
A indústria têxtil de Mato Grosso do Sul vive um momento de fortalecimento e transformação, combinando crescimento econômico, inclusão social e investimentos em capacitação. Com 225 empresas ativas e mais de 3 mil empregos formais gerados, o setor se apoia em três pilares principais: a consolidação da Rota Bioceânica, que promete ampliar o alcance internacional dos produtos locais; a instalação de novas fábricas em cidades do interior; e a aposta em qualificação profissional como estratégia de desenvolvimento sustentável.

Em 2024, segundo dados do Panorama Geral da Indústria da Confecção, o setor empregava 3.118 pessoas, com salário médio de R$ 1.680. Campo Grande responde por mais da metade dessas vagas (52,5%), sendo que a maior parte das funções é ocupada por mulheres, especialmente nas atividades de costura e apoio à produção profissões que, em sua maioria, exigem ensino médio completo.
Para a presidente do Sindvest-MS (Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem de MS), Idalina Zanolli, a Rota Bioceânica é uma oportunidade concreta para o Estado se posicionar com mais competitividade no mercado nacional e internacional. "A rota é uma chance de reduzir custos logísticos, ampliar mercados e atrair novos investimentos. Empresas que hoje não exportam poderão começar a fazê-lo", afirma. Ela acredita que a infraestrutura criada pela rota desperta o interesse de grandes grupos empresariais e coloca Campo Grande como um polo estratégico para operações de exportação.
Outro ponto destacado por Idalina é a força de trabalho predominantemente feminina no setor. Com a consolidação da rota, ela acredita que o número de empregos pode crescer de forma significativa, ampliando as oportunidades, especialmente para as mulheres.

Nova unidade da Nilcatex aquece economia local em Naviraí - Um reflexo direto desse cenário é a chegada da Nilcatex, indústria de confecção que decidiu expandir suas operações para o município de Naviraí, no sul do Estado. A escolha foi estratégica: "Observamos ali a oportunidade de resgatar uma mão de obra já treinada, com experiência no setor. Esse foi o principal motivo que nos levou a escolher o município como sede para mais uma filial", explica a sócia-diretora Simone de Oliveira.
A Nilcatex já mantém uma fábrica em Campo Grande, onde começou em 2005 em um pequeno galpão de 500 metros quadrados. Com o apoio da prefeitura da capital, que cedeu um terreno de 20 mil metros quadrados, a empresa construiu sua atual sede, com 6.300 metros quadrados, e hoje emprega 130 pessoas diretamente. No passado, esse número chegou a 400 colaboradores, e a expectativa, segundo Simone, é de retomar esse patamar.
Em Naviraí, a operação ainda é recente e funciona em um espaço provisório de 500 metros quadrados, também cedido pelo poder público. O plano, no entanto, é ambicioso: a empresa quer atingir 115 postos de trabalho, sendo 70 destinados a costureiras, e já projeta a construção de uma nova unidade com 6 mil metros quadrados.

Falta de mão de obra qualificada é desafio comum no setor - O crescimento da Nilcatex, tanto em Campo Grande quanto em Naviraí, esbarra em um obstáculo frequente no setor têxtil: a escassez de profissionais capacitados. Para enfrentar esse desafio, a empresa optou por uma abordagem estratégica, ao mesmo tempo socialmente responsável, ao firmar parceria com a Prefeitura de Naviraí, o Senai e a Funtrab para criar um curso específico de formação de costureiras.
A gerente de Recursos Humanos da Nilcatex, Tailene Quintino, lembra que o início da operação em Naviraí foi desafiador, mas gratificante. "Fomos para um município que ainda não conhecíamos, carente de indústrias. Abrimos as portas com grande entusiasmo e, hoje, já contamos com 37 colaboradores. Nossa meta é chegar a 115 contratados", conta. Segundo ela, a formação de costureiras é o ponto mais crítico, o que motivou a empresa a liderar uma ação que beneficie tanto os seus processos quanto a cidade como um todo. "Enxergamos esse desafio não apenas do ponto de vista da empresa, mas também sob uma perspectiva social e municipal."
Além dos resultados econômicos, a Nilcatex também se destaca pela valorização de suas colaboradoras. A funcionária Tatiana Oliveira Reis relata que o clima organizacional é um dos diferenciais da empresa: "Tenho muita gratidão pela oportunidade que a empresa me deu, e que vem dando a outras mulheres. Assim como eu, elas viram que a Nilcatex é uma empresa grande, estruturada e que valoriza muito seus funcionários. E isso se confirma no dia a dia".
Kibela aposta em moda inclusiva e qualificação interna - Outra empresa que se consolida no cenário regional é a Kibela, especializada em moda praia, fitness e ballet. Com lojas em Sinop, Cuiabá, Campo Grande e Dourados, a marca se destaca pelo crescimento acelerado e pela preocupação em incluir diferentes corpos e perfis em suas coleções inclusive com modelagens plus size.
A empresária Irlanda Cabral Coelho, sócia-proprietária da Kibela, lembra que a trajetória começou em 2003 de forma simples, com a produção de lingerie. Com o tempo, ao lado do esposo e sócio, a empresa migrou para o segmento de moda praia. "Foi um grande desafio, porque não havia mão de obra qualificada para esse tipo de confecção em Campo Grande. Tivemos que ensinar tudo do zero", relembra.
Apaixonada pela costura desde a infância, Irlanda reforça que a falta de cursos acessíveis ainda é um dos principais entraves para o desenvolvimento da indústria da moda no interior do país. "Muitos não têm condições financeiras para arcar com a formação. Formar profissionais é uma das chaves para o crescimento do setor fora dos grandes centros urbanos."

Governo investe em capacitação com o programa MS Qualifica - Para ampliar o acesso à qualificação e fomentar o empreendedorismo, o Governo do Estado vem apostando em políticas públicas como o MS Qualifica. Em parceria com a Semadesc, a Funtrab e o Senai, o programa oferece cursos gratuitos voltados à inclusão produtiva. A mais recente iniciativa é o curso Costura Sob Medida, com 60 vagas distribuídas em três turmas, que será realizado a partir de 1º de agosto, na carreta-escola do Senai, instalada no CRAS do Jardim Vida Nova, em Campo Grande.
Para a diretora-presidente da Funtrab, Marina Dobashi, a iniciativa tem forte impacto social. "A costura é uma habilidade tradicional, mas que continua atual. Este curso oferece, além da formação técnica, a chance real de empreender ou conquistar um emprego com mais autonomia", afirma. Ela destaca ainda a atuação das 36 Casas do Trabalhador espalhadas pelo Estado, que fazem a ponte entre empresas e candidatos.
Com foco especial em públicos vulneráveis e regiões do interior, o MS Qualifica reforça o papel do Estado como agente de transformação social e desenvolvimento regional, garantindo que o crescimento econômico do setor têxtil venha acompanhado de inclusão e oportunidades.
