
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar neste domingo (3) as tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, classificando como "inaceitável" o uso de justificativas políticas, como a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, para prejudicar economicamente o país. Segundo ele, o Brasil tem “tamanho, postura e interesses” para negociar de forma equilibrada com qualquer potência internacional.

“O Brasil hoje não é tão dependente quanto já foi dos Estados Unidos. Temos uma relação comercial muito mais ampla, com o mundo inteiro. E nós temos o que negociar”, afirmou Lula durante discurso no 17º Encontro Nacional do PT, em Brasília.
Propostas já estão na mesa
O presidente destacou que o governo brasileiro já apresentou propostas aos EUA e espera um diálogo respeitoso e de igual para igual. “O Brasil não é uma republiqueta. Tentar colocar assunto político para nos taxar economicamente é inaceitável”, disse, em referência direta ao pacote de tarifas de 50% anunciado pelo governo de Donald Trump, que entra em vigor em 6 de agosto.
“Quero saber o que é que eu faço daqui para frente. E eles têm que saber que temos o que negociar. Temos postura, temos interesses econômicos e políticos”, reforçou.
Críticas ao unilateralismo de Trump
Lula acusou o presidente norte-americano de tentar enfraquecer o multilateralismo nas relações comerciais globais, ao defender negociações bilaterais em vez de acordos coletivos. “Ele quer a volta da negociação país por país. Um país pequeno negociar com os Estados Unidos é como um trabalhador sozinho enfrentar o patrão numa fábrica com 80 mil funcionários. O acordo é leonino”, disse.
A fala reforça a visão do presidente brasileiro de que negociações internacionais devem seguir padrões justos, com regras claras e participação igualitária entre os países, independentemente do seu tamanho ou poder econômico.
Moeda alternativa ao dólar
Lula também reafirmou o compromisso com a construção de moedas alternativas ao dólar para o comércio internacional. A proposta, que vem sendo discutida em fóruns como os BRICS e o Mercosul, tem sido alvo de críticas por parte de Trump, mas o presidente brasileiro disse que essa é uma pauta antiga e estratégica para ampliar a autonomia econômica dos países em desenvolvimento.
“Não vou abrir mão de achar que a gente precisa procurar construir uma moeda alternativa. Não preciso ficar subordinado ao dólar. E eu não estou falando isso agora. Em 2004, fizemos isso com a Argentina”, relembrou.
Brasil não busca confronto, mas tem postura
Lula encerrou sua fala reiterando que o Brasil não deseja confronto com nenhuma nação, mas também não se curvará diante de pressões externas. “Este país é de paz. Quem quiser confusão conosco, pode saber que não queremos brigar. Agora, não pensem que nós temos medo.”
A fala do presidente ocorre em meio ao acirramento das tensões diplomáticas com os EUA, após articulação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) com aliados de Donald Trump. A pressão resultou em sanções econômicas contra o Brasil e na aplicação de tarifas sobre exportações nacionais, como parte de uma ofensiva política ligada à defesa do ex-presidente Bolsonaro, réu por tentativa de golpe.
