
As taxas médias de juros cobradas em operações de crédito no Brasil permaneceram praticamente estáveis em junho, com variações discretas, mas ainda em patamar elevado. De acordo com dados divulgados pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira (29), a média anual das taxas ficou em 31,5%, com redução de apenas 0,1 ponto percentual no mês. Em 12 meses, a alta acumulada é de 3,6 pontos percentuais.

Esse movimento acompanha o ciclo de alta da taxa Selic, atualmente fixada em 15% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom). A Selic é o principal instrumento usado pelo BC para conter a inflação, tornando o crédito mais caro e desestimulando o consumo.
O spread bancário, que mede a diferença entre o custo de captação e a taxa final cobrada dos clientes, também ficou estável, em 20,4 pontos percentuais, com avanço de 1,8 p.p. nos últimos 12 meses.
Crédito às famílias tem juros altos; rotativo ainda ultrapassa 440% ao ano
No crédito livre concedido às famílias, a taxa média anual chegou a 58,3%, mantendo-se estável em relação a maio, mas com aumento de 5,7 p.p. em 12 meses.
Entre as modalidades com maior destaque, o cheque especial subiu para 137,5% ao ano, com elevação de 2,5 p.p. no mês. Já o crédito pessoal não consignado teve aumento de 4,2 p.p. em junho, alcançando 108,6% ao ano.
O cartão de crédito rotativo teve um raro recuo de 7,9 p.p. no mês, mas ainda registra uma taxa exorbitante de 441,4% ao ano, com crescimento de 12,7 p.p. em 12 meses. Essa modalidade é acionada quando o consumidor paga apenas o valor mínimo da fatura e passa a acumular juros até a quitação da dívida.
Já no cartão de crédito parcelado, os juros subiram 1,4 p.p. no mês, atingindo 182,5% ao ano, mas permaneceram estáveis na comparação anual.
Para as empresas, a taxa média do crédito livre foi de 24,3% ao ano, com leve aumento de 0,1 p.p. no mês e 3,5 p.p. em 12 meses.
Crédito direcionado também mostra alta moderada
No segmento de crédito direcionado, onde os recursos têm destinação específica (como habitação e agricultura), os juros para pessoas físicas ficaram em 11,1% ao ano, com queda de 0,2 p.p. no mês e alta de 1 p.p. em 12 meses.
Para empresas, a taxa caiu 0,6 p.p. no mês, mas subiu 1,7 p.p. no acumulado do ano, fechando em 14,1% ao ano. A média geral do crédito direcionado ficou em 11,8%.
Concessão e estoque de crédito
As concessões de crédito em junho somaram R$ 636,9 bilhões, com retração de 3,1% em relação a maio. As operações com empresas caíram 7,5%, enquanto o crédito às famílias subiu 1,4%.
O estoque total de crédito chegou a R$ 6,685 trilhões, crescimento de 0,5% no mês, puxado por aumentos de 0,6% para empresas e 0,4% para pessoas físicas.
Em 12 meses, o crédito total cresceu 10,7%, ritmo levemente inferior aos 11,8% registrados em maio.
O crédito ampliado ao setor não financeiro — que inclui fontes além do sistema bancário, como títulos públicos e dívidas externas — atingiu R$ 19,3 trilhões, com alta de 0,9% no mês. Destaque para o crescimento de 2,9% nos títulos públicos e 2,1% nos títulos securitizados.
Endividamento e inadimplência das famílias
A inadimplência geral, considerada a partir de atrasos acima de 90 dias, manteve-se estável em 3,6%. Para pessoas físicas, o índice foi de 4,3% e, para jurídicas, 2,4%.
O endividamento das famílias, que relaciona o total de dívidas com a renda acumulada em 12 meses, ficou em 49% em maio, com alta de 0,1 p.p. no mês e 1,4 p.p. em 12 meses.
Já o comprometimento da renda — parcela do rendimento destinada ao pagamento de dívidas — atingiu 27,8%, com aumento de 0,4 p.p. em um mês e 1,9 p.p. em 12 meses.
Os dados de endividamento têm defasagem por utilizarem informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE.
