificou mais de 700 oportunidades de exportação ao bloco europeu. Ainda assim, especialistas alertam que o Brasil precisa resolver gargalos internos como infraestrutura deficiente, alta carga tributária e custos elevados de produção, que dificultam a competição com grandes economias como China, Estados Unidos e União Europeia.
O economista Márcio Sette Fortes, ex-diretor do Brasil no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), reforça que, mesmo que o impacto imediato seja pequeno, o momento exige ação:
"Estamos perdendo mercado nos EUA. Qualquer solução, pequena ou grande, que ajude nas exportações é bem-vinda."
O que muda com o acordo
Pelos termos assinados, a EFTA eliminará 100% das tarifas de importação para produtos industriais e pesqueiros assim que o acordo entrar em vigor. Já os produtos agrícolas do Mercosul terão acesso preferencial, seja por isenção tarifária ou concessões parciais.
Agora, o acordo passará pelo processo de internalização, o que inclui aprovação nos parlamentos dos países envolvidos e posterior ratificação.
Com isso, o Mercosul passa a ter acesso preferencial aos dois principais blocos econômicos da Europa: a União Europeia (acordo em fase final de negociação) e, agora, a EFTA.
Indústria celebra, mas pede ajustes
Setores como o de máquinas e equipamentos avaliam positivamente a abertura de mercados, mas pedem tempo para adaptação. A diretora-executiva da Abimaq, Patrícia Gomes, afirma que a importância do acordo é mais estratégica do que imediata:
"É uma forma de o Brasil mostrar ao mundo que quer abrir sua economia. Mas para a indústria, os efeitos só virão com tempo e apoio à competitividade."
A entidade defende que os acordos comerciais incluam redução gradual dos impostos de importação, com isenção total apenas após dez anos. Isso permitiria à indústria se ajustar às novas regras enquanto a reforma tributária busca reduzir o custo Brasil.
Efeito dominó positivo
Para o ex-secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, o tratado com a EFTA também serve como pressão diplomática positiva sobre a União Europeia, mostrando que o Mercosul está aberto a negociações e pronto para concluir acordos com blocos desenvolvidos.
"É quase uma cópia do acordo com a União Europeia, mas mostra que estamos nos movimentando. Isso pode acelerar o Mercosul-UE", afirmou Barral.
