
No terceiro trimestre de 2024, os números da Sabesp causaram surpresa — e uma certa dose de perplexidade. Com um lucro ajustado que disparou 622%, somando R$ 6,111 bilhões, a empresa paulista de saneamento, que já é conhecida por seu tamanho e influência no setor, ultrapassou as previsões mais otimistas. Os resultados de julho a setembro deixaram analistas e investidores questionando se o aumento expressivo tem base sólida ou se a estratégia será sustentável em longo prazo.

O resultado ajustado, que elimina efeitos extraordinários e a chamada margem de construção, representa um crescimento quase inacreditável de 622% em relação ao mesmo período de 2023, quando o lucro líquido ajustado havia sido de R$ 846 milhões. Desconsiderando os fatores extraordinários, o lucro também não decepcionou: foram R$ 1,173 bilhões — um salto de 38,6% comparado ao mesmo período no ano anterior.
No centro do que parece ser uma virada está o Ebitda ajustado (um índice que avalia o desempenho operacional excluindo despesas financeiras), que saltou para R$ 10,586 bilhões, representando um aumento de 343,6% sobre o ano passado. A receita operacional líquida chegou a R$ 14,997 bilhões, uma elevação de 132% — números que sugerem uma receita quase que duplicada. A empresa conseguiu manter, ao menos até o momento, um equilíbrio entre expandir receita e cortar custos em um setor que, tradicionalmente, sofre com margens estreitas e altos investimentos.
Especialistas de mercado estão cautelosos, porém. Em um setor onde investimentos constantes em infraestrutura e manutenção são obrigatórios, alguns se perguntam se a Sabesp conseguiu o milagre do lucro na base da eficiência ou se há outro fator que ajudará a compor o cenário completo mais adiante. A falta de clareza em alguns dos métodos de corte de custos da companhia ainda não apazigua todos os ânimos, e os questionamentos sobre sustentabilidade dos números ficam no ar. O que os analistas sabem é que a Sabesp, ao menos por enquanto, lançou um número que impressiona.
Esses resultados são vistos como um passo importante para a empresa, que tenta equilibrar seu papel como concessionária estatal em um mercado de infraestrutura cada vez mais pressionado. Em um setor em que os dividendos dependem de um complicado jogo de expansão, melhoria de serviços e um delicado jogo de economia política, a Sabesp aparenta ter, no mínimo, criado uma narrativa de sucesso financeiro para 2024.
