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ECONOMIA

'Lula precisa negociar com Trump', dizem lideranças do MS após tarifaço dos EUA

Governador Eduardo Riedel e empresários criticam postura do presidente brasileiro e defendem diálogo direto para conter prejuízos com aumento de tarifas

7 agosto 2025 - 08h40Eduardo Laguna, enviado especial*
O governador do Estado, Eduardo Riedel e o presidente da Fiems, Sérgio Longen
O governador do Estado, Eduardo Riedel e o presidente da Fiems, Sérgio Longen - (Foto: Divulgação/Fiems)

Lideranças do Mato Grosso do Sul cobraram nesta quinta-feira (7), durante evento empresarial em Mumbai, na Índia, uma ação mais direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva frente ao aumento de tarifas dos Estados Unidos contra produtos brasileiros. A avaliação é de que o governo federal está politizando um problema comercial que poderia ser enfrentado com mais pragmatismo.

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O tema veio à tona no fórum internacional promovido pelo Lide, que reuniu empresários e representantes do setor público e privado do Brasil e da Índia. O governador sul-mato-grossense, Eduardo Riedel (PSDB), criticou a falta de uma iniciativa presidencial para abrir diálogo com o ex-presidente Donald Trump, possível retorno à Casa Branca, e que já indicou abertura para conversas.

“Acho que o governo brasileiro tem que sentar para negociar. É o único caminho para a gente buscar as alternativas. Vejo espaço de negociação, sim. É uma pena que a gente esteja politizando muito esse assunto”, declarou Riedel em entrevista a jornalistas.

Na quarta-feira (6), em entrevista à agência Reuters, Lula afirmou que não pretende fazer uma ligação a Trump para discutir as tarifas, alegando que o republicano não demonstra disposição para conversar. “Não vou me humilhar”, disse o presidente.

Mas a negativa de Lula não foi bem recebida por setores da indústria. Para Riedel, a resposta deveria ser diferente: “Trump já deu um sinal: 'quero receber uma ligação'. Aí, Lula não liga. Acho que é uma discussão que não pode ser levada nesse tom, tem que ser levada de maneira mais pragmática, mais objetiva.”

A cobrança por um posicionamento mais firme também veio do setor industrial. O presidente da Federação das Indústrias do Mato Grosso do Sul (Fiems), Sérgio Longen, afirmou que o governo federal falhou ao não adotar uma postura diplomática mais contundente.

“Eu entendo que o presidente e o vice-presidente Geraldo Alckmin deveriam fazer uma ação mais incisiva com o governo americano, tipo subir no avião e bater na porta”, disse Longen, que também é vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e acompanha a comitiva de Riedel na Ásia.

Longen argumenta que a reação do Planalto foi contaminada por motivações políticas, em um momento em que o setor produtivo sofre com impactos reais da medida norte-americana.

“Muitas vezes, o governo também coloca na mesa a política. É o que nós, empresários, estamos percebendo. O governo federal poderia ter tido outra ação nas tarifas americanas”, afirmou.

Carnes e peixes entre os produtos mais atingidos

O aumento das tarifas imposto pelos Estados Unidos afeta diretamente a economia do Mato Grosso do Sul, com impacto especialmente forte sobre a produção de carne bovina e a indústria pesqueira. Os dois setores estão entre os principais exportadores do estado para o mercado norte-americano e agora enfrentam a ameaça de retração por conta do encarecimento dos produtos no exterior.

Para tentar mitigar os prejuízos, Riedel cumpre uma extensa agenda de compromissos internacionais com o objetivo de abrir novos mercados para os produtores sul-mato-grossenses. Além de participar do fórum do Lide, o governador já avançou em negociações para um acordo de cooperação com universidades em Mumbai.

A viagem continua com paradas no Japão e em Singapura, onde Riedel se reunirá com investidores e empresários que já atuam ou têm interesse em ampliar os negócios no Mato Grosso do Sul.

As críticas à ausência de contato direto com Trump têm um pano de fundo mais amplo: o temor de que o Brasil perca competitividade internacional em setores estratégicos. A leitura entre governadores e empresários é que uma postura mais diplomática, mesmo diante de adversários políticos, pode fazer diferença.

“O presidente Lula não precisa concordar com Trump, mas pode conversar. É do interesse do país. Negociar é parte da política internacional, principalmente em um contexto econômico global tão instável”, afirmou um empresário do setor frigorífico que preferiu não se identificar.

Nos bastidores, há a percepção de que a resistência em abrir canal de diálogo direto com Trump pode ser uma resposta ao histórico de confrontos entre os dois. Contudo, aliados do agronegócio acreditam que o momento pede menos ideologia e mais diplomacia.

Riedel evitou atacar diretamente o governo federal, mas reforçou a necessidade de colocar os interesses econômicos do país à frente de disputas políticas. Ele defende uma abordagem menos emotiva e mais técnica na condução das relações com os Estados Unidos.

“Temos que trabalhar com pragmatismo. O setor produtivo está sendo prejudicado. Não podemos deixar a política contaminar o debate econômico”, pontuou o governador.

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