
O mercado financeiro revisou para cima a expectativa de inflação no curto e médio prazo, de acordo com o novo Relatório Focus divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira, 21. A mediana das projeções indica que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve acumular alta de 0,82% no terceiro trimestre de 2025 — uma taxa superior aos 0,77% previstos anteriormente pelo próprio BC no último Relatório de Política Monetária (RPM).

A estimativa para o mês de julho subiu de 0,25% para 0,31%. Já para agosto, houve uma reversão significativa: de alta de 0,27%, passou para uma projeção de deflação de 0,04%. Em setembro, a previsão avançou de 0,32% para 0,55%, indicando maior pressão inflacionária ao fim do trimestre.
Essas variações sinalizam uma percepção mais cautelosa dos analistas em relação ao comportamento dos preços nos próximos meses, especialmente com a possibilidade de choques temporários em determinados setores ou reajustes sazonais. O IPCA é o principal índice utilizado pelo Banco Central para balizar a política monetária e tem peso determinante nas decisões sobre a taxa básica de juros (Selic).
Preços administrados voltam ao radar
Outra frente que voltou a chamar atenção dos economistas são os chamados preços administrados — itens cuja correção depende de decisões governamentais ou contratos regulados, como tarifas de energia elétrica, combustíveis, transporte público e planos de saúde.
A mediana das projeções do Focus para esses preços em 2025 subiu de 4,40% para 4,64%. Um mês antes, a estimativa era ainda menor, de 4,33%. A expectativa para 2026 também foi ajustada, mas dessa vez para baixo, caindo de 4,29% para 4,19%. Há quatro semanas, a previsão era de 4,31%.
Apesar do movimento de alta nas projeções do mercado, o Banco Central mantém suas estimativas mais contidas. Conforme o último ciclo de comunicações do Comitê de Política Monetária (Copom), a instituição projeta uma inflação de 3,8% para os preços administrados em 2025 e de 4,1% em 2026.
Essas discrepâncias entre as expectativas do mercado e os números oficiais indicam um cenário de incerteza, especialmente diante dos desafios fiscais e regulatórios que o governo pode enfrentar nos próximos meses. A política de controle e reajuste desses preços — geralmente mais rígida — tende a impactar diretamente no custo de vida da população e no comportamento inflacionário agregado.
Impacto nas decisões do Copom
As atualizações do relatório Focus são acompanhadas de perto pelo Banco Central, que utiliza as projeções como insumo para avaliar a necessidade de ajustes na taxa Selic. A elevação da expectativa inflacionária no curto prazo pode reforçar o tom mais conservador da autoridade monetária, dificultando cortes adicionais na taxa de juros ainda em 2025.
Se confirmadas, essas projeções também podem influenciar a trajetória da inflação em 2026, além de interferir na credibilidade do regime de metas inflacionárias. As variações nos preços administrados, por sua vez, seguem como um ponto de atenção, dado seu potencial de gerar efeitos indiretos sobre os demais preços da economia.
