Grupo Feitosa de Comunicação
(67) 99974-5440
(67) 3317-7890
11 de dezembro de 2025 - 16h32
sesi
ECONOMIA E POLÍTICA

Em despedida da Fiesp, Josué critica lobby empresarial e diz sair mais liberal

Presidente da entidade afirma que Congresso favorece grupos de pressão e que reforma tributária desconsidera o setor produtivo

10 dezembro 2025 - 16h55Eduardo Laguna
Josué Gomes, presidente da Fiesp, critica influência de lobbies corporativos no Congresso e defende reforma isonômica.
Josué Gomes, presidente da Fiesp, critica influência de lobbies corporativos no Congresso e defende reforma isonômica. - (Foto: Imagem ilustrativa/A Crítica)

A poucos dias de encerrar seu mandato à frente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o empresário Josué Gomes da Silva fez duras críticas ao ambiente político e econômico do país, com foco na atuação do Congresso Nacional e no fortalecimento de lobbies corporativos. Durante café da manhã com jornalistas nesta quarta-feira, 10, ele afirmou que deixa o cargo com uma visão ainda mais liberal do que quando assumiu a presidência da entidade.

Canal WhatsApp

"Estou quase abraçando o discurso ultraliberal. Eu saí da Fiesp mais liberal do que quando entrei. Sempre fui liberal, mas me desanimei com a capacidade do Estado em agir corretamente", afirmou Josué. Segundo ele, o Estado brasileiro tem atuado de forma seletiva, moldando políticas públicas de acordo com a força dos grupos de pressão. "Ele pode agir corretamente para aqueles grupos de pressão, mas não para toda a economia."

O principal exemplo citado por Josué para ilustrar essa distorção foi a recente reforma tributária, da qual a Fiesp participou ativamente, mas com resultados que considerou decepcionantes. A entidade defendia um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) com teto de 25%, mas acabou vendo a proposta avançar com diversas exceções, que, segundo ele, favorecem setores mais articulados politicamente.

O resultado, de acordo com Josué, foi uma distorção que penaliza setores produtivos com menos força de lobby. "Setores com menor capacidade de articulação política vão pagar uma alíquota maior, de 28,5%, do IVA. Isso estimula a sonegação, porque 28,5% é um prêmio muito grande para quem sonega. Se fosse 20%, era um prêmio menor", avaliou.

Outro ponto que marcou o discurso de despedida foi a crítica ao que Josué chamou de “Síndrome de Estocolmo” das entidades industriais, em referência à identificação de vítimas com seus algozes. Segundo ele, o setor produtivo passou a repetir o discurso do setor financeiro, mesmo quando esse discurso não atende aos seus próprios interesses.

"É comum, em qualquer entidade de classe empresarial, a defesa dos mesmos pontos que o setor financeiro sempre defende, como se o problema da taxa de juros fosse apenas o gasto público. A gente repete esse mantra como reféns apaixonados pelo sequestrador", ironizou. Para ele, esse alinhamento cego prejudica o debate econômico e contribui para a estagnação de propostas que realmente beneficiariam a indústria nacional.

A experiência à frente da Fiesp, uma das maiores entidades empresariais do país, parece ter reforçado o ceticismo de Josué em relação à capacidade do Estado de conduzir políticas amplas e isonômicas. "Estou cético quanto à capacidade de o Estado atuar de maneira adequada para o desenvolvimento nacional. Talvez seja melhor tirar de fato o Estado, tornar tudo isonômico, não dar benefício para ninguém e deixar que cada um se vire", declarou.

Ao longo de seu mandato, Josué buscou reposicionar a Fiesp com uma agenda mais voltada para a produtividade e a inovação, mas enfrentou resistências internas e externas, principalmente em momentos de forte polarização política e econômica.

Josué assumiu a presidência da Fiesp em 2022 com a promessa de modernizar a entidade e torná-la mais representativa das demandas contemporâneas da indústria. Seu afastamento do discurso político tradicional, porém, gerou atritos com alas mais conservadoras da federação.

Apesar das críticas e da sensação de frustração com os rumos da política econômica, Josué deixa o cargo com a convicção de que a atuação institucional precisa ser repensada, especialmente frente à força crescente de setores com maior influência sobre o Legislativo.

Assine a Newsletter
Banner Whatsapp Desktop