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Era um domingo, 2 de novembro de 2008, quando um jato Legacy, vindo de Brasília, pousou discretamente no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Naquele voo, estavam Roberto Setubal, então presidente do Itaú, e Pedro Moreira Salles, presidente do Unibanco. Os dois banqueiros, acompanhados de alguns dos seus principais executivos, seguiram diretamente para um local que eles chamavam, com um certo humor cifrado, de "Hotel". Na verdade, o destino era a mansão de Israel Vainboim, braço direito da família Moreira Salles, no bairro do Morumbi. Ali, na presença de cerca de 40 pessoas, incluindo parentes e executivos próximos, um contrato de apenas 14 páginas foi assinado. Nascia assim o Itaú Unibanco, o maior banco do hemisfério sul, com ativos totais de R$ 575 bilhões.

Esses detalhes reveladores foram trazidos à tona pelo canal "Curioso Mercado", no YouTube, em seu vídeo "Itaú x Unibanco: a fusão de MEIO TRILHÃO de reais | Parte 3". A série de vídeos do canal mergulha nos bastidores de uma das maiores fusões bancárias da história do Brasil, explicando como a união dos dois gigantes financeiros transformou o mercado brasileiro e latino-americano.
Confira:
Essa fusão, celebrada com champanhe e bem-casados, foi o desfecho de uma negociação que havia se intensificado nos últimos meses, impulsionada tanto pelo cenário internacional de crise quanto pela percepção de que, no Brasil, o setor bancário estava à beira de uma transformação profunda. Em 2007, o mercado financeiro foi sacudido pela notícia de que o banco holandês ABN Amro, que controlava o Banco Real no Brasil, havia sido vendido por mais de US$ 100 bilhões a um consórcio liderado pelo Santander. De repente, a presença de um novo player global no mercado brasileiro se tornou uma realidade palpável e preocupante para os banqueiros nacionais.
Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, ambos filhos de famílias tradicionais do setor bancário, já haviam explorado a ideia de uma fusão em outras ocasiões. Mas foi diante da iminente expansão do Santander no Brasil que as conversas ganharam um novo fôlego. Decididos a manter as negociações longe dos olhos atentos de concorrentes e da mídia, optaram por encontros discretos na casa de Vainboim. Ali, sob sigilo absoluto, acertaram os detalhes da operação, discutindo questões cruciais como nome, controle e liderança.
"O nome tem que ser Unibanco, né? O CEO tem que ser você, Roberto", teria dito Pedro, numa demonstração de que estava disposto a abrir mão da presidência executiva para que o negócio se concretizasse. A parceria, que muitos na época especularam ser na verdade uma aquisição disfarçada, foi estrategicamente apresentada como uma fusão de iguais, uma operação de controle compartilhado que daria origem a um gigante bancário inédito na América Latina.
Mas a aceleração desse processo não se deu apenas pelo contexto nacional. A crise financeira de 2008, com a quebra de instituições financeiras nos Estados Unidos e a queda abrupta das bolsas de valores ao redor do mundo, criou um ambiente de incerteza que fez com que muitos negócios fossem repensados ou abandonados. No Brasil, no entanto, onde a exposição a ativos problemáticos era menor, a consolidação de dois bancos sólidos como Itaú e Unibanco parecia uma jogada lógica e necessária.
Olavo Setubal, patriarca do Itaú, foi um dos grandes facilitadores da operação. Reconhecendo a importância da fusão, decidiu abrir mão do posto de presidente do conselho do banco para Pedro Moreira Salles, gesto que selou a confiança entre as partes. “Vou atrapalhar estando ali”, teria dito, mostrando uma lucidez rara em momentos decisivos.
O resultado da fusão foi rapidamente percebido pelo mercado. Em pouco tempo, as ações de ambos os bancos começaram a se recuperar das perdas acumuladas durante a crise. O novo grupo, que surgia como o maior banco brasileiro e o quarto maior da América Latina, superava rapidamente os desafios iniciais. Em 2009, o lucro líquido do Itaú Unibanco já havia alcançado R$ 10,5 bilhões, um crescimento significativo em relação aos anos anteriores.
A promessa de internacionalização, um dos pilares do discurso inicial dos banqueiros, não se concretizou da forma imaginada. Apesar disso, o Itaú Unibanco se manteve no topo do setor bancário nacional, continuando a expandir suas operações por meio de aquisições estratégicas, como a compra da operação brasileira do Citibank em 2016 e a participação na XP Investimentos em 2017.
Hoje, passados mais de 15 anos desde a fusão, o Itaú Unibanco continua sendo o maior banco em ativos da América Latina, com R$ 2,7 trilhões sob sua gestão e um lucro líquido de R$ 35,6 bilhões em 2023. Mesmo tendo perdido o posto de banco mais valioso para o Nubank, sua hegemonia no setor bancário brasileiro permanece inquestionável. Com um modelo de cogestão que ainda é visto como inovador, a parceria entre as famílias Setubal e Moreira Salles é um exemplo de como o alinhamento de interesses e a confiança mútua podem transformar o cenário econômico de um país.
